Cães soltos nas ruas de Itaúna: abandono, doenças e sujeira

Vereadora Carol Faria afirma que problema é geral, mas faltam políticas públicas. Setor de Zoonoses argumenta que há pouco o que fazer, a não ser o serviço de castração e testes de Leishmaniose

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Alguém disse outro dia que andar pelas ruas de Itaúna, sobretudo no centro, é um perigo, já que os incautos correm o risco de pisar em cocô de cachorro. Cachorros e cocôs estão espalhados pelas ruas e, até outro dia, eram assunto nos comentários gerais os ataques de cães da raça pitbull que circulam livremente por aí. A vereadora Carol Faria (Avante), que tem a causa animal como uma das principais bandeiras de sua atuação parlamentar, manifestou descontentamento com relação ao poder público sobre o problema. Foi ela quem afirmou que muitas pessoas estão abandonando seus pets nas ruas e não há um serviço eficiente para cuidar do problema.

Ao Jornal S’PASSO ela afirmou que o controle das populações de cães e gatos constitui um problema em todo país e depende da atuação direta do executivo e associações de proteção animal. Hoje, o principal foco da causa animal é a castração. Através da castração os cães e gatos que estão em situação de rua não irão reproduzir e a longo prazo esse número de animais soltos na rua será reduzido.

“É importante lembrar que hoje o maior problema da causa animal são as próprias pessoas que abandonam estes animais, e os tutores que não castram os seus pets. Na maioria das vezes, os animais abandonados são fruto de tutor que não castrou seus animais domésticos, permitindo a reprodução e depois descarta seus filhotes como lixo.

Outro ponto importante é a situação das castrações gratuitas realizadas no município. O castramóvel da prefeitura realiza as castrações somente no período da manhã e são pouquíssimos animais por dia. A fila de espera é enorme e é um processo demorado, o que traz a necessidade de um reforço. O que eu, como vereadora, consegui fazer para aumentar esse número de animais castrados foi repassar essa demanda ao deputado Fred Costa, que destinou R$100 mil para Itaúna para que seja feito esse reforço, com uma estimativa de mais ou menos 800 castrações em clínicas veterinárias com finalidade de desafogar o castramóvel do município”, esclareceu.

Abandono e maus tratos

Sobre o crime de abandono, cometido em Itaúna por pessoas de outras cidades, a vereadora diz que não tem essa confirmação, embora acredita que há possibilidade de acontecer sim, pelo fato de muitos animais serem encontrados às margens de rodovias. “Mas, a grande maioria dos crimes de maus-tratos/abandono continua sendo cometida pelos próprios munícipes e em pontos específicos, como na zona rural e em bairros afastados como Peixotas, São Bento, Leonane etc.”, apontou.

Leis de proteção aos animais

O setor de Vigilância Ambiental e de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde esclarece que há pouco o que se fazer sobre a quantidade de cães nas ruas. Apenas testes de Leishmaniose e, quando negativo, providenciar a castração do animal para que seja efetivado o controle da população de cães e gatos.

“Infelizmente está acontecendo muito abandono de animais nas ruas, mas, legalmente falando a gente pouco pode fazer além disso. Existem leis que protegem os animais, então, a nível de zoonose só podemos fazer esse tipo de serviço”, esclarece a responsável pelo setor, Jordana de Oliveira Vieira.

Acionar o Corpo de Bombeiros para situação de ataque de animais

O setor de Zoonoses da Prefeitura foi acionado sobre os ataques de cães pitbull, ocorridos recentemente nas ruas e quando os técnicos se encaminharam para o local não encontraram nem os cães, nem seus tutores.

“A gente orienta, em situações como essas, que as pessoas acionem o corpo de bombeiros, porque eles possuem equipamentos adequados para recolherem os animais. Eles são encaminhados para o setor de zoonoses, ficam em observação e diante do boletim de ocorrência são tomadas as providências. Geralmente quando acontecem esses ataques, os animais não ficam no local e, muitas vezes, não temos acesso ao lugar para onde foram encaminhados. A orientação é essa, quando uma pessoa vir um animal atacando outro, ou pessoas, ou oferecendo algum tipo de perigo, que ela entre em contato imediatamente com o corpo de bombeiros para que o mesmo seja recolhido, tirado da via pública. No momento do ataque pouco podemos fazer porque a gente fica sabendo somente depois que a pessoa é atacada”, afirmou Jordana.

De janeiro a abril foram realizados quase 500 testes de Leishmaniose

Para o secretário municipal de saúde, Fernando Meira de Faria, infelizmente existe a constatação de abandono crescente de animais nas vias do município. “Diariamente realizamos exames de leishmaniose nos animais soltos nas ruas, quando capturados, nos animais com tutores, quanto estes solicitam o exame na residência, e também realizamos exames no setor de vigilância ambiental todos os dias, das 7h às 15h30. No primeiro quadrimestre (janeiro a abril) realizamos 491 testes rápidos para leishmaniose (animais de rua e animais com tutor). Desses 491 testes rápidos, 134 foram positivos e coletados sangue para enviar para a FUNED (Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte) para contraprova. Dos 134 exames enviados à FUNED, 72 voltaram positivos, 24 negativos, 3 indeterminados (necessário coletar novamente) e 35 continuam aguardando resultados”, esclareceu.

Consciência da posse responsável

Perguntamos ao secretário o que fazer para solucionar o problema da enorme quantidade de animais abandonados na cidade. Ele observou que a solução está no mérito da posse responsável. “É muito difícil, mas temos trabalhado com a conscientização, principalmente nas escolas”, disse.

“Lei da Focinheira” foi sancionada  há mais de 21 anos mas não é obedecida

Em 23 de novembro de 2001, o então prefeito Osmando Pereira da Silva sancionou a lei nº 3.660, que dispõe sobre o uso obrigatório de focinheira e manutenção de cartão atualizado de vacinas para cães em vias públicas. A proposição é de autoria do ex-vereador Vicente Gabriel Gonçalves Penido e faz referência a cachorros de grande porte, suscetíveis a estranharem – e atacarem – outros animais e pessoas nas ruas, colocando em risco especialmente crianças e idosos. A lei não tem sido obedecida nesses quase 22 anos desde que foi sancionada.

“Fica o responsável pelo cão obrigado a registrá-lo junto à Secretaria Municipal da Saúde – Departamento de Vigilância Sanitária e Departamento de Epidemiologia – bem como obrigado a manter o cartão de comprovação de vacinas atualizado. O não cumprimento do disposto nos artigos supra citados acarretará ao responsável punição com a apreensão do animal e pagamento de multa para sua retirada”, diz um trecho da lei.

Street dogs having an afternoon nap.