Sílvio Bernardes
“(…) Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas.” (GEORGE ORWELL – “A revolução dos bichos”, p.13)
Nosso irmão Francisco de Assis é o protetor dos animais e o dia 4 de outubro é dedicado ao Santo e aos bichos de todas as espécies. Os animais fazem parte de nossa história e a memória do povo os mantém vivos em lembranças – algumas vezes – muito divertidas. Quem há de esquecer a Zebrinha da Loteria Esportiva, tão simpática e indefectível? Criada pelo chargista mineiro Borjalo (pseudônimo de Mauro Borja Lopes), a zebrinha aparecia no programa “Fantástico” da Rede Globo nas noites de domingo e em pouco tempo tornou-se querida de toda a família brasileira. Um colosso de outros bichos também figurava nas telas da televisão (em filmes, séries, programas e propagandas) para a alegria da meninada, como o Gato Eveready, o cachorrinho linguiça da Cofap, a Chita do Tarzan – de Ron Ely –, o cão Lobo do “Vigilante Rodoviário”, o ratinho Topo Giggio, o cão Rin-Tin-Tin e a cadela Lassie.
Dos animais da minha memória nenhum me traz mais emoção do que a cadelinha Laika que os russos enfiaram no Sputnik 2 para uma viagem experimental à órbita, no tempo da corrida espacial empreendida pelos EUA e URSS. Laika, o primeiro ser vivo nesse tipo de experiência, morreu no espaço poucas horas depois do lançamento, mas a corrida continuou, com bichos e gente. Não sei se eu chorei pela cadelinha Laika naquela época, mas hoje, ao ver aquelas imagens antigas, os seus olhinhos que perguntavam “por que eu, camaradas?”, não consigo conter a emoção. Foi uma bruta sacanagem dos vermelhos.
Mas, de primeiro havia outros animais que nos alegravam à beça, como o ratinho Sig do Pasquim – creio que era o mesmo “rato que ruge” da editora Codecri. E poderíamos reproduzir a arca de Noé com suas tantas espécimes: o macaco Tião, que se tornou político no Rio de Janeiro; o papagaio de pirata do rum Montilla, a galinha azul do caldo Maggi, o elefante da Cica, o tigre da Esso, o leão da Metro, o tatu da cachaça Tatuzinho, o pintinho amarelinho das cuecas Zorba e o rinoceronte Cacareco. Nascido no zoológico de São Paulo, Cacareco foi, em fins dos anos de 1950, indicado para as eleições da câmara municipal e recebeu 100 mil votos. Foi, com certeza, o mais votado daquele pleito e um dos mais retumbantes protestos contra a falta de opção política. E, não podemos deixar de lembrar ainda dos animais mascotes dos nossos times de futebol: o galo, o coelho e a raposa, tão insensivelmente maltratados por um ou por outro adversário. Como esquecer a extravagante lagartixa símbolo do Bloco de Carnaval Brexó (e, depois, do incoercível “Jornal Brexó”), surgida de uma viagem muito doida de jovens irreverentes, em fins dos anos de 1970? Outros bichos por aqui passearam (e passeiam ainda) e, alguns, talvez tivessem até vergonha de não dignificarem o seu nome animal. Assim, de memória, lembro-me do Luís Tatu e do Zezé Tatu, do Zé Cuei (coelho?), do Iraci Gato, da Maria Gata, do Geraldo Gatão (outro dia eu vi ele, continua alegre e serelepe como um gato), o sargento Leão, o Saracura, o Zé Sabiá, o Inhambu, o “seu” Piriá, o Adelson Gambá, o Zé Rola, o Grilo da Lagoinha, o Tóim Buldogue, o Marreco (não o de Maringá), o Zezé Lagarto…