Centro da Juventude completa quatro anos com café, oficinas e roda de conversa

Jovens falam ao Jornal S’PASSO sobre a importância da entidade e das oportunidades que a cidade oferece para que eles tenham acesso à cultura e lazer

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Uma roda de conversa marcou o encerramento do dia nas comemorações do 4º aniversário do Centro da Juventude, criado pela Secretaria de Desenvolvimento Social – sob a coordenação do médico Élvio Marques da Silva, hoje vinculado à Secretaria de Cultura e Turismo. Com a presença do secretário Ilimane Lopes, o Joe e de assessores; do presidente da CJ, Jéferson Emiliano; da vereadora Edênia Alcântara (PDT), a primeira dirigente do órgão; e de poucos jovens, o evento trouxe algumas narrativas do que foi o Centro da Juventude nos seus primeiros passos, em 2018, durante o período da pandemia e agora, no pós-pandemia, quando  busca  novas ações e o recebimento de recursos. Joe anunciou na roda de conversa, que o CJ está de malas prontas para ocupar um novo espaço onde terá a cara da juventude oferecendo além das oficinas de capoeira, pintura, dança do ventre etc. que hoje acontecem, ambiente para encontro espontâneo das pessoas com palestras, cursos, bate-papo, música, teatro, entre outros. Hoje o CJ divide o espaço com a Praça de Esportes JK, que já pediu as salas para suas atividades esportivas.

Marcas apagadas: desconstrução da memória

Um dos momentos mais marcantes e emocionantes da roda de conversa foi a fala do fotógrafo Hércules Matarazzo, que esteve presente nos primeiros anos do Centro da Juventude e que agora, ao ensaiar um retorno, vê que as ações que eram realizadas e que tinham a participação de inúmeras pessoas já não estão mais presentes. Ele revelou que as paredes do prédio do CJ, pintadas de azul, escondem os grafites de artistas que ali frequentavam, apagando suas assinaturas e memórias do lugar, inclusive de um jovem que pouco depois desses eventos entrou num quadro de depressão e tirou a própria vida. “Que esses jovens que aqui estiveram um dia não sejam apagados com tinta azul”, pontuou. O secretário Joe prometeu que se tiver fotografias desses painéis, parte dessa criação artística poderá ser reproduzida no novo prédio do CJ. O secretário não quis revelar à reportagem onde será o novo Centro da Juventude, “para não criar expectativas que possam ser frustradas”.  

Fala galera!

Alguns jovens itaunenses foram convidados pelo Jornal S’PASSO para falarem dos espaços que têm na cidade e também opinaram sobre o funcionamento e importância do Centro da Juventude em Itaúna.

Poucos espaços e projetos com a cara dos jovens

Isadora Maciel

Isadora Maciel tem 19 anos. Estuda inglês e ainda está indecisa diante da possibilidade de um curso superior. Sua ocupação no momento tem um direcionamento irresoluto, uma viagem ao Rio de Janeiro, onde irá assistir ao show da banda inglesa Arctic Monkeys, sua paixão, que ela conheceu no You Tube. Até arranjou um trabalho para auxiliar nas despesas de viagem. Para Isadora, os jovens itaunenses estão frequentando espaços de adultos porque não existem lugares específicos para eles. São bares, como Culture e Bola 15, eventos no Espaço Dona Regina e Espaço Marvel. “Não conheço, de verdade, nenhum espaço que seja só para jovens, a não ser a pista de skate. Os jovens ficam na rua até tarde, na pista e no centro da cidade… e só”, considera. Ela revela que não conhece o Centro da Juventude, mas tem ouvido de alguns amigos que o lugar é meio burocrático e isso afasta os jovens, que são avessos a muitas regras e imposições. Entendo que se tivesse mais jovens na coordenação desses espaços haveria mais eventos para chamar atenção e atrair a juventude. Agora mesmo, estamos próximos do Halloween, poderia ter festas acontecendo em vários lugares. E seria até mais fácil de divulgar porque seria de amigo para amigo e não um anúncio aleatório”, ensina.

Miguel Bessa

Espaços são democráticos e acessíveis

Estudante de jornalismo da PUC Minas, em BH, Miguel Bessa, 20, avalia que Itaúna é uma cidade completa no tocante ao Esporte. “Temos uma diversidade de locais onde podemos jogar basquete, futebol, tênis, vôlei de praia, skate, entre outros. Em outras atividades de lazer, também acredito que Itaúna tem muitos eventos promovidos, tanto pela iniciativa privada, quanto pelo poder público, como o Festival de Inverno, por exemplo”, opina. Para ele, os espaços para a juventude são lugares democráticos e acessíveis. Em todas as regiões da cidade existem praças e quadras públicas onde os jovens podem praticar esportes e se reunir. Também vê como assertivas as políticas públicas para os jovens, pois a cidade tem vários pontos conhecidos por integrar as diferentes juventudes, seja na Prainha, nos bairros ou em espaços privados. Miguel Bessa afirma que conheceu o Centro da Juventude quando era estagiário de Jornalismo em Itaúna, hoje é estagiário na capital. Entretanto, revela que de sua turma de amigos, quase nenhum conhece o local e as atividades que lá são promovidas.

Ronan Resende

A cultura deve estar em todos os lugares

Estudante na UFMG e estagiário de Jornalismo em Belo Horizonte, Ronan Resende, 20, entende que os maiores pontos de lazer e entretenimento em Itaúna são as casas de eventos musicais, os espaços de festas universitárias e também alguns bares que possuem como público-alvo os jovens. Ele também cita o carnaval, “que é o evento mais atrativo da cidade” para a sua faixa etária, pois reúne grande parcela da população. “Não acho que todos os lugares são acessíveis. No setor privado, por exemplo, os espaços cobram valores muito altos somente para entrada. Ao entrar no evento, o valor das comidas e bebidas também é caríssimo. Nem sempre essas quantias cabem no bolso do jovem. Os eventos públicos como o Carnaval e o Festival de Inverno são sim bastante democráticos e participativos. São acertos do poder público itaunense, pois estimulam a economia e a cultura. Mas ainda vejo pouco investimento nesses eventos, que poderiam ser melhores”, pontua.

Ronan diz que sabe da existência do Centro da Juventude, mas desconhece as atividades desenvolvidas lá. “Nenhum amigo nunca comentou comigo sobre o lugar. As campanhas publicitárias, se tiverem acontecido, foram ineficazes. Imagino que o lugar tenha sim uma função social que transforma positivamente a sociedade, mas minha impressão é de que as atividades ficam restritas a um público específico. Uma coisa que me pergunto sempre é: por que a Prefeitura, não só essa gestão como todas as outras, nunca estimulou um circuito urbano de arte? É tão difícil assim colocar bons artistas e DJ’s da região para cantar e tocar músicas nas principais praças e avenidas de Itaúna? Por que não fazer parcerias público-privadas para aumentar o número de grafites nos prédios e embelezar nossa cidade? Trazer as diversas formas de arte para toda a cidade é uma ótima forma de valorizar os artistas locais e atrair não só o público jovem, mas também crianças, adultos e idosos. Falta arte de rua. A cultura não pode ficar presa dentro de um espaço. Ela tem que estar em todos os lugares”, salientou.

Lazer e entretenimento são a última coisa que se pensa

Estudante de Medicina da Universidade de Itaúna, Júlia Soares, 22, opina que a última coisa que se pensa na cidade é em lazer e entretenimento. Ela faz coro a inúmeros amigos que consideram a cidade com “morta” nesses campos. “Acho fundamental que existam investimentos públicos nesse setor, pois é assim que a sociedade avança. Além do mais, cultura, lazer e entretenimento trazem novas possibilidades para o jovem tirando-o da violência, oferecendo perspectivas para a sua vida e, também, oferece investimentos na geração de empregos. Isso é fundamental”, observa.

Coletivo  Cidade Conversa, dez anos depois

Em 2012 foi iniciado o projeto Coletivo Cidade Conversa, no coreto na Praça Dr. Augusto Gonçalves, de iniciativa de jovens artistas de vários segmentos, especialmente da música, artes plásticas e teatro. O coreto hoje está fechado, emparedado por um cinturão de madeiras. O projeto cultural e artístico funcionou de 2012 a 2014 com eventos mensais, levando à Praça MUITOS JOVENS.

O servidor público e ilustrador Mairon Alves é um dos coordenadores do Cidade Conversa e destaca que os artistas eram convidados e ali mostravam sua arte em performances musicais, teatrais, literárias e de artes plásticas, gratuitamente. “Em 2014 demos uma pausa pois o evento já havia crescido muito, e por ser um projeto gratuito, não tínhamos até então um patrocínio que podíamos custear as atividades, pagar todos artistas envolvidos. Era um projeto de voluntariado, mas que depois de dois anos se tornou inviável. Durante esse tempo a Prefeitura ajudava com o que podia, transporte e infraestrutura com banheiros e barracas. Em 2016 voltamos com três eventos através da Lei de Incentivo à Cultura, e conseguimos ter uma maior estrutura e um apoio para fazer o evento como queríamos”, esclarece.

Mairon Alves afirma que há possibilidade do retorno do Cidade Conversa agora, quando estará completando 10 anos de criação. “Pelo menos haverá uma comemoração desses 10 anos”, prometeu.

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