A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma sobretaxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio afetou a relação comercial entre os EUA e outros países, incluindo o Brasil. Recentemente, o governo norte-americano cancelou isenções e cotas, o que impacta diretamente a exportação de aço brasileiro.
Contudo, empresas de Itaúna e do entorno do município afirmam que não deverão ser afetadas pela medida, uma vez que têm uma carteira diversificada de clientes em diferentes países.
O assessor da ArcelorMittal, Alisson Leite, em nota, afirmou que a empresa “considera que ainda é cedo para avaliar os impactos da medida anunciada pelo governo norte-americano, já que medida semelhante foi anunciada pelos Estados Unidos em 2018 e posteriormente ajustada para o regime de hard quota após negociação com o governo brasileiro, atendendo aos interesses tanto das produtoras de aço brasileiras, quanto das americanas.
“Dessa maneira, a empresa confia que os dois governos encontrarão uma solução que seja benéfica para ambos os lados, levando em consideração a cadeia de suprimentos complementar que existe entre os dois países”, diz.
Ainda em nota, a empresa reforça que defende a adoção da hard quota pelo governo brasileiro contra a concorrência desleal do aço importado no país. “A empresa esclarece que o plano de investimentos no Brasil está mantido e nenhum dos projetos tem como foco o mercado norte-americano”, finaliza.
Sem impacto
Em contato com a Belgo-Mineira Bekaert (BMB), que tem uma de suas unidades em Itaúna, uma das maiores produtoras do Brasil de arames para steel cord e bead wire, a empresa respondeu por meio de nota que o anúncio não afeta diretamente a empresa, já que que não tem comércio direto com os EUA. “O grande mercado é o nacional e alguns países da América do Sul, como Chile”.
A reportagem também tentou contato com o Grupo Simec, que além de Itaúna tem usinas siderúrgicas nos estados de São Paulo e Espírito Santo. Além dos estados, o grupo tem atuação também no México, Canadá e Estados Unidos. No entanto, não conseguimos contato com a empresa até o fechamento desta edição.
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Professor da UIT diz que taxação pode trazer prejuízos para mercado
O Jornal S’Passo conversou com o economista Walter Alves Victorino, mestre economia e doutor em Administração pela Universidade Fumec, sobre o cenário atual do comércio exterior e suas implicações para o setor siderúrgico no Brasil, especialmente em Minas Gerais.
Walter que também é professor de economia na Universidade de Itaúna desde 1985, explicou que a sobretaxa vai afetar o estado e empresas produtoras de aço inseridas na região. No seu entendimento, o perfil do estado, como exportador produtos semielaborados, como o aço por exemplo, certamente será afetado pelas medidas impostas pelo Governo Americano.
“A ideia por trás dessas medidas é criar um ambiente favorável aos produtores americanos, que não conseguem competir com o produto brasileiro. São medidas protecionistas. No entanto, acredito que dependendo da habilidade do Governo Brasileiro é possível chegar a um bom termo para ambas as partes”, explica.
Segundo o economista, a estratégia de Donald Trump, faz parte do aspecto negocial que pode ocorrer por meio do convencimento ou por meio da força. “O importante é que as partes estejam desarmadas e dispostas a negociar. O livre comércio é sempre melhor que o protecionismo. Não existe nenhum país no mundo que seja autossuficiente em tudo. Não é a primeira vez que o atual presidente americano toma medidas protecionistas”, pontua.
Walter finaliza explicando que não e só os países exportadores que pagaram a conta de tais medidas. “A sociedade americana também vai pagar boa parte da conta, com maior preço de produtos que tenham componentes importados em sua função de produção (por meio dos componentes importados), mais inflação de custo. Enfim, o multilateralismo é sempre a melhor alternativa para o comércio internacional”.