Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda. Os dados são de um levantamento do Datafolha feito em fevereiro e encomendado pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.
Porém, ao contrário do Brasil, Itaúna comemora a queda das ocorrências envolvendo a violência contra as mulheres. Entre o último ano e os primeiros meses de 2020, Itaúna registrou 263 ocorrências policiais que vitimaram mulheres. Uma redução de 44% em relação a 2018, quando foram 471 casos. Os dados da Delegacia da Polícia Civil de Itaúna apresentam também que ocorreu apenas um caso de feminicídio na cidade, em 25 de maio de 2019.
Segundo o Delegado da Polícia Civil, Dirceu Ribeiro, o resultado é consequência do trabalho realizado pela Delegacia da Mulher e Família, que vem investigando, ouvindo testemunhas, suspeitos, e realizando a prisão dos culpados pelas violências acometidas.
“É muito importante que as mulheres não tenham medo e possam trazer as denúncias ao conhecimento da Polícia. Muitas ficam abaladas com a violência que sofrem do companheiro ou de outro integrante do ambiente familiar. Sempre alerto que elas não podem se deixar levar pelo terrorismo e, se tiverem medo, que procurem a delegacia. É preciso que as mulheres não deixem de denunciar qualquer tipo de violência que sofrem, pois a vida delas depende disso”, explica o delegado.
Ainda que a redução tenha sido significativa, os números ainda são altos, o que requer maior estruturação de órgãos de proteção tanto em relação aos abusos físicos quanto psicológicos. “Infelizmente, o caminho é longo. Ainda estamos muito distantes de sanar crimes de ódio motivados pela condição de gênero. A violência contra as mulheres é uma triste realidade no Brasil, e ainda maior em Minas Gerais. Atualmente, nosso Estado lidera o número de casos de feminicídio no país e reverter essas estatísticas é um compromisso que a sociedade precisa ter todos os dias. Atuando, pautando, e promovendo ações de prevenção e mobilização. Gestores públicos têm o dever de despir as viseiras e de fato investir em educação e na criação de canais efetivos para o acolhimento e denúncia. As vítimas precisam se sentir acolhidas para terem condições de denunciar e se manterem protegidas. A educação também é uma peça-chave nesta luta contínua. Creio que este é um dos passos fundamentais para reverter esses índices abomináveis”, Francielle Cota, uma das lideranças do Coletivo Feminista de Itaúna, que segue temporariamente paralisado.
Uma vítima, que sofreu abusos por 11 anos, e que chamaremos de Ana conversou com nossa reportagem. Ela conta que conheceu o companheiro com 19 anos e, após um tempo juntos, ele começou a apresentar comportamentos mais violentos e repreensivos. O casal já tinha um filho, que constantemente era alvo de ameaças do pai para que esse tivesse o controle da mãe. “Na minha cabeça era só uma fase que ele passava, que eu o ajudaria a sair dessa, que ele precisava de mim por estar com depressão. Mas era exaustivo e ele chegou a urinar em mim enquanto fazia o almoço, já defecou em nossa cama para que eu não saísse e ficasse limpando. Ele nunca me bateu, mas era uma agressão psicológica diária”, relata.
Ana ainda conta que o marido começou a usar drogas e se prostituía para consegui-las. “Ele contraiu Aids e não me contou, minha sorte é que não estávamos mais tendo relação sexual há aproximadamente dois anos, mas ele em nenhum momento pensou em mim ou no nosso filho e esta foi a gota d’água”, afirma. As vítimas de violência doméstica podem ligar na Central de Atendimento à Mulher (180), que funciona 24 horas, em qualquer lugar do país, para fornecer informações e encaminhar denúncias aos órgãos competentes. A ligação é gratuita de telefone fixo ou celular.