Sílvio Bernardes
Vicente do Adão, o contador de histórias
Morreu essa semana, aos 71 anos, o nosso amigo Vicente Adão. Foi o que anunciou uma página da Jadapax a mim enviada na manhã de quarta-feira (9). Coisas da vida e das suas traquinagens. Nossos caminhos vão sendo traçados e, de vez em quando, sendo recalculados para outra direção. Tudo certo como devem ser os planos da vida.
O Vicente de Paula Lino, Vicente Adão ou Vicente do Adão, como era o seu apelido original, era por muitos conhecidos – como nós da “família brexoense” desde os idos de 1980 – o Vicentinho. Sujeito cheio de histórias. Aliás, era uma delícia ficar perto dele, por conta de seus causos. O Vicentinho era um dos mais assíduos frequentadores da redação do “Jornal Brexó” na avenida Dorinato Lima, início do bairro de Lourdes, onde eu pontuava como jovem aprendiz. Nos atendia como motorista – sem qualquer cobrança de remuneração – e nos abastecia de muitas informações, ainda que alguma dessas fosse pura invencionice de sua mente criativa. Ele contava as histórias fazendo aquela cara mais séria do mundo, mentia pra caramba e nos fazia cair na gargalhada por conta das situações ridículas de seus personagens. Era um grande mentiroso, desses que contam mentira sem maldade, como aqueles personagens do Ariano Suassuna ou o próprio Alexandre, do Graciliano Ramos nos divertidos relatos de “Alexandre e outros heróis”. Dizem também que era medroso. Borrava de pavor de fantasmas e não gostava de andar sozinho nos seus tempos de jovem, aquele pequetito rapaz filho do Adão Lino, irmão da Dona Eva do Fico.
Houve um tempo em que o Vicentinho ficou conhecido como “Vicentinho da Prefeitura”, da “Equipe Francisco Ramalho”. Era apontado como um dos primeiros da equipe e fez fama como um competente “resolve-tudo” no canteiro de obras. Talvez por isso conquistara uma cadeira na Câmara de Vereadores e ali também deixou sua marca de homenzinho dinâmico… e prosa. Um contador de histórias. Tanto na Prefeitura, quanto no legislativo, tivera um parceiro para suas peripécias à la Pantaleão, o Marcinho Bernardes. Os dois compunham a dupla mais zoeira da Prefeitura e da Câmara e as suas “vítimas” eram colegas igualmente brincalhões que passaram por inúmeras situações inverossímeis, para não dizer constrangedoras.
O Vicentinho trazia suas narrativas carregado de seriedade e não havia quem não as comprasse. “Tá sabendo do Fulano…”. E começava. “Puxa vida, tô preocupado com o Sicrano, sabia que ele tá…”.
Ele e o Marcinho se encontravam diariamente até recentemente e a idade não inibiu a molecagem de ambos com histórias absurdas envolvendo amigos conhecidos ou eles próprios na condição de protagonistas ou coadjuvantes. E quando não estavam juntos, um desancava, amorosamente, o amigo ausente. Há poucos dias encontrei o Vicentinho aqui no centro da cidade e ele, muito sério, me falou: “Tô precisando falar com seus sobrinhos, filhos do Marcinho”. Ahn? “Ué, eles me contrataram para tomar conta do Marcinho e não me pagaram ainda. Tô trabalhando de cuidador de idoso sem receber um tostão”.
O povo lá no plano espiritual deve estar se divertindo muito com a histórias e as lorotas do Vicente Adão. Somente um não deve estar gostando muito das conversas do recém-chegado, o Celserino, seu ex-colega de vereança.