1º de fevereiro de 1921: há 100 anos nascia o itaunense Oscar Dias Corrêa

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Intelectual foi ministro da Justiça, do STF e do TSE, secretário de governo, deputado e membro da Academia Brasileira de Letras não é lembrado

O nome Oscar Corrêa talvez não alcance as novas gerações itaunenses com a importância devida, culpa da falta de memória que toma conta desses tempos de gente apressada e conhecimento idem. E em que o presente é tão efêmero, que quase não o sentimos. Em Itaúna, Oscar Corrêa não é sequer nome de praça, de rua ou de prédio público. Não há estátua, busto ou monumento nalgum dos umbrais do município. Mas, a despeito de tudo isso, Oscar Corrêa foi, na avaliação insuspeitada do historiador e criador da Universidade de Itaúna, Miguel Augusto Gonçalves de Souza, “o mais ilustre de todos os itaunenses”. A consideração de Miguel Augusto, descrita no seu livro “Itaúna – 1765-2002” (Santa Clara, 2002) se justifica quando olhamos para trás e verificamos que esse homem, nascido na cidade de Itaúna há 100 anos, no dia 1º de fevereiro de 1921, filho do comerciante português, Manuel Dias Correia e de Maria da Fonseca Correia, foi escritor, jornalista e professor, membro da Academia Brasileira de Letras, ministro do STF, ministro do TSE, ministro Justiça, secretário da Educação do governo de Minas Gerais, deputado estadual e deputado federal por diversas legislaturas.
Oscar Corrêa é patrono da Academia Itaunense de Letras (AILE), criada em 2015. Morto em 2005, a família doou à Universidade de Itaúna a vasta biblioteca e objetos importantes da vida do jurista e do beletrista aclamado, inclusive seu fardão da ABL (resultado de subscrição popular entre itaunenses em 1989), atendendo a vontade testamentária do escritor. Em inúmeras oportunidades, de forma verbal ou escrita, Oscar Corrêa lembrava-se de sua Itaúna, com reminiscências carinhosas e mantinha com sua terra estreitos laços de amizade. Em 2001 aqui esteve para os festejos de centenário de emancipação político-administrativa de Itaúna e em 2003 retornou, para ser padrinho do curso de História (por escolha dos alunos) e paraninfo geral da colação de grau conjunta da Universidade de Itaúna. A despeito disso, fora durante muito tempo alvo de críticas por uma suposta inadimplência política para com a sua terra. O escritor Miguel Augusto pontua, em sua obra já citada, que na época do ingresso de Oscar Corrêa à vida pública e durante toda sua ascensão (pela UDN), havia uma barreira ideológica formada pelos caciques políticos locais do PSD (José de Cerqueira Lima, Victor Gonçalves de Souza, Osmário Soares Nogueira, Lincoln Nogueira Machado, Milton de Oliveira Penido, Tomaz Moreira de Andrade, Célio Soares de Oliveira, Willian Leão, Guaracy de Castro Nogueira, Antônio Augusto de Lima Coutinho e Ademar Gonçalves de Souza) que obstruía qualquer iniciativa do futuro imortal da ABL nas terras santanenses. “Diante da impossibilidade de composição que não se realizou porque, em realidade, os partidos e as lideranças em litígio não o desejavam e por ela não lutaram, estabeleceu fosso profundo , sob o ângulo político, entre ele e as tradicionais lideranças do município”, escreveu Miguel Augusto (p.200)

O coroamento do ilustre causídico
e do beletrista itaunense

O inconformismo e a insubmissão eram característica de Oscar Corrêa, conforme anotou Miguel Augusto em seu livro. Essas características foram decisivas para o seu ingresso na vida política, nos movimentos populares que pediam nas ruas o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas, em meados da década de 1940. Também contribuíram decisivamente para que, no auge da ditadura militar, em 1965, e ante a promulgação do Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos políticos, deixasse a vida pública e voltasse suas baterias para as lides advocatícias – e também as cátedras da Faculdade de Direito. Em 26 de abril de 1982 foi empossado no Supremo Tribunal Federal – STF, indicado pelo presidente João Figueiredo, ministro do Tribunal Superior Eleitoral – TSE e em 1989 assumiu o Ministério da Justiça do governo José Sarney. O itaunense e ilustre causídico Oscar Corrêa foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1989, tomando posse em 20 de julho daquele ano, na cadeira nº 28, que pertenceu a Menotti Del Picchia. Para a posse na ABL envergou o fardão confeccionado com dinheiro de subscrição de itaunenses, que também o presentearam com o colar acadêmico de ouro.

Um pequeno infante,
sadio e grimpante

Antes de sua vida erudita, no Rio de Janeiro, em Brasília ou em Belo Horizonte – para não falar de outras terras além-mar – Oscar Dias Corrêa foi um menino caprino, um pequeno infante, sadio e grimpante (para usar palavras do poeta Vinícius de Moraes, em “O poeta aprendiz”). Lá pelos fins dos anos de1930 era visto entre uma corriola de moleques como ele, pelas estradas barrentas do centro de Itaúna e na sua rua Silva Jardim, calçada de pedras grandes, entre a lojinha do seu pai – o Manoel Português –, a ‘Padaria Oeste’, do Abelardo Lima e o Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, onde estudara. Chapinhava as poças d’água, fazia barraginhas e barquinhos de papel nas enxurradas da chuva, jogava bola de meia no Cruzeiro e frequentava os quintais em busca das frutas maduras. Seus passeios eram simples, no campo (na fazenda do Calambau) e nas festas de São Sebastião e do Bonfim. Na lojinha do pai era ajudante de primeira ordem e nas rodinhas de fregueses ilustres declamava poesias e improvisava discursos prenunciando o orador brilhante que as tribunas do país iriam conhecer num futuro não muito distante.

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