@toniramosgoncalves*
Sempre que visito uma livraria, ouço pessoas perguntando aos vendedores se uma obra literária é boa ou ruim. Isso me faz questionar: existe livro ruim? Em outras ocasiões, já questionei a preferência dos leitores por literatura americana ou estrangeira, especialmente aqueles best-sellers que rapidamente se tornam febre nacional e figuram na lista dos mais vendidos por semanas.
Sou um leitor com forte preferência pela literatura nacional e, embora reconheça a qualidade de certos livros de autoajuda, sinto uma aversão particular pelos de “coaching”, dos quais evito a todo custo. Essa repulsa é uma limitação minha. Portanto, julgar um livro como bom ou ruim é frequentemente uma experiência pessoal e relativa.
Quanto à literatura brasileira, não devemos criticar severamente nenhum autor. Afinal, o Brasil ainda tem um número reduzido de leitores. Assim, o mais importante é que as pessoas estejam lendo, independentemente do conteúdo. No entanto, não deveríamos também considerar a qualidade da escrita na escolha dos livros?
A verdade é que os autores, bons ou ruins, desempenham um papel crucial no mundo literário, contribuindo para a sustentabilidade das editoras e inspirando futuros leitores e escritores. Por meio de sua popularidade ou até mesmo o anonimato, eles despertam o interesse pela leitura, promovendo o acesso à literatura e aumentando a visibilidade do meio literário em geral.
Críticas a livros ou autores frequentemente visam provocar e atrair a atenção do público, o que pode aumentar as vendas. Hoje em dia, a polêmica tornou-se uma tática quase comum e arriscada para impulsionar carreiras.
Outra questão é a diversidade de livros que invadem nossas livrarias e beneficia as pessoas que escolhem ler o que gostam, independentemente de ser considerado bom ou ruim. Entretanto, questiona-se a predominância de obras estrangeiras, que limita o espaço destinado aos autores brasileiros. As editoras tendem a apostar nos best-sellers americanos, que já são consagrados e bem-sucedidos, evitando assim riscos com escritores ainda desconhecidos.
Com a proliferação de editoras independentes, o mercado literário brasileiro tem se aquecido devido às boas produções literárias. No entanto, a distribuição dessas obras ainda precisa ser aprimorada. As redes sociais têm se mostrado um suporte essencial para dar visibilidade a esses autores. Aqueles que não estão presentes nessas plataformas acabam condenados ao esquecimento.
Além dos autores que vendem, mesmo sem ter qualidade na escrita, é necessário que haja um ambiente que incentive e promova a literatura. Iniciativas como programas educacionais voltados para a leitura, bibliotecas acessíveis (a nossa biblioteca em Itaúna continua fechada), clubes de leitura e eventos literários são essenciais na formação de leitores e escritores. Esses ambientes propiciam o contato com diferentes gêneros literários, incentivam a criatividade e oferecem oportunidades de interação e debate sobre obras literárias.
As discussões sobre a qualidade da literatura são relevantes, mas é importante reconhecer que o valor de um livro varia de acordo com cada leitor. Críticas e elogios podem fomentar conversas saudáveis e incentivar a leitura. Então, é preciso valorizar tanto autores consagrados quanto novos talentos para garantir a diversidade de vozes e perspectivas. A literatura, refletindo a diversidade humana e cultural, deve proporcionar entretenimento, reflexão e aprendizado. Apoiar a leitura em todas as suas formas e iniciativas que ampliem o acesso e a diversidade literária é essencial para o enriquecimento cultural e social de qualquer sociedade.
* Toni Ramos Gonçalves (Não é o Global)
Professor de História, Escritor, Editor, ex-presidente e um dos fundadores da Academia Itaunense de Letras – AILE.