Por Júnior Fonseca Jornalista
Em seu discurso de posse, na Academia Brasileira de Letras, em 1967, João Guimarães Rosa, eternizou uma das mais citadas frases sobre a morte. “As pessoas não morrem, ficam encantadas… a gente morre é para provar que viveu” Para quem perde um ente querido não há encantamento na morte. Para alguns, pode sim ocorrer um certo alívio, ou conforto, em virtude do sofrimento em que as pessoas que se foram se encontravam. Mas não há encantamento para os que sofrem com a ausência. E quando essa ausência se dá, conforme as palavras do filósofo Sêneca, em virtude de outras formas em que “a ignorância, ou melhor, a demência humana é tão grande que alguns são levados à morte justamente pelo medo da morte” a perda toma proporções gigantescas. E foi com esse gigantismo que tomei conhecimento do falecimento da minha querida amiga Elza Lopes. Elza era uma dessas figuras singulares de Itaúna. De riso solto, personalidade forte, uma sinceridade ímpar.
Para ela, não havia distinção entre as pessoas. Autoridades e o povo em si, eram todos iguais. Se ela tivesse que dizer algo, dizia! Com o mais absoluto tom de verdade. Não importava se o ouvinte era promotor, juiz, político, autoridade ou popular. Se precisava corrigir, corrigia! Elza dizia o indizível. E sempre arrancava um riso de quem estava sendo repreendido por ela. A sinceridade de Elza não pode ser confundida com “sincericídio” que algumas pessoas praticam com o único intuito de denegrir, alfinetar, menosprezar os outros. A sinceridade, tão peculiar em Elza, era para engrandecimento. Ela nunca repreendia, chamava atenção, para difamar ou causar constrangimento. E isso nunca lhe causou qualquer problema. Pelo contrário, era querida por todos. Em meus quase vinte anos de jornalismo e em meus quase trinta de artista, nunca ouvi um relato contra Elza. Querida por todos me soa bem clichê. Mas o que dizer, se isto era verdade. Elza não dirigia, mas estava em todos os eventos. Sempre arrumava caronas para ir e para voltar. Eu sempre fiz questão de dar carona a ela, para que pudéssemos trocar figuras sobre os eventos jornalísticos ou sociais que cobríamos. E é, justamente este lado de cobertura social que me encantava. Tenho aversão a colunas sociais. Acho, em sua maioria, colunistas enfadonhos, puxa- -sacos, estrelinhas cadentes dentro de um mar esnobe que só eles criam. Mendigos (sejam pedindo favores, atenção, ou dinheiro mesmo) de esmoques. Cansei de ver colunistas tratarem bem certas “personalidades” e vice-versa, para conseguir algo e depois falarem mal destas mesmas pessoas.
Mas a Elza, nunca fez uma cobertura em troca de nada. Nunca cobrou por um único evento. Ia onde achava que tinha que ir. Festas chiques, eventos glamorosos, cinco estrelas, em evidência, ou os autointitulados melhores da cidade. Mas também ia em qualquer festinha regrada a pão com salsicha e “Ki-suco”. E no sábado seguinte, as notas tinham igual peso em sua coluna social. Minha amiga Elza! Encantou-se! Deixou-me só na cobertura política! Aprendi com ela a não ficar na sala de imprensa da Câmara. “Era tanto zum-zum e vaidade que atrapalhava a ver os pormenores da reunião”. Se presidente fosse do Legislativo, nomearia a primeira cadeira da fila superior, da plateia, como Cadeira Elza Lopes. O lugar era reservado a ela. Não por lei, mas porque ela sempre ali sentava e todos respeitavam minha amiga. Minha amiga Elza! Encantou-se! A última vez que falamos foi acerca de um ano. Ela me ligou para elogiar a cobertura e as alfinetadas que eu fazia da política local. Eu já estava desencantando do ofício, porque os homens dos podres poderes estavam fazendo tantas sandices que a cobertura mais parecia ficção. Mas não era. E o meu papel deveria ser dizer, o indizível, mas eu nunca fui tão corajoso quanto a Elza. Ou, pelo menos, não tenho o mesmo carisma. Minha amiga Elza! Foi-se como as notas e folhas do Brexó. Foi-se como as palavras que ela dizia no rádio.
Foi-se como os sorrisos em fotos de coluna social. Foi-se! Encantou-se! Me deixou mais triste e com a sensação de que 2020 realmente não é um ano para ser lembrado. Não precisou morrer para lembrar que viveu. Até um dia Elza. Quem sabe você não vai me buscar quando eu aí chegar noutro plano, me dando uma carona, com seu Cadilac Dourado, seu riso solto e sua sinceridade. PS: Não posso terminar esta coluna sem agradecer a algumas pessoas que, pelo que fiquei sabendo, deram todo o suporte a nossa queria Elza. Talvez vocês nem se lembrem de mim, talvez tenhamos tido algum desentendimento no passado ou tenhamos no futuro. Talvez os posicionamentos de vocês não sejam iguais aos meus. Isto nos faz diferentes, mas pelo menos no carinho pela Elza éramos iguais. Obrigado Dr. Élvio, Medeirinho, Manoel Bernardes, Luciene, Fábio pelo apoio que fiquei sabendo que vocês deram. A outros (e tenho certeza que devem ser muitos) que também estiveram presentes nestes momentos derradeiros e eu não fiquei sabendo, o meu agradecimento.