COOPERT 21 anos: a trajetória que ganhou o respeito ao redor do mundo

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Esperança, sonhos, conquistas e reconhecimento é a ordem cronológica correta da história da Coopert, a Coopetartiva de Catadores que surgiu em 1.999, quando a crise afetou a maioria dos municípios brasileiros e mais de 100 famílias foram parar no lixão municipal, então localizado ao lado do Cemitério do Parque Jardim.

Sem condições de se manter e também garantir o sustento dos filhos, homens e mulheres começaram a separar materiais reciclados do lixo, em um ambiente inóspito em que os caminhões chegavam e despejavam o que era desprezado pelas famílias da cidade.

Foi no antigo lixão que surgiu a figura da cidadã Maria Madalena Rodrigues Duarte Lima, 59 anos, uma das percursoras do movimento que humanizou a vida dos catadores que atuavam naquele ambiente insalubre. Com a vontade e a perseverança de Madalena, surgiu a Cooperativa. Ela recorda que cerca de 27 famílias acreditaram na ideia e encabeçaram o movimento. “Nós garimpávamos no lixão, onde o gestor do local, na época, despejava todo o lixo in natura e fazíamos ali mesmo a separação. A nossa história é longa, mas não podemos deixar de lembrar dos percursores que foram o José Santos, advogado, o ex-vereador ‘Mirinho’, o funcionário público ‘Carioca’ e muitos catadores. Essas pessoas, vendo a realidade e a necessidade da mudança, colocaram a mão na massa para fazer a Cooperativa virar realidade”.Madalena lembra também que muitas reuniões com os catadores ocorriam no próprio lixão e, somente depois foram transferidas para o sindicato dos trabalhadores metalúrgicos. “Nesses encontros, debatíamos questões como o trabalho coletivo, a possibilidade de ter um espaço organizado para a separação e coleta e também a participação efetiva do poder executivo no processo de implementação da Cooperativa. Planejamos para conseguir alcançar hoje a posição que temos, tanto que, ao reconhecerem a seriedade do projeto, o restante dos catadores da época foram se integrando ao movimento”, afirma Madalena.

Retirada do Lixão

O lixão no Parque Jardim, fonte de renda e dignidade para muitas famílias, sempre incomodou quem morava no bairro. E com razão: localizado na área urbana, com várias residências no entorno, o mal cheiro e os urubus eram parte do cenário do local de trabalho de muitos. Em contra partida, para outros, era motivo de desvalorização dos imóveis, o convívio com o odor desagradável e a possibilidade de aparecimento de animais peçonhentos nas casas. Por isso, os moradores, inúmeras vezes, pediram a intervenção da justiça para a desativação do projeto e mudança de local.

Com a Cooperativa de Reciclagem e Trabalho já estruturada, os cooperados tiveram o apoio da FEAM para planejar a destinação dos resíduos sólidos e a retirada do lixão do meio urbano, além da implementação da coleta seletiva na cidade.

Hoje, o Aterro Sanitário está instalado na MG 050, e para ele são levados os resíduos molhados e os que não são reaproveitados na reciclagem. A sede da cooperativa fica localizada anexo ao aterro, com área total de 15 mil metros, para facilitar a separação e destinação dos resíduos. São ao todo um centro de triagem, espaço de estoque, local de prensagem, refeitório, vestiários, escritório e balança de caminhões.

Atualmente, a COOPERT conta com 73 cooperados que recebem cerca de R$2.600 mensais, além de oferecer aos 28 catadores que fazem a coleta com carrinhos na cidade, um ecoponto de apoio. A Cooperativa possibilitou também a criação da Associação dos Catadores de Itaúna- ASCARUNA.

Referência

O projeto de destinação de resíduos sólidos de Itaúna é referência nacional e internacional e a cooperativa faz parte do grupo CATAUNIDOS que congrega 33 empreendimentos para comercialização em conjunto de reciclados, dos quais participam as cidades de Carmo do Cajuru, Divinópolis, Santo Antônio do Monte, Arcos, Mateus Leme, Juatuba, Florestal e outros municípios que têm cooperativas e associações que seguiram o modelo itaunense de coleta seletiva.

“Cerca de 300 municípios de Minas Gerais já visitaram Itaúna para conhecer e utilizar o modelo da Coopert como base para o início da coleta seletiva. Governantes de Natal, no Rio Grande do Norte, Ourinhos, em São Paulo e de Belo Horizonte também estiveram aqui, além das visitas internacionais. Me recordo de figuras ilustres do exterior, como a primeira dama da França, Danielle Mitterrand, que nos apoiou por um bom tempo, até seu falecimento em 2011”, destacou.

Madalena visitou muitos países, apresentando o projeto de separação de resíduos sólidos. Esteve na Argentina, Paraguai, Colômbia, França, Chile, Índia, Tailândia, Indonésia, Uruguai, Venezuela, na cidade de Nova York e se orgulha de dizer que 26 países se espelharam em Itaúna e no trabalho da Coopert para iniciar a coleta seletiva. Madalena destaca que muitas pessoas têm desprezo pelo lixo, mas hoje, “o lixo virou luxo no mundo”, pois ele gera profissão, renda e movimenta o cenário econômico. “Temos diversas pessoas nas cooperativas, trabalhando com dignidade e, muitas cursaram Direito, Sociologia, Psicologia e Pedagogia. Elas estão formadas, mas por gostar do trabalho que fazem, não deixam as cooperativas. Um exemplo aqui em Itaúna é o próprio Mirinho, que se formou em Direito e foi vereador”, conta.

Emocionada, ao lembrar a trajetória de 21 anos dos catadores, Madalena diz que a vitória vem de Deus. “Quando chegamos em alguns lugares, onde os gestores têm o desafio de implantar um plano de gerenciamento de resíduos, ainda encontramos muitas barreiras. Mas começamos a falar da nossa história e vemos brotar uma esperança.

A mensagem que eu deixo para as pessoas é que se conscientizem sobre a importância do Meio Ambiente. Quando você separa o lixo da sua casa, não é para a COOPERT, é para a sua saúde, para o Meio Ambiente e para ter uma qualidade de vida melhor”, finaliza.

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