Artistas e gestores culturais falam da criação da Secretaria de Cultura e Turismo e da construção da Escola de Artes

Maioria dos entrevistados opina que Prefeitura precisa ampliar o debate para dar mais credibilidade aos projetos

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A criação da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e o anúncio do projeto da construção de uma Escola de Cultura, Artes e Turismo, a partir do próximo ano, prometem grande impacto na vida dos itaunenses. A Secretaria está prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2022, aprovada recentemente na Câmara. 

A Escola Pública de Cultura, Artes e Turismo também está nos projetos do prefeito Neider Moreira de Faria (PSD) e o objetivo da obra é atender aos artistas itaunenses, profissionais das diversas áreas da economia criativa, artesãos, promotores de eventos e organizadores das tradicionais festas, como folias de Reis, Congado, Carnaval, além de cursos e oficinas artísticas. Num único local, na atual área externa do Espaço Cultural, irão funcionar diariamente atividades voltadas para a arte, a cultura, o lazer, o entretenimento e o turismo. A expetativa é que o prefeito envie ainda neste mês, o projeto de lei criando a nova secretaria. 

Um celeiro de talentos ainda pouco explorado

O Jornal S’PASSO ouviu artistas e gestores culturais sobre os anúncios feitos pela Prefeitura e, em coro, eles aplaudiram a iniciativa, embora maioria opine que é preciso ouvir mais a classe artística e cultural, antes de apresentar o projeto da Casa das Artes e também a criação da nova secretaria. A escritora, professora e poeta Maria Lúcia Mendes, membro fundadora da Academia Itaunense de Letras (AILE), disse que se trata de uma ótima notícia. “A classe artística, de um modo geral, sempre lutou com sérias dificuldades na realização de seus projetos. Itaúna conta com um celeiro de talentos que ainda não trouxe à tona sua arte, devido as barreiras encontradas. Sem dúvida, a realização desse projeto será um marco histórico da atual administração. Parabenizo a iniciativa, e ao prefeito Neider Moreira”, posicionou.

‘Projeto repaginado’, que precisa sair do papel

O professor de História e poeta Geraldo Fonte Boa afirmou que não gostaria de se posicionar sobre os projetos. Ele esteve lotado na Gerência de Cultura e até o início de 2020 era quem cuidava do setor de patrimônio histórico do município. “Havia feito esta sugestão anos antes, mas recusaram, agora repaginaram-na e apresentam-na como novidade. Esperamos para ver se acontece mesmo esse projeto, se ele sai do papel”, asseverou. 

Geraldo Fonte Boa.

Profissionais competentes

A atriz e historiadora Regina Glória Gomes, que também já foi servidora no setor de Cultura da Prefeitura, respondeu que pretende posteriormente falar de maneira mais ampla e com elementos acerca da proposição. Entretanto, avalia que a Prefeitura, por meio da Gerência de Cultura e Turismo, deveria promover debates públicos e chamar gestores culturais, artistas e outros segmentos para apresentar o projeto. Na sua opinião, os antigos dirigentes do setor deveriam ter sido chamados a dar palpites. Ela entende que um projeto de Secretaria de Cultura tem que ser bem debatido e para atuar no setor é necessário que se forme uma equipe de profissionais com conhecimento de leis, de políticas públicas, de gestão cultural, além de contatos com outros setores, vontade de trabalhar e que o setor tenha recursos próprios para suas ações. “Também é necessário ouvir professores, a Universidade de Itaúna, o Codempace, o Conselho de Cultura, os setores empresariais, que têm muito a contribuir nesse debate e na construção de um projeto verdadeiramente cultural que abrace a cultura e população itaunense”, pontuou. 

Itaúna será um polo cultural

A ex-dirigente da Gerência de Cultura, professora e teatróloga Zanilda Gonçalves afirma que há décadas Itaúna vem demonstrando seu potencial artístico- cultural e, como consequência, demandado uma Secretaria que abrangesse todas as  diversas formas de  manifestações culturais com independência para gerir e atender as demandas do setor.

“É fundamental a proteção dos bens materiais e imateriais, nossa história e identidade. Estas raízes precisam ser fortalecidas, enquanto se fomentam as produções para que primem pela qualidade e ofereçam ao povo aquilo que merece. Neste sentido, o planejamento e o desenvolvimento de projetos, não podem ser relegados a segundo plano. A criação da Escola Pública nesta área fará de Itaúna um polo cultural, pois trará uma efervescência artístico- cultural que deve se tornar constante por meio de incentivos fiscais legítimos”, considerou.

No seu entendimento, para que tudo isto aconteça é necessário que saia do papel e se concretize verdadeiramente.

Elemento transformador

Na opinião do médico e diretor teatral Marco Antônio Machado Lara, os projetos anunciados pela Prefeitura são de grande relevância para o município. “É algo excepcional, mas acho que os artistas poderiam ter espaço de opinião, desde as bases de sua criação. Algo que venha de cima pra baixo, sem participação coletiva, tem menos valor, uma vez que ela será para usufruto do povo. Que venha logo essa Escola e que ela seja um novo elemento transformador de nossa sociedade”, evidenciou.

Marco Antônio Machado Lara.

É necessário a troca de experiência 

Os aplausos vêm também por parte do produtor cultural, ator e também ex-dirigente da Gerência de Cultura, Charles Telles.  Ele lembrou que quando passou pela direção da Cultura falou com o prefeito sobre uma escola de artes naquele espaço, tipo o CEFAR de BH. “Infelizmente não foi possível concretizar a proposta na época, por uma série de motivos. Itaúna tem público para isto e acho que, dependendo da estrutura, poderemos atender a interessados de cidades vizinhas também, gerando um movimento econômico e, principalmente, para os trabalhadores da área”, sugeriu. Telles diz ser imprescindível que a classe seja ouvida, pois o prefeito e o gerente de cultura têm abertura nesta parte de negociação com os secretários, mas não têm experiência e vivência nas diversas áreas que integram a cultura.

Acerca da criação da Secretaria de Cultura e Turismo, Charles Telles avalia que é necessário que haja um estudo e mais conversa com a classe artística. Ter políticas públicas para a cultura, criar uma programação anual de atividades que promova todos os setores. “Se isso não acontecer, correremos o risco de ser o mesmo que era antes, ligados à Educação. Ficaremos a mercê do interesse do secretário da pasta para realização das atividades. Enfim, tem que ser discutido com os interessados”, ressaltou.

Ouvir os artistas e o Conselho de Cultura

“Realmente uma Secretaria de Cultura e uma escola de formação artística são anseios de nossa classe, há muito tempo. Eu, sinceramente, achei que não ia viver para ver isso”, assim se manifestou o arte-educador, músico, artista plástico e ator Levy Vargas Filho. Ele falou que espera que o prefeito e demais pessoas ligadas à Secretaria de Cultura os artistas, o Conselho Municipal de Cultura. “O Conselho está aí para ser consultado. Vamos melhorar essa relação com os artistas, ouvindo a classe sempre”, sugeriu.

Levy Vargas.

Itaúna precisa e merece esse espaço

O vice-diretor da Escola Estadual Padre Luiz Turkenburg, Léo Souza, também falou à reportagem do Jornal S’PASSO. Como ator, diretor teatral, e professor de teatro ele salienta que a criação da Secretaria de Cultura e da Escola de Artes é um grande avanço para a cultura da cidade e do estado. A ampliação da cultura e sua transformação em Secretaria, junto ao turismo vai, certamente, trazer avanços significativos na formação de público e na manutenção das atividades culturais da cidade. “Itaúna é uma cidade com muitos artistas de diferentes linguagens. Precisa e merece um espaço para se pensar suas atividades de modo a abarcar um grande avanço e equidade de oportunidades para a população”, ponderou.

Gerente de Cultura, Joe, aponta que muitos artistas se isolam em seus grupos e não demonstram interesse em participar dos projetos da Prefeitura

Ouvido pelo Jornal S’PASSO o gerente superior de Cultura, Ilimane Lopes, o Joe, contou que quando aceitou esse desafio, diante das poucas possibilidades de conclusão, não trabalhou com o “se”. As propostas foram colocadas e ele as aceitou. Para isso, se orientou com vários grupos, inclusive alguns conselhos vinculados à Gerência de Cultura, como o Codempace, o Conselho de Cultura, o Conselho de Turismo, e todo o escalão da Prefeitura dando suporte para a criação dessa Secretaria de Cultura. Também salientou que Itaúna está engajada com a Secretaria de Estado da Cultura, que tem dado todo o suporte para as atividades da Gerência de Cultura.

Ilmane Lopes, o Joe.

“Infelizmente o segmento cultural, até mesmo culturalmente falando, é fragmentado, funciona com pequenas tribos, que pensam e giram em seu próprio eixo. Nós estamos trabalhando por uma gestão uniforme, uma gestão que abrace a todos. A gente trabalha aqui, no mesmo endereço, todos os dias, de segunda a sexta-feira, de 8h às 17h, alguns dias até mais tarde. Temos recebido aqui vários artistas, para além desses conselhos, que participam com a gente, trazendo ideias”, pontuou.  Joe afirma que fica difícil sair do seu local de trabalho e procurar os artistas para propor um caminho, um debate. Muitos acompanham essa dinâmica e participam das atividades, usufruindo do espaço, da locação do Teatro, que agora não cobra mais aluguel e sim a porcentagem dos espetáculos. 

“O que nos entristece é o desinteresse desses artistas em procurar saber, em querer participar, caminhar lado a lado. Fica um buraco aí por um lado, mas por outro muitos estão participando, dando credibilidade ao que tem sido feito de forma transparente. Fica aí o meu convite para quem quiser participar, trazer ideias, ou críticas. Estou à disposição”, posicionou.

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