Quem responde as Sete Perguntas do Jornal S’PASSO dessa edição é o vereador Gleison Fernandes de Faria (PSD). Ele está no seu quarto mandato consecutivo. Ele é itaunense, Cientista da Computação pela Universidade Itaúna. Tem 42 anos e é casado.
- A sua recondução pela quarta vez à Câmara Municipal é motivo de registro de vitória como você já avaliou em outra ocasião, por ser o único parlamentar com paralisia cerebral no país. No entanto, existem críticas à sua eleição, desde a primeira. Como você lida com essa situação? O que representa um parlamentar com limitações dessa natureza diante das exigências que o cargo impõe no dia a dia?
Realmente é uma vitória. Não é qualquer um que consegue chegar onde cheguei. Tem gente que não tem nenhuma deficiência e tenta várias vezes em vão. Sou ciente das críticas que recebo desde a primeira vez em que me candidatei a vereador, mas as encaro com a maior naturalidade possível, porque sei que uma parcela da sociedade itaunense ainda não sabe conviver com o diferente, não tem a menor noção sobre inclusão, só valoriza aqueles que vêm de classes elitizadas e por isso os considera como os melhores . Não são preconceituosos enquanto o negro ou o deficiente exercem o papel de figurante, mas quando se tornam protagonista; essa mesma parcela da sociedade revela o seu lado prepotente e egoísta. Eu não vejo as minhas limitações como fator que venha a dificultar o pleno exercício do meu cargo, pois dentro da Câmara o cérebro é o órgão mais exigido.
- Você concorda que o vereador tem sido um despachante, bem remunerado, da sociedade e, muitas vezes, um servidor do executivo para a indicação de obras e melhorias na cidade? Como o Gleisinho vivencia essa situação?
Não concordo. Ganhamos um salário justo para sermos homens públicos, vigiados e cobrados o tempo todo pela população. Votamos em projetos que podem desagradar a muitos e, por isso, somos severamente ofendidos e até mesmo corremos o risco de ser agredidos pelas ruas. Temos o dever de fiscalizar e por diversas vezes sofremos ameaças, inclusive de morte. Servimos de elo entre o executivo e a sociedade para levar demandas de obras e quando estas não são executadas, a população nos culpa. Parece fácil para quem está de fora, mas só quem está ou esteve lá é que sabe.
- A Câmara Municipal, sobretudo no mandato anterior, foi alvo de uma série de denúncias e até mesmo de processos na Justiça que afastaram vereadores. Você foi envolvido em algumas dessas denúncias. De sua parte o que tem a dizer? A reeleição de Gleisinho vem confirmar seu distanciamento dos possíveis crimes?
Quem está na vida pública está sujeito a denúncia mesmo, isso é normal, até porque você como parlamentar adquire desafetos, há pessoas que começam a te odiar devido suas posturas e opiniões dentro Câmara. E vou ainda mais longe: há também aqueles que queriam está no seu lugar e não conseguiram, portanto; o despeito aflora. Mas quando se há uma denúncia, nos é garantido do contraditório. Dessa forma, a justiça é que vai analisar se ela é verdadeira ou não. Muitos se lembram que eu tive uma denúncia de assédio sexual há tempos atrás. Foram confirmadas nas instâncias como improcedentes. Agora me chega a denúncia de que teria votado no Lequinho (Alex Artur, ex-vereador) para ser o presidente da Mesa Diretora em 2018 em troca da indicação de cargo público em comissão para nomeação do meu irmão Ronaldo. E tal cargo sequer seria da Câmara Municipal de Itaúna. Dessa forma, posso afirmar que também se trata de uma denúncia sem procedência porque eu não votei no Lequinho para presidente, votei em outro vereador. Além disso, o cargo público na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, estaria fora das atribuições e competência do vereador Alex Artur, ou seja, apenas um deputado estadual teria o poder de nomear o meu irmão. Mas os meus eleitores confiam em mim e por isso me reelegeram pela quarta vez. Eles sabem quem realmente sou e que nunca cometeria nenhum ato ilícito. São ciente de que uma denúncia não quer dizer condenação.
- Outro ponto polêmico aponta a omissão do legislativo anterior para resolver a questão do novo Plano Diretor para a cidade. Houve mesmo omissão da Câmara? E com relação ao Plano Diretor, o que o vereador que tem necessidades especiais de locomoção tem a dizer acerca da acessibilidade nas ruas e nos prédios públicos do município? O que é necessário fazer para melhorar a vida dos cadeirantes, dos cegos e de outras pessoas com deficiências de mobilidade?
Não vejo que houve omissão, sei que a atualização da lei que rege o PLANO DIRETOR é de uma importância para o desenvolvimento da cidade porém ela não se encontrava apta a ser votada. Respaldada ainda que o Ministério Público recomendou que não votasse até a sua manifestação. Nosso País já tem uma lei de que engloba toda esta questão de acessibilidade.Trata-se da lei brasileira de inclusão ( 13.146 de julho de 2015) basta ser cumprida.Desde quando eu entrei na Câmara Municipal muitas melhorias foram feitas pelas minhas cobranças baseada nesta mesma lei , por exemplo: elevador no prédio do legislativo, instalação de rampas na Avenida Jove Soares ,acessibilidade no Fórum na comarca de Itaúna e recentemente na nova sede da Prefeitura. Sou ciente ainda há muitas melhorias para serem feitas mas aos poucos vamos trabalhando para que sejam realizadas.
- As reuniões virtuais do legislativo, realizadas agora por causa da pandemia da Covid-19, constituem numa dificuldade maior à sua participação? Qual é sua opinião sobre o retorno das reuniões presenciais, inclusive com participação do público?
As reuniões virtuais são algo novo e assim tivemos pouco tempo para nos adaptar. Como eu uso o computador para mim comunicar melhor, ainda estou estudando a solução para o meu melhor desempenho nas reuniões plenárias.
Acredito que em muito breve grande parte da população itaunense estará vacinada contra o coronavírus e desta forma as reuniões da Câmara Municipal poderão voltar ao normal. Inclusive com participação popular.
- Essa semana foi aprovado um projeto de lei de sua autoria, beneficiando pessoas que foram aprovadas em concursos públicos mas que ainda não foram nomeadas e que podem ser prejudicadas pelo término do prazo de validade dos mesmos. Qual é mesmo o seu objetivo com a proposta? Recentemente você sugeriu que os impactos da pandemia da Covid-19 podem ser diminuídos com ações mais eficientes do poder público juntamente com os empresários do comércio. De que maneira isso seria viabilizado?
O projeto visa autorizar ao prefeito a ajustar os prazos do último concurso público de 2020, para que os aprovados não sejam prejudicados em suas nomeações após tanto esforço e tempo de estudo. Seria viável uma forte parceria entre o poder executivo e os empresários itaunense para que seja elaborado um plano de ação de crescimento econômico da cidade. A prefeitura abriria mão de alguns tributos e concederia terrenos para que a iniciativa privada pudesse conservar empregos e até amplia-los para que o município gere renda.
- A Câmara Municipal conta hoje com nove vereadores novatos. Você, com a experiência do quarto mandato, o que tem a dizer aos colegas que estão chegando?
Eles representam a renovação que boa parte da sociedade desejava. Acredito que eles estão empenhados em fazer um bom trabalho e farão.