Que história é essa? Um dedo de prosa na barbearia do “seu” João, no armazém do Dico do Osório ou na Farmácia do Agripino

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Sílvio Bernardes

Não faz muito tempo as barbearias eram, também, ponto de encontro de gente folgada – no bom sentido da palavra, se é que você me entende – (aposentados, pensionistas etc.) que queria um dedo de prosa com o dono do lugar e/ou com outros fregueses na mesma situação. As barbearias e, também, as vendinhas de secos e molhados e as farmácias dos conhecidos boticários da minha infância, prestavam-se a esse papel. Nesses lugares os homens – sim, o ambiente era exclusivamente masculino – ficavam horas de papo, jogando conversa fora. Se alguma mulher por ali aparecia, era para dar um recado a algum dos habitués ou para buscar o seu marido, seu irmão, seu pai. Ou, também, para levar o menino para cortar o cabelo à la Príncipe Danilo. Não esquentava lugar. Nas mais das vezes não chegavam a se sentar. E, cá para nós, não tinham barba e nem bigode para fazê-los. É claro que muitos dos frequentadores de barbearia também não os tinham, mas gostavam da prosa boa, onde se falavam de política, de futebol, de pescaria, do custo de vida, de mulheres (claro), muita conversa fiada, muitas histórias. Naqueles tempos em que não havia celular, o povo conversava mesmo, ali, cara a cara, falava tudo, na lata. As conversas eram longas e os dias passavam preguiçosamente, na barbearia do “seu” Joaquim ou do “seu” João – a imponente “Barbaria JK”, no comecinho da Vila Mozart – , do Pimentel lá no Serrado e do Quilospeixe, também no Serrado. No centro da cidade havia a barbearia do Bismark e do seu filho Paulinho; do Dionas; e a do Mauro, entre outras. Perto da Praça do Capeta, tinha o salão do Zezé do Emídio. Em todas elas e, também, em outras inúmeras ambientações de “curtume de cabelo e de fazume de barba”, os homens batiam ponto diariamente. Homens bem penteados, com gumex,  barbas cortadas, cheirando a aqua velva, sempre com suas  conversas engraçadas, notícias assustadoras, informações em primeira mão, auxiliadas – ou não – pelo Heron Domingues e o seu Repórter Esso.

As vendinhas dos tempos de mantimentos à granel e as farmácias dos velhos patrícios santanenses também eram frequentadas pelos homens que queriam prosear. Esses espaços, muitas vezes pequenos, traziam assuntos produzidos pelo cinema do Crispim Magalhães ou do Jair Marinho, pelo footing na Praça da Matriz, pelas incursões na zona boêmia – nos encontros festivos com as meninas do Cici, da Jane, da Zizi, do Derli e da Cacilda –  ou nos bailes do Automóvel Clube.  

Passa ali no armazém do Serafim, na venda do Geraldo Criolando, na do Zé-Como-Vai, na do Dico do Osório, no armazém do Dirésio, no do Raul, no do Gregório, no do Rufino, no do Aristeu. Passa lá na farmácia do Sô Alfredo, do Agripino Lima, do Dirceu, do Bira… Cê vai ver o que é bom pra tosse. Tem um tantão de gente folgada numa prosa que eu vou te contar.

Tê, tinha… mas acabou.