Todos sabem que no Brasil o tema Cultura é muito bonito de se falar, motivo do mesmo ser pauta em campanhas eleitorais e demandas de intelectuais; mas também é sabido que, na prática, a situação é bem diferente. No geral, as artes e a cultura ficam relegadas a condições de pouco prestígio e, em tempos de crise, seja ela qual for, são os setores culturais os mais afetados, com cortes de verbas e redução de pessoal.
Em Itaúna, as atividades culturais sempre geraram produções que não deixam nada a dever às de grandes centros e, de certa forma, foram apoiadas pela iniciativa privada e, muitas vezes, sustentadas pelo poder público. Foi assim em 2019 e poderia ser assim em 2020, mas… ao que parece, o ano ainda não começou ou, fora o Carnaval e algumas iniciativas da Gerência de Cultura, como Oficinas de Arte destinadas à população – suspensas desde março por causa da Pandemia da Covid-19 – não aconteceu quase nenhuma proposta de relevância. É neste cenário que a classe artística e o público fiel dos teatros e exposições perguntam: o que se pode esperar das produções artísticas e culturais de Itaúna em 2020 já que muitos projetos que estavam “no forno” foram interrompidos e o pior, sem data para serem retomados.
Espetáculos de teatro e dança, shows musicais, mostras de artes plásticas, lançamentos de livros, todos cancelados por tempo indeterminado. Muitas das medidas tomadas em eventos culturais ao redor do globo e, também na pacata Itaúna, colaboraram para que a doença não se alastrasse entre a população. A partir da força que só as grandes calamidades mundiais têm, artistas, escritores, instituições e galerias começaram um processo de renovação em diferentes direções.
Mais do que nunca as pessoas estão em busca da arte
O professor de Ciências Sociais, ator e diretor teatral, Elimar Alves, destaca que, apesar deste período de isolamento social, a cultura não está esquecida e que é neste período que as pessoas estão procurando ainda mais a arte. “A cultura não está esquecida; os produtores sim, todos estão se reinventando e a área cultural também. Mas para a gente sentir os efeitos desta reinvenção, vai levar um tempo. Infelizmente, as artes cênicas, que precisam de público para existirem, estão sem amparo e os profissionais que produzem cultura, precisam ser assistidos pelo Estado rapidamente”, opina. Dentre os planos de Elimar que foram frustrados em função da Covid-19, está a montagem da peça “A Escolas de Mulheres”, de Molliére. Elimar iria dirigir o espetáculo e tinha feito contato com os atores Lívia Maia, Mailson Queirós e Luiz Toledo. Os planos de um espetáculo maior foram adiados para o pós-pandemia, até mesmo de uma proposta mais modesta, a montagem de um esquete da peça francesa, feito por Millôr Fernandes, ficou para depois. “Não acredito em um retorno rápido das atividades culturais, pois o medo de aglomerações está instalado e isso vai demorar um pouco a se desfazer. O ócio criativo precisa se estabelecer, esse é o caminho para as reinvenções”, completa.
Aulas e espetáculos de teatro virtuais
Ainda com relação às artes cênicas, a cidade, tradicional neste campo, mantém algumas opções de aprendizado e desenvolvimento de atividades para o teatro. O conhecido Léo Souza, professor e dirigente da Itinerante Cia. de Teatro, tem sua escola de teatro para alunos de todas as idades. Temporariamente suspensa, a escola de teatro da Itinerante está realizando encenações de textos curtos (esquetes) de forma virtual e estes programas são disponibilizados na página do grupo no Instagran. A prefeitura, através da Gerência de Cultura, oferece gratuitamente a um público diversificado oficinas de teatro, violão, dança do ventre, hip hop e percussão. Por causa da pandemia e da obrigatoriedade do isolamento social, as aulas estão sendo modificadas e oferecidas de forma virtual pelos professores em vídeos, no Instagran. Para Sílvio Márcio Bernardes, professor da Oficina de Teatro do Espaço Cultural e do Tempo Integral da Escola Municipal Professora Celuta das Neves, o momento pede a reinvenção das didáticas propostas nas artes e também na educação. “Nesses tempos de isolamento social, quando somos impedidos das aulas presenciais, temos regularmente encaminhado propostas de exercícios e jogos teatrais através do canal da Gerência de Cultura de Itaúna no Instagran”, conta. “Também venho propondo às alunas e alunos da Oficina de Teatro, por meio do WhatsApp, leitura de textos, realização de performances e exercícios de interpretação, em casa e postados nos grupos da rede social. Temos que nos reinventar e ressignificar o fazer teatral através do mundo virtual com leituras, narrativas e atividades variadas, pelo menos uma vez por semana”, completa.
As dificuldades em lidar com as ferramentas
Aliadas da arte e da cultura, a tecnologia e o mundo virtual ainda são vistos com certo receio por muitas pessoas que compartilham a máxima de que a experiência presencial, vai muito além do que é possível vivenciar na tela dos computadores ou celulares. A atriz e professora de teatro, Elina Dirce de Oliveira Bernardes, faz parte deste público e diz que, sente falta dos palcos e do contato com o público. “O teatro, significa movimento, encontro e troca. É gente com gente, olho no olho, escuta e aprendizado. E, agora, temos que ficar em casa isolados. Teatro é vida, vida é convívio, convívio é movimento, é encontro e troca com o outro. Sem o público tudo se perde”. A atriz diz que apesar de muita gente estar utilizando a internet para atingir o público, não é a mesma coisa que estar frente a frente com as pessoas. “Esta tecnologia não é do agrado de todo mundo, principalmente daqueles que não são amantes desses recursos modernos e dependem de outrem para usá-los. Então, vamos seguindo, sem perder a esperança de que tudo passa”, diz esperançosa.