Atividades de lazer, entretenimento e arte ficaram para trás e deixaram muitos profissionais sem renda

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A palavra ‘cancelado’ tomou uma dimensão bastante usual nos últimos tempos. Quando a pandemia da Covid-19 atinge números exorbitantes de infectados e de mortes cancelam-se eventos, encontros entre amigos, abraços e há quem diga, usando de gíria pouco comum à maioria das pessoas, que a doença vai promovendo outros tipos de cancelamentos irreversíveis. Por enquanto, estamos falando dos cancelamentos de eventos festivos, de lazer e de cultura, já há quase dois anos, desde que as autoridades sanitárias perceberam a gravidade do coronavírus. Não é novidade a situação difícil, do ponto de vista financeiro, dos artistas e promotores de eventos artísticos e de entretenimento, desde o momento em que a principal recomendação foi a de cancelar as aglomerações. Pediram-se o mínimo contato físico entre pessoas que não vivem na mesma casa. A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.

Itaúna vivencia dias difíceis, como tantos outros municípios, com a ausência de atividades de arte, lazer e entretenimento, que antes ocupavam o calendário durante todo o ano. Além da arte e do lazer, esses eventos eram também fonte de renda para diversos profissionais, da música, do teatro, da dança, da decoração, das floriculturas, da gastronomia e auxílio que ajudam a sustentar diversos projetos assistenciais.

Rotary Itaúna Cidade Educativa continua assistindo entidades 

Os clubes de Rotary estão se reinventado na missão de continuar, mesmo na pandemia, a desenvolver projetos comunitários. Essa é a informação do vice-presidente do Rotary Itaúna Cidade Educativa, Inácio Campos Cordeiro Júnior. Ele conta que a entidade fez recentemente campanha e promoveu uma live para aquisição de recarga de oxigênio para o Hospital Manoel Gonçalves, que rendeu mais de R$ 30 mil. Também realizou doações de EPI’s para a Polícia Militar e outras instituições. O clube rotariano promoveu testes da Covid RT PCR de todos os idosos acolhidos em asilos de Itaúna, bem como dos colaboradores, voluntários e funcionários destas instituições. Vários rotarianos participam também de doações de cestas básicas para as comunidades carentes. Foi também o Rotary Itaúna que fez homenagem aos profissionais da linha de frente do atendimento à Covid no Hospital, com doação de chocolates e pizzas.

“Tem sido um desafio muito grande e requerido muita criatividade para continuarmos proporcionando à comunidade um pouco da nossa missão, que é “dar de si, antes de pensar em si”, salienta o rotariano.

A presidente do Rotary Cidade Educativa, Adriana Dias, reforça a fala de Inácio Cordeiro Júnior e conta que inúmeros eventos que tinham a participação dos clubes de serviço, como a Queima do Alho e o Boi no Rolete, tiveram que ser cancelados desde o ano passado, a fim de evitar aglomerações. No entanto, reafirma a fala do colega quando afirma que dentro do possível o Rotary Clube não deixou de atuar junto à sociedade civil e assistir às pessoas em suas necessidades mais prementes.

Alexandre Muzzi: só temos que aguardar a vacinação

No campo das promoções particulares destinadas não mais à filantropia ou à assistência social, mas ao lazer das pessoas, há mais de um ano a cidade deixou de comparecer a shows, happy hour, festas de final de semana. O ‘sextou’ de antes deixou os ambientes de grande concentração de pessoas para estar na intimidade do lar, à frente da televisão ou do computador, em intermináveis séries regadas à pipoca, batata frita e brigadeiro.

O empresário de eventos gastronômicos e musicais e produtor de cerveja, Alexandre Muzzi, conta que com quase dois anos de retração das atividades por causa da pandemia, diversos profissionais estão sem trabalho, não somente os artistas do palco, mas também garçons, iluminadores, decoradores, divulgadores, sonoplastas, iluminadores etc. “O produtor de eventos é apenas a pontinha do iceberg”, ressalta. Muzzi afirma que no momento não há o que fazer a não ser aguardar a vacinação para todos ou, pelo menos, para a maioria da população. Em suas contas, até agora foram imunizados cerca de 20%, uns 40% tiveram a doença, ainda assim a situação está muito grave. “Não adianta querer culpar alguém nesse momento. A situação está essa loucura e o que temos que fazer é esperar pela vacina. Sou duplamente afetado, como promotor de eventos e como empresário de cervejaria, porque meus clientes são os bares, que mais uma vez são afetados. A situação é delicadíssima e não há alternativa a não ser a vacina”, pontua.

Washington Damião: voltar a trabalhar, dentro dos protocolos de segurança

O produtor cultural Washington Damião entende que os profissionais de eventos devem juntar forças neste momento. Ele informa que em Itaúna existe a APEI, Associação dos Profissionais de Eventos, que foi criada para unir os profissionais. Também recorda que o governo tem contemplado os artistas e demais profissionais com alguns recursos, como a lei Aldir Blanc, “que foi muito bem conduzida pelo nosso gerente de cultura, Joe”. Segundo Damião, tais auxílios ajudam, mas não resolvem a situação do profissional do setor. A alternativa é se reinventar e voltar a trabalhar, dentro dos protocolos de segurança.

“O setor de eventos foi o mais impactado na pandemia da Covid-19 e infelizmente muitos profissionais da cidade perderam o seu sustento, muitos estão buscando outras alternativas ou tentando se reinventar. Nossa esperança está na vacinação. Existe a expectativa que antes do fim do ano a pandemia esteja controlada. Vamos torcer para que se concretize”, analisou.

Para o Espaço Dona Regina não há como inventar eventos menores 

A situação do cancelamento momentâneo da vida cultural na cidade foi também avaliada pelo proprietário do recém-criado Espaço Dona Regina, Geraldo Gabriel, o Gibi. Ele afirma que os empresários do setor de grandes eventos não têm muitas alternativas, uma vez que as atividades menores não cobrem os custos. “Estamos de mãos atadas, reinventar às vezes é mais danoso do que paralisar. Precisa de investimento para apresentar um novo produto, diferente do setor varejista, que só muda a forma de vendas. Os restaurantes podem fazer delivery, bares podem trabalhar com distanciamento. Como podemos fazer um grande evento onde o espaço tem que ser limitado?”, pondera. Para o Espaço Dona Regina o impacto de mais de um ano inativo está sendo enorme. E os efeitos alcançam outros profissionais que tinham empregos temporários nos grandes eventos realizados, como dos hotéis, ambulantes, taxis e aplicativos, lojas etc. “Além da falta de entretenimento, a cidade deixou de arrecadar e trazer geradores de renda”, ressalta.

Fernando Nogueira, da Roinc Produtora: Quando todos estiverem vacinados, poderemos retornar com os eventos

O cantor Fernando César de Freitas Nogueira Júnior, sócio da Roinc Produtora, que organiza o Funeral da Porca, considerado o maior evento de entretenimento empresarial da cidade, concorda que tudo isso é muito triste. Mas salienta que não foi somente uma surpresa negativa para o mundo dos eventos e sim para o mundo todo, em todos os ramos. Houve uma reviravolta total na vida das pessoas e não há muito o que fazer, a não ser aguardar as iniciativas dos responsáveis pela vacina. “Quando todos estiverem vacinados, poderemos retornar com os eventos e pensar em aglomerar mais pessoas”, afirma. Ele destaca que nesse tempo estão pensando em novos projetos, buscando alternativas para não perder o pique e para quando retornar, atender melhor o público. O cantor pontua que as propostas realizadas no início da pandemia, como a lives de shows, hoje já não têm o mesmo alcance e interesse, até mesmo por causa do distanciamento artista/público e da ausência dessa emoção do evento presencial.

Impactos incalculáveis para vários profissionais

Os impactos negativos são incalculáveis na opinião do artista e produtor, e é melhor não ficar pensando muito nisso, não ficar olhando para trás. “Temos que seguir adiante, pensando em novos projetos. Essa situação nos traz o efeito dominó, se não há o evento, aquele profissional que vende marmitex fica no prejuízo, o hotel não aluga o quarto, o salão de beleza não atende, o segurança fica sem trabalho. Então, esses impactos, principalmente financeiros, são incalculáveis”, avalia Fernando Júnior. Mas ele acredita que em breve tudo isso vai passar, com a potencialização da vacina para todos e o retorno das atividades de entretenimento, cultura e arte para a geração de renda para o município.

Cancelados o Arraial das Creches e as festas juninas nas escolas

Mais uma vez o tradicional Arraial das Creches, organizado pelas instituições do município e a Secretaria Municipal de Educação, não acontecerá. O evento era organizado como proposta de oferecer lazer às pessoas, apresentar atividades das creches do município durante o ano e arrecadar recursos financeiros para seus projetos. Nas escolas, as conhecidas festas juninas, que têm o mesmo objetivo e que são de grande significado para o caixa das instituições, também não serão realizadas mais uma vez.

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