Postagem do Colégio Recanto do Espírito Santo, que atribui o tipo de roupa da mulher como causa de assédio, repercute na grande imprensa

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Conteúdo foi retirado depois de inúmeras manifestações contrárias. Em seu lugar, educandário publicou nota se retratando, mas os protestos continuam

A internet é realmente um terreno perigoso, principalmente pela instantaneidade com que qualquer mensagem pode viralizar. E é neste instante em que post se torna público que também é aberto o canal para críticas e para o comprometimento de qualquer reputação. Esta semana, o que é teoria de comunicação se fez realidade em Itaúna, depois da divulgação sobre um post do novato Colégio Recanto do Espírito Santo com a imagem de uma mulher, usando um vestido rosa, simples, junto ao texto: “Quando a mulher decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas se torna uma sedutora, partilhando assim a culpa do homem. De fato, os Teólogos ensinam que o pecado da sedutora é muito maior que o da pessoa seduzida”.

O post ganhou espaço em vários veículos de comunicação e grandes jornais do país, como o Globo, Folha de São Paulo, Correio Brasiliense, Estado de Minas e O Tempo, publicaram a notícia negativa.

Imediatamente diversas pessoas se manifestaram contrárias à postagem, algumas, inclusive, falaram em acionar a Justiça por entenderem a mensagem como apologia ao estupro, com evidente atribuição de culpa da mulher violentada por causa do tipo de roupa que usa. Pouco tempo depois, o colégio veio a público para se retratar. E publicou esta nota: “Olá, paz e alegria! Foi feita uma postagem indevida por quem administra nossas redes sociais. Apesar de concordarmos com a modéstia no vestir, o texto em questão deixou margem para interpretações que não são as do colégio. Pedimos desculpa. #nãoaoestupro #aculpanuncaédavítima”. E o primeiro post foi excluído.

“Ensino sem ideologia e sem relativismos”

Na página virtual do colégio as informações sobre a instituição são claras em suas ideologias religiosas: “A Associação Recanto do Espírito Santo é a mantenedora da Comunidade Católica Recanto do Espírito Santo e do Colégio Recanto do Espírito Santo. Tem como fundadores o casal Cristina e André, que junto de várias pessoas que se identificam com o carisma da comunidade, têm sido modelos de firmeza, coragem e disposição para anunciar o Evangelho de Jesus sem medir esforços. O Colégio Recanto do Espírito Santo é mais um dos diversos apostolados da Comunidade Católica Recanto do Espírito Santo que, sob inspiração do Espírito Santo, quer contribuir com a educação das crianças e jovens, proporcionando um ensino sem ideologias e sem relativismos levando os educandos à busca e ao conhecimento da verdade perene”

Vereadora Edênia: “não posso me calar”

Na mesma tarde do dia 1º, na reunião da Câmara Municipal, a vereadora Edênia Alcântara (PDT), se manifestou com relação ao assunto condenado a postagem. Alcântara, que é membro do Conselho dos Direitos da Mulher e presidente da Comissão dos Direitos da Mulher no Legislativo, afirmou que não se pode compactuar com ideias retrógradas e preconceituosas como essas que atribuem à mulher, por suas roupas, a culpa pelo assédio, o estupro e outras formas de violência. “É um absurdo o que escreveu esse colégio, não posso me calar”, posicionou.

PSOL e PT fazem protesto na porta do Colégio e OAB publica nota de repúdio

Pessoas ligadas aos partidos PSOL e PT foram para a porta do Colégio na tarde de quarta-feira (2), portando cartazes, em protesto contra a divulgação e a postura do educandário. Os manifestantes publicaram em seguida uma série de notas e fotos repudiando as mensagens do CRES, acusando-o de ser um braço de grupos da extrema direita em Itaúna, que têm compartilhado na cidade as ideias do presidente Jair Bolsonaro.

A Comissão de Direitos Humanos da 34ª Subseção da OAB Itaúna/MG também se posicionou diante da polêmica e publicou uma nota na tarde da quarta-feira (2). A publicação fala em repúdio ao conteúdo publicado pelo Colégio Recanto do Espírito Santo, que “infelizmente colocou a cidade de Itaúna nas páginas tristes da imprensa nacional”, com argumentos “preconceituosos, desrespeitosos e que causam revitimização das vítimas de violência sexual”. A crítica da Comissão de Direitos Humanos da OAB é ainda mais contundente, uma vez que a publicação que originou toda a polêmica parte de uma instituição escolar, destinada à educação de crianças e adolescentes, onde os princípios morais e éticos devem pautar seus ensinamentos e seus programas educacionais.

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