QUE HISTÓRIA É ESSA

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Sílvio Bernardes
smabernardes@hotmail.com

Nonadas, nonadas!

Esturdia a mocinha da loja achou estranha a minha fala: “a prosa tá boa, mas eu vou picar a mula”, disse eu. Seus olhos curiosos deram-me uma flechada com uma baita interrogação: “picar a mula?”. E eu falei: “é, tipo assim: cascar no pé, dar o pira, queimar chão, rapar na perna, cascar fora, pegar a estrada, dar no pé… Ir-se embora (em boa hora) E tem aquela história do macaco e da onça. Pergunta o macaco à amiga felina: “Aoncevai?” E ela: “vou ali, gurila memo eu volto”. Quem conta um conto aumenta um ponto, já dizia minha mãe. Eu conto com você, mas não sou de contar potoca, de catear marra. Não sou papudo. Não amarro um boi com embira e não ponho a mão em cumbuca. Sou macaco véio. Meu povo é tudo gente daqui, simples e de bem com todos. Farinha do mesmo saco. Se tem fulano de tal que acha que é o melhor, é porque é metido a bom de cela, arrastador de mala, emgabeladô. Mas, a gente sabe que o tal não aguenta uma gata pelo rabo. Não é flor que se cheire. Nem é água de beber.

O povo daqui tem a maior história comigo. Seu Manel, homem já de idade, vive me gavando. Diz que eu sou isso, que eu sou aquilo. Quem faz a fama, deita na cama. A cama é de palha, mas é limpinha. Macia. Casa de porta e janela. Cumeeira alta, telhas francesas. Em riba, a chaminé sempre em função leva ao céu a fumaça dos modos de cumê – almoço e janta – e o café da tarde. Café da tarde é de lei, tem que ter o programa Tarde Sertaneja, na rádia do Mineirinho. E o café? Café-com-pão, manteiga não, café-com-pão… O trem cantava assim nos trilhos da nossa meninice. Mas no café da gente simples era broa de fubá, biscoito frito, fubá suado, bolinho de chuva, porvio refogado. Que gostosura! Bença, mãe! Bença, pai!

Cadê o toucinho que tava aqui?/ o gato comeu/ cadê o gato?/ foi pro mato/ cadê o mato?… Maria foi ao mato buscar lenha. No mato, dois meninos tentavam pegar uma égua. Um dos meninos carregava uma cuia com milho. O outro, levava uma corda, à guisa de cabresto. Alguém viu uma égua por aí? Não, eu vi foi o fio de uma égua… um potrinho engraçadinho. Cavalos, burros… enquanto existir cavalo, São Jorge não anda a pé. De que cor que é o cavalo branco do Napoleão? Não vai me dizer que é da cor de burro fugido?. Ou seria corro de burro quando foge? Mas, Napoleão não andava a cavalo, ele tinha hemorroidas.

Eu tava ali de bobeira, na beira da rua, quando a fé… estourou uma boiada. Eh trem bão, sô! Mió que estouro de boiada, é vaca na invernada, circo de tourada ou queijo com goiabada. Mas eu tenho medo de vaca braba, a valença é que tem sempre uma cerca de arame para nos proteger. De primeiro, a gente convivia com cada perigo, que eu vou te contar: era vaca braba, cachorro zangado, pedrada de homem doido, surra da mãe, sova do pai, tiro de sal no quintal do vizinho, bomba na escola. Quem tomava bomba, era chamado de repetente. “Fulano de tal vai para a turma dos repetentes. Repetente!” Curuis!