A condução do tratamento da criança

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Larissa Alves Santos

Durante os escritos anteriores se faz entender que o sujeito que falamos é o

inconsciente que é atemporal. É importante relembrar para a continuidade do assunto sobre a condução do tratamento com crianças, pois uma vez colocadas como inocentes ou angelical, à criança na clínica demonstra o sintoma dos pais (entender pais a quem faz a função materna e função paterna). É nesse momento nos deparamos com a tarefa mais delicada desse início da condução, pois a direção do tratamento não pode ir de encontro a queixa dos pais, se a opção for por esse modo de condução esbarramos nas três tarefas impossíveis nomeada por Freud educar, psicanalisar e governar.

O tratamento precisa ser conduzido de modo que a criança consiga falar a sua

própria queixa para a construção desse direcionamento da demanda do sujeito responsável pelos seus atos e pelos seus próprios sintomas. Vale ressaltar que aqui não estamos mencionando somente a queixa de reclamações, pois ela é comum do ser humano e acontece em vários espaços, como roda de amizades, parceiros, ambiente familiar e em outros ambientes. Há quem inclusive goza-se dessas reclamações porque ela não tem um direcionamento para se tratar. Mas mencionamos também a demanda em análise que transforma essa queixa em algum movimento no momento desse processo.

Para o manejo com os pais é necessário localizá-los no tratamento, pois quanto

menor é a criança, consequentemente mais presente estão os responsáveis que são necessários principalmente nos primeiros tempos e na estrutura do sujeito. Sendo assim há de recordar que mesmo os pais estando presentes no tratamento eles não podem ser analisados pelo mesmo analista, uma vez que durante o tratamento da criança eles serão orientados a partir do diagnóstico dela e não pelo diagnóstico dos pais. caso seja percebido a necessidade de análise é necessário o encaminhamento para outro profissional. Mas não é viável colocar a necessidade do tratamento dos pais como uma condição para o tratamento da criança. É necessário que cada um esteja ocupando seus lugares para uma maior assertividade do processo terapêutico.

Na condução da análise se faz necessário entender então a estrutura a partir dos

tempos do sujeito identificando a falta onde ela falta. Os tempos do sujeito que serão apresentados posteriormente são de crianças neuróticas, e será relatado a partir de seu nascimento até o final da infância. Por se tratar da temporalidade da constituição do sujeito, o que se observa aos 2 anos de idade não pode ser considerado como algo que se tenha uma existência permanente pois isso pode mudar durante o percurso de vida, uma vez que não se tem uma garantia.

Através da linguagem, ao falar o sujeito assume um lugar responsável pelo que está dizendo. Sendo assim é necessário colocar o analisando para falar de alguma maneira para que essa forma de comunicar em suas infinitas possibilidades, possa se fazer entender suas angústias.

Contudo pode-se observar também que houve uma alteração na contemporaneidade por sermos acometidos com o vírus da COVID-19. Com a pandemia houve um impacto para esses tempos da criança, e percebe-se então um atraso na fala que consequentemente resultou em um aumento no diagnóstico e aumento na medicalização. Dificuldade maior de socialização com a família e com outros ambientes, a vivência com outros objetos e o próprio brincar que precisou ser mais assistido uma vez que o bebê ao levar algum objeto a boca poderia arriscar a possibilidade de contrair o vírus. Nesse momento aconteceu uma preocupação maior sobre o possível adoecimento do filho, que não seria somente pela COVID-19, mas de afastar de qualquer outra doença. Então se resguardar em casa para evitar qualquer outra possibilidade de usar o sistema de saúde, foi uma opção mais segura. E com isso houve um aumento significativo no uso de telas nos adultos e também em crianças até mesmo menores de dois anos. Sem interações nem mesmo com a possibilidade de compartilhamento desses conteúdos, as relações humanas ficaram mais distantes pois cada pessoa agora está com o seu próprio eletrônico. Ao questionar algumas famílias percebe que essas crianças não têm sequer jogos de tabuleiros em casa, justificado pelo ato da criança não gostar ou não brincar e o que mais faz sentido é a disponibilidade de alguém brincar com essa criança. Mas para um outro lado há uma infinidade de brinquedos eletrônicos dispostos aquele sujeito. Para a socialização e civilização é importante o brincar, uma vez que o lúdico não acontece de maneira solitária se faz pela interação, e é na infância que é disposto e acessado o potencial criativo do sujeito.

Larissa Alves Santos.

Graduada em psicologia. Psicanalista. Pós-graduanda em psicanálise com crianças e adolescentes- teoria e clínica.

Atuo em clínica com atendimento on-line e presencial para o público crianças, adolescentes e adultos.

@larissalvesantos

lalvespsi@gmail.com