Por Prof. Luiz Mascarenhas
Da mais suntuosa mansão ao mais humilde casebre, sentimentos humanos sempre se fazem presentes. Somos todos e apenas gente. Uns despidos de tudo; outros desnudos de humanidade, mas seja como for, todos indolentes seres humanos.
Não há escapatória. Nesta época, daquilo que inventamos para contar o Tempo, os chamados “calendários” surgem deles o vertedouro das esperanças nossas. É Ano Novo! Pelo menos, acreditamos e nutrimos nossos sentimentos com essa ideia.
Nos meios de comunicação, nas inúmeras mídias existentes, pipocam jingles adocicados e melosos que nos tocam com suas mensagens de paz, amor e a tão decantada boa vontade entre os homens. Até a vinheta de fim de ano da malfadada Rede Globo – para alguns- semeia essas sensações de forma aleatória em meio ao intenso burburinho do comércio dessa época. “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa…” E nos brota um sorriso abobalhado no canto da boca e sintomaticamente, nosso peito respira fundo com os mais nobres sentimentos humanos.
Não estou querendo com essas mal traçadas linhas burilar o sonho de ninguém. Apenas a velha veia do escritor insone madrugada afora. E pipocam as mensagens do dito “fim de ano”. Padres são entrevistados, idem pastores, mães de santo, psicólogos, numerólogos, macumbeiros, gente da neuro linguística e também os super ultra mega power coachs …( a mais nova invenção de coisa nenhuma com sei lá o que). Contudo, se cruzarmos as falas de tantos entendidos do espírito humano, a merchandising resulta numa suculenta sopa de gratidão, com esperança, paz e amor e todos os mais nobres e requintados sentimentos do “Bem”…da Luz e etc.
Fico mesmo pensando é lá pelos meados de fevereiro para onde partem tantas elucubrações angélicas do ser humano. E o fato continua inexplicavelmente: vivemos de esperança em esperança. Essa coisinha verde-claro que nos alimenta cotidianamente, um dia com uma dose maior, por vezes doses homeopáticas, mas acaba surgindo; e assim seguimos com o nosso bucólico cotidiano imersos, ensimesmados em nossos universos particulares que vez por outra se cruzam.
Mas, na verdade, não há o que planejar. A Vida é improviso. E não tem nada a ver com irresponsabilidade. Tem a ver com lucidez. Sem planejar, a decepção se mostra menor. Planejando, tem a chance de vez por outra dar certo e você imaginar que conseguiu dominar o universo a sua volta. Entretanto, teima – a partir de certa idade e maturação – vir uma voz lá do fundo que lhe garante que sempre haverá alegria e tristeza, saúde e doença, abastança e carestia, amizade e indiferença, esperança e dor, vida e morte. E sabe por quê? Porque tudo isso é inerente à existência humana. E não há receitas prontas para a Vida. Somente perguntas e com tantas respostas quanto as estrelas no céu.
Então o segredo maior é o saber viver. O saber enfrentar. O escolher qual atitude ter diante de todas as possibilidades que o viver acarreta. Nunca é simples. Nunca é fácil. No entanto, necessário e vital para uma vida mais leve e uma mente mais livre.
2020 da Era Cristã. Saiba viver. Já será um começo. Lucidez em excesso mata; sonhe, se jogue em devaneios e se embebede de suas esperanças. Construa-se e desfaça-se quantas vezes for necessário, sem medo de ser feliz. Como diz Caetano Veloso em uma de suas canções: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”… Eu desejo a você muitos desejos e muita vontade de viver e igualmente um jeito suave e leve e livre de passar por mais esses 365 dias até voltarmos de esperança em esperança.
Abraços!