Acervo histórico e cultural de Itaúna voltará ao museu “Chico Franco”

Iniciativa tomada pela Secretaria Municipal de Cultura em parceria com Codempace pode gerar mais de R$1 milhão de ICMS do Patrimônio Cultural

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No final de 2020, a Prefeitura concluiu a revitalização do Museu Municipal Francisco Manoel Franco, transformando-o em um espaço dedicado a exposições itinerantes, com a instalação de um café. Durante as obras, os objetos pertencentes ao acervo permanente, que resgatam a memória litaunense e foram reunidos ao longo dos anos por meio de diversas doações particulares, foram removidos do espaço e transferidos para outros locais: a galeria Ahmés de Paula Machado, dentro do Espaço Cultural, um cômodo da Biblioteca Municipal Engenheiro Osmário Soares Nogueira e um depósito na Praça de Esportes JK. Há denúncias de que esse material foi acondicionado em ambientes inadequados, e que algumas peças foram danificadas de forma irreversível ou até se perderam. 

O acervo do Museu incluía fotografias dos pioneiros da industrialização do município, equipamentos do Cine Rex, objetos do fotógrafo Benevides Garcia (um dos primeiros a registrar fatos e pessoas de Itaúna), quadros de artistas locais, itens pertencentes ao acervo particular do Coronel Chico Franco, um oratório da capela do Hospital Manoel Gonçalves, do início do século passado, o sino da primeira construção da Igreja Matriz de Sant’Ana, roupas e objetos do Reinado, entre outros. 

Desde 2024, o museu não tem recebido exposições itinerantes e está sendo utilizado apenas como ponto de apoio para o projeto independente “Estação Carburada”, que exibe carros antigos na área externa da edificação. Porém, o contrato firmado com o responsável pelos eventos que previa também a concessão do café foi encerrado recentemente. 

Volta do acervo

O Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural Artístico e Ecológico de Itaúna (Codempace) votou e aprovou o retorno do acervo ao Museu Francisco Manoel Franco. A informação foi confirmada ao Jornal S’Passo pelo Secretário de Cultura, Marcinho Hakuna, que também afirmou que o Museu passou por intervenções recentes e está pronto para receber o acervo de volta. 

Hackuna destacou que boa parte do acervo se perdeu ou sofreu danos devido às intempéries e ao mau acondicionamento, atribuindo a responsabilidade à gestão anterior da Secretaria de Cultura. 

“Contratamos um profissional da área de história, que está realizando a catalogação do acervo, identificando as peças em boa conservação para serem expostas novamente, além de avaliar a relevância histórica de cada item. A expectativa é que, nos próximos meses, possamos reabrir as exposições”, afirmou. 

O secretário também ressaltou que herdou diversos problemas estruturais nos equipamentos culturais, como o teatro Sílvio de Matos, que estava interditado por falta de manutenção, o Museu com o telhado deteriorado e com várias goteiras, além de problemas pontuais na Biblioteca Municipal. “Realizamos uma força-tarefa para solucionar as goteiras do Museu, acionamos a empresa responsável pela reforma da biblioteca para intervenções e o teatro já está funcionando. Foi triste ver esses equipamentos dessa forma, evidenciando a total falta de cuidado com o patrimônio público e com a nossa cultura”, enfatizou. 

Motivação

De acordo com Hakuna, o retorno do acervo ao Museu tem como principal motivação a possibilidade de aumentar a arrecadação para a Cultura, com um repasse de aproximadamente R$1 milhão, oriundo do ICMS Patrimônio Cultural. Este programa estadual de incentivo à preservação do patrimônio cultural permite o repasse de recursos aos municípios que implementam políticas públicas eficazes para a preservação de seu patrimônio cultural. 

Através das rodadas regionais, o Iepha-MG orienta os municípios sobre as políticas de preservação, como a deliberação normativa do CONEP, que estrutura um sistema de análise e pontuação da documentação apresentada pelos municípios participantes do programa ICMS Patrimônio Cultural. 

 “A gestão e a definição das políticas de proteção do patrimônio cultural são responsabilidades dos gestores municipais. O sucesso desta política é comprovado pelo fato de mais de 80% dos municípios mineiros possuírem um Conselho Municipal de Patrimônio Cultural atuante, o que assegura a gestão de seus bens culturais. Por isso, estamos dando voz a esse conselho e cumprindo o que foi decidido por ele”, concluiu o Secretário. 

Fotos dos tipos populares de Itaúna no saguão do Espaço Cultural 

Quem já visitou o Museu Chico Franco provavelmente se lembra das antigas fotografias e dos retratos dos ‘tipos populares’, capturados pelo fotógrafo Osvaldo nas décadas de 1960 e 1970. Figuras como Pedro Sapo, Margarida, Doneta, Sem Condições, Maria Poeira e Geraldo Escovão sempre provocaram histórias pitorescas e, para eternizar esses personagens, suas fotos foram expostas no Museu, onde permaneceram até 2020. 

Atualmente, os porta-retratos estão amontoados junto a outras diversas peças na Galeria Ahmés de Paula Machado, fato que tem gerado críticas dos artistas plásticos da cidade, que perderam o espaço para exposições após o armazenamento das peças do museu. 

Segundo Hakuna, em breve, os retratos dos tipos populares da cidade terão um espaço permanente no saguão do Espaço Cultural Adelino Pereira Quadros, logo na entrada do Teatro Sílvio de Matos. Lá, serão devidamente valorizados e eternizados, como a história merece. 

“Essas figuras marcaram e sempre farão parte da nossa história. Reconhecer isso e mostrar para as futuras gerações é extremamente importante”, afirma Marcinho. 

Peças sacras serão expostas na Capela do Hospital

Após 108 anos de sua fundação, a Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira iniciou a recuperação do antigo hospital. O projeto de restauração permitirá que o atual Centro Administrativo migre para o local recuperado, possibilitando a ampliação do Centro Oncológico do hospital e proporcionando mais conforto aos pacientes. 

Recentemente, a direção da Casa de Caridade solicitou à Secretaria Municipal de Cultura a posse do altar original da capela do antigo hospital, que atualmente se encontra no acervo do Museu Chico Franco. 

Em entrevista ao Jornal S’Passo, o Secretário de Cultura, Marcinho Hakuna, confirmou que o altar será realocado para a nova capela que está sendo restaurada. Preservado ao longo dos anos, o altar testemunhou incontáveis momentos de oração, esperança e gratidão, além de simbolizar a importância da união entre ciência e espiritualidade no processo de cura. 

“Conversamos com a direção do hospital e, além do altar, iremos encaminhar as demais peças sacras religiosas do acervo do museu para a capela, onde serão expostas permanentemente. Com essa iniciativa, estaremos descentralizando a história patrimonial, artística e cultural de nossa cidade”, explica o secretário.