A DIVERSIDADE DA LITERATURA BRASILEIRA

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@toniramosgoncalves*

No último fim de semana, embarquei em uma aventura em Belo Horizonte, onde participaria de uma tarde de autógrafos com o escritor e roteirista Raphael Montes. Ele é autor de “Bom dia, Verônica” e outros sucessos que o consagraram como um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

Ao chegar ao local do evento, fui surpreendido por uma fila enorme de fãs que se estendia pelos corredores e descia as escadas. Demorei duas horas e meia para conseguir o tão desejado autógrafo do autor.

Foi através da minha amiga Aden Leonardo, que me presenteou com o livro “Dias Perfeitos”, que tive meu primeiro contato com Raphael Montes. Li (ou melhor, devorei) o livro em dois dias e, desde então, não deixei de acompanhar seu trabalho. Inclusive, fiz o curso de Escrita Criativa com ele em 2019, o que foi fundamental para minha nova fase literária e me levou a ser finalista por dois anos consecutivos do Prêmio Flip Off em 2022 e 2023.

O objetivo desta crônica é falar sobre a pluralidade e diversidade da literatura brasileira. Muitos dizem que o Brasil lê pouco, mas isso depende do tipo de leitura. Aqui em Itaúna, observa-se que há muitos leitores de livros clássicos, principalmente entre as pessoas de faixas etárias mais avançadas. Esses leitores, talvez em sua maioria, desconhecem ou não se interessam pelos autores contemporâneos. Embora a leitura de clássicos seja essencial, eu prefiro mesclar os dois tipos de autores. Como escritor, preciso estar atento ao que as pessoas estão lendo atualmente. Já imaginou se eu descrevesse uma casa em dez páginas, como se fazia no século XIX? Com certeza não seria lido. 

Entre adolescentes e jovens, noto uma preferência pela literatura de entretenimento, como fantasia, ficção científica, policial, terror e até mesmo best-sellers americanos. Acredito que a obrigatoriedade de ler clássicos na escola acaba afastando muitos desse tipo de literatura convencional e acadêmica.

É claro que sempre haverá aqueles que torcem o nariz e questionam a qualidade desses livros de entretenimento. Mas deixemos que sofram sozinhos, certo? O importante é ler. Portanto, o sucesso de um escritor com o público pode depender do tipo de livro que ele escreve. Para mim, foi impressionante e encorajador ver a grande quantidade de pessoas durante a tarde de autógrafos e perceber que há leitores com uma variedade de gostos literários pelo país.

Eu mesmo me arrisquei a escrever literatura de gênero através do “Projeto Um Mês, Um Conto”. Participei da antologia de terror “Mal, Monstros e Maldições”, seguiu-se com o livro “Faces do Crime”, uma antologia policial, e, por fim, com “Sob a Luz do Amanhã”, uma antologia de ficção científica. Foi uma experiência incrível.

Voltando a Raphael Montes, ele também é representante da literatura LGBTQIA+, que tem ganhado cada vez mais espaço, trazendo novas perspectivas e enriquecendo nosso repertório cultural. Assim como ele, os gêneros híbridos e experimentais também desafiam as fronteiras tradicionais da literatura.

César Bravo, autor do recente livro “Amplificador” é outro nome de destaque na literatura de entretenimento e foi finalista do Jabuti em 2021. Responsável por expandir o gênero do terror no Brasil é dono de uma das vozes mais poderosas e criativas do suspense e horror. Ele é um dos editores da DarkSide Books, a primeira editora brasileira dedicada exclusivamente à literatura criminal e fantástica.

André Vianco é um romancista, roteirista e diretor de cinema e televisão brasileiro. Especializado em literatura de terror, sobrenatural, baixa fantasia e vampiros, ganhou notoriedade em 1999 com seu romance “Os Sete”, que se tornou um best-seller. Em 2016, seus livros haviam vendido mais de um milhão de exemplares. Em 2018, Vianco foi reconhecido, junto com Max Mallmann, Raphael Draccon e Eduardo Spohr, como um dos principais autores brasileiros de fantasia do século XXI.

Eduardo Spohr, carioca e autor da renomada trilogia de fantasia “Filhos do Éden”, iniciou a publicação de seus livros de forma independente antes de serem lançados pela Editora Record. Seus livros também são distribuídos em Portugal, Alemanha e Holanda. Além de escritor, Spohr é jornalista e trabalhou em agências de publicidade. Em 2012, foi laureado com o Prêmio Fundação Luso-Brasileira.

A verdade é que não precisamos nos restringir apenas a autores estrangeiros para ler livros de terror, fantasia e outros gêneros. A literatura brasileira se reinventa e se reafirma, mostrando que os gêneros literários são mais do que simples categorias; são formas de ver e entender o mundo, de comunicar experiências e emoções, e de construir conexões entre os autores, leitores e comunidades. Inspirados pelos pioneiros José J. Veiga e Murilo Rubião, os escritores contemporâneos, com sua ousadia e talento, continuam a enriquecer nossa cultura, fazendo da literatura brasileira um reflexo da nossa identidade e capaz de agradar a todos os gostos.

* Toni Ramos Gonçalves (Não é o Global)

Historiador, Escritor, Editor, ex-presidente e um dos fundadores da Academia Itaunense de Letras – AILE.