Histórias sem nomes

0
961

Era uma vez… três candidatos

PSO*

Antigamente, as empresas meteorológicas não eram tão confiáveis quanto hoje, previam chuva e dava sol, previam sol e caía água. Poderiam ser comparadas aos institutos de pesquisas de opinião de hoje em dia, que erram mais do que acertam em seus resultados nas disputas eleitorais, carecendo de novas tecnologias para darem conta da velocidade com que mudam os fatos e suas avaliações por parte do eleitorado. Sem falar na influência das fake news, que deturpam o ponto de vista do entrevistado de um dia para o outro. Este paralelo entre estas duas entidades pesquisadoras, uma do tempo e a outra do humor eleitoral do cidadão, fará todo sentido no decorrer dos fatos vindouros por aqui. Já vamos dizendo que a turma da previsão do tempo acertou em cheio o que a natureza reservava para um certo cair da tarde/noite de uma sexta-feira, contra todas as perspectivas de muita gente interessada em um anoitecer cheio de estrelas, sendo tempo de estiagem.

Coincidentemente (ou propositalmente), o referido final de dia foi o escolhido para o lançamento das TRÊS CANDIDATURAS ao cargo de prefeito da cidade. Nem precisamos dizer que o trio de concorrentes estava dentre os que contavam com uma “noite de namorados”, com lua cheia e céu risonho. Ninguém explicou o que levou os três pretendentes à escolha dos locais de seus comitês, todos na mesma região da cidade, na verdade , quase que vizinhos um do outro, facilitando-lhes até para saber o que estaria sendo tramado pelos concorrentes, bastando espiar pelas gretas… outra coincidência ou foi de caso pensado. Outros propósitos podem ter influenciado também: como já ter um imóvel da família disponível, ou ter sido agraciado em função de uma perspectiva de vitória (o que poderia render futuros favores…), ou falta de grana mesmo, aceitando-se o que foi possível conseguir. Fato é que, estando tão próximos, teriam que conviver e compartilhar o dia a dia de suas campanhas, revelando ou despistando suas estratégias eleitorais. Sabendo-se que era uma trinca de postulantes, vamos tratá-los, doravante, como PRIMEIRO, SEGUNDO e TERCEIRO candidatos, já confessando que tal ordem se baseia em notícias oriundas de certas pesquisas de opinião, que, confiáveis ou não, davam conta da preferência de cada um na intenção do eleitor (mesmo sabendo-se que essas enquetes não são mais que o retrato de um momento, que poderá ou não se confirmar na barriga da urna). Para entender a razão de começarmos esta narrativa dando ênfase à acertabilidade da previsão do tempo, carece informar que o local onde o PRIMEIRO candidato montou seu quartel general, foi num ponto da cidade onde as consequências da chuva se apresentaram impiedosas por mais de uma vez nos últimos tempos. Estamos falando do final de uma grande avenida, que começa onde a água pluvial já subira mais de três metros em outros momentos, inundando lojas e casas, exibindo o triste quadro de veículos arrastados pela enchente boiando com suas rodas voltadas para um céu nublado e carrancudo. Teve gente que falou que a opção não seria à toa, era a oportunidade de lembrar ao eleitorado do descaso da atual administração, que nada teria feito para resolver esse problemão, gargalo que arrancava, cidade afora, muitos impropérios da boca do povo contra o mandatário de plantão, suposto apoiador, pelo que se sabe, de outro candidato. E vejam só, bem perto dali, numa rua que desagua naquela avenida, estava o comitê do SEGUNDO participante. Era numa casa, que seria de familiares seus, não se sabe ao certo, mas, sendo-a, esperava dar uma ideia de austeridade e de independência, não gastando com isso, nem assumindo compromissos com algum cedente transbordante de segundas intenções. Logicamente, que teremos que falar da sede do TERCEIRO disputante, o menos abastado dos três, uma pequena lojinha… numa rua ali por perto, conseguida a duras penas, mas de onde dava também para se ter uma visão (ainda que meio precária) dos locais dos outros adversários. O seu perfil mais à esquerda, com ideias mais progressistas, poderia colocá-lo em choque com boa parte da população, com tendência bem conservadora, sobejamente captada nos últimos sufrágios presidenciais. Mas a sorte estava lançada e a disputa seguia seu curso. A tarde caía e, como alguém a fazer uma prece, os olhos do PRIMEIRO CANDIDATO foram captados por um de seus fotógrafos, justamente quando ele franzia a testa… olhando para um céu que parecia se mover, no abraço de pesadas nuvens… e bem escuras. Mas logo, logo, o assédio de muitos correligionários que chegavam e o abraçavam faria aflorar o seu conhecido sorriso de candidato de muitas disputas. A primeira gota de chuva só cairia um pouco mais tarde em sua calva, quando lá já estivesse abarrotado de sua gente. Quase que no mesmo momento, o SEGUNDO da disputa, de posse de seu tablet, conferia o cronograma dos preparativos, observando o enfileiramento de muitos carros adesivados com sua imagem, que estacionavam de frente ao comitê, todos apenas com o motorista ao volante, como que contratados para aquilo. E um pouco mais acima da rua, depois de uma pracinha, o TERCEIRO concorrente aguardava a chegada de seus correligionários camaradas, limpando os óculos… enquanto lia um livro de … e parte do texto do que deveria falar naquela noite diante dos seus.

E a chuva veio

Por volta das 19h, os três locais já estavam com suas dependências preenchidas com quase todos os convidados esperados. O PRIMEIRO candidato tinha o rosto singrado por um sorriso de orelha a orelha, feliz da vida, com tamanha multidão de apoiadores, que se espremiam nas dependências do local escolhido, uma espécie de galpão que ficava numa das esquinas da grande avenida, muitos, é verdade, fugindo de uma chuvinha que já começara a garoar… mas iluminada por fortes relâmpagos e temperada por trovoadas em sequência, que se confundiam com o espocar dos fogos de artifícios dos dois comitês, ali quase emparelhados. Na sede do SEGUNDO, tinha bastante pessoas também, não tantas como na do vizinho, mas não menos que o necessário para fazer seus olhos brilharem… já sonhando com seus dias gloriosos de futuro prefeito. Onde estava o TERCEIRO pretendente, nem davam muita bola para a iminência de qualquer temporal. Conversavam animadamente as poucas dezenas de presentes, intercalando suas falas com alguns gritos de palavras de ordem por parte daqueles mais entusiastas. Os eventos seguiam seus cronogramas, cada um no seu estilo… e já não chovia pouco… O afluxo das enxurradas, deslizando velozmente pelo asfalto das ruas adjacentes, engrossava um crescente rio que ganhava corpo nas pistas da avenida, chegando e ancorando-se à margem do comitê do PRIMEIRO candidato, já cobrindo, inclusive, o passeio público. Do lado de dentro, os presentes observavam o nível da água submergindo a passarela do meio, uma pista de caminhada que intermediava as duas vias… e se olhavam indagantes, em meio a um vociferar frenético, à espera do momento da fala do CANDIDATO. Na sede do SEGUNDO concorrente, tanto ele quanto seus seguidores não estavam totalmente alheios às possíveis consequências de uma tempestade impiedosa, principalmente para os planos do vizinho da esquina. Falemos a verdade… não eram poucos os que pareciam torcer pelo aguaceiro, considerando algumas piadinhas que pululavam embaralhadas, do tipo: “Uai, bem que ele falou que ia dar um banho de voto! Se a chuva não parar…” “É…aqui se faz , aqui se paga: a água dá, a água leva!” e outros gracejos aquáticos. O temporal transformava-se numa verdadeira tromba-d´água! E não demorou e aquele mundão líquido começou a invadir e a molhar os pés e as canelas de todos, com alguns já querendo sair de lá… E o pânico tomou conta, quando alguém gritou: ”Deus do céu! Olha lá, invém descendo até carro arrastado lá em cima! Olha, olha…!!” Uma água lamacenta, avermelhada, já cobria todo o piso do lugar. No rebojo que se formava em frente, já se podia ver grande parte do material de campanha se misturando aos pedaços de mesas e cadeiras de bares, bandejas, tampas de bueiro, uma coiseira louca que descera na correnteza avenida abaixo. Diante da inundação inevitável, foi, então, um tremendo corre-corre para o lado de fora, num atropelo desenfreado, tendo à frente o próprio CANDIDATO… com seu vice logo atrás. Era uma multidão espavorida disparando rua acima, buscando um lugar mais próximo como abrigo. E, não teve outro jeito, foi justamente para sede do SEGUNDO, onde a enchente (ainda) não chegara, que todos se dirigiram. Não deu nem tempo de pedir licença, com quase todos se enfurnando no comitê do adversário. O anfitrião, não sei se pela inata solidariedade de todos nós diante das catástrofes, ou pela oportunidade de colher alguns frutos do ocorrido, teve a finesse de acolher a todos. Quando o candidato desalojado, no meio da correria, adentrava ao comitê vizinho, ele pisou em falso e tropeçou, caindo direto nos braços de seu concorrente, que estava à porta e que o amparou, a muito custo, devido ao peso de seu corpo escorregadio.

Se olharam frente a frente, olhos nos olhos… como se fosse um encontro marcado pelo destino. Não se sabe se alguém percebeu, mas um risinho sarcástico se desenhava também no canto da boca do hospedeiro… mas foi uma frase de acolhida que saiu de seus lábios entreabertos: “Seja bem vindo, meu caro…aqui, sim!, você está em lugar seguro!” Um “Obrigado!”, meio aguado foi a resposta do recém-chegado, que prosseguiu entrando um tanto ofegante, trazendo atrás de si um bando de gente molhada até os ossos. A chuva não parava nem a poder de reza, pelo contrário, parecia aumentar. O nível da água, que só subia, corroborava isso, já dando lambidas no degrau de entrada da sede do SEGUNDO candidato, que até ali se portava como um salva-vidas, “a única esperança… um salvador da pátria…” distribuindo abraços aos desabrigados. E chovia e chovia… como num dilúvio “noético”. O local estava abarrotado, saindo gente pelos ladrões e entrando líquido por todo lado. Lá dos fundos da casa, um inesperado grito de mulher fez tremer os tímpanos daquele povaréu com olhos arregalados: “Gente, gente! O esgoto do banheiro está voltando no vaso e nos ralos…já escorre no corredooor! Deus do céu, que nooojo!!” Na parte da frente, a água já invadira a garagem e entrava pelo alpendre, já ganhando a sala, indo de encontro ao caldo escuro que vinha do banheiro, na consagração de uma pororoca fétida. O pensamento de saírem dali o quanto antes transparecia nos olhares e no ensaio de um empurra-empurra em direção à porta da rua. E não demorou muito, o povo foi saindo sem muita ordem, rumando para a parte mais elevada da rua, mesmo se expondo ao temporal que persistia como uma ira divina.

Foi um espalhamento geral, indo gente pra todo lado, procurando marquises para se protegerem daquela bátega. Os dois CANDIDATOS saíram juntos, como se tivessem combinado um destino comum, rumo à pracinha mais acima, no início da rua. Ao concluírem a subida, um olhando para o outro, sem saber o que fazer, do lado de lá da tal praça, um cômodo iluminado chamou-lhes a atenção…eles não sabiam, mas lá estava o comitê do TERCEIRO candidato. Debaixo daquele aguaceiro, com quase tudo fechado, foi para lá que eles foram. Obviamente, diante do transcorrido até agora, a lembrança de uma história infantil que todos nós conhecemos, não deixará de aflorar em nossas mentes… aquela dos TRÊS PORQUINHOS… quando um lobo (no nosso caso, uma tempestade), sai derrubando a casa de cada um deles, obrigando-o a fugir para a do outro… num corre-corre que se concluiria na terceira delas. Mais uma mera coincidência… Então, não percamos tempo… melhor a gente ir para lá também.

O terceiro local

Quando os dois CANDIDATOS chegaram e perceberam tratar-se do comitê do TERCEIRO concorrente, talvez tenham até ficado constrangidos e pensado em procurar outra acolhida, mas o chuvaréu, que estava

ainda mais forte, não dava outra opção, a não ser calçar as sandálias da humildade. Além do mais, a cordialidade do TERCEIRO postulante diluiu (tirante, talvez, algumas gotas de ironia submersa), qualquer necessidade de retrocesso: ”Oh, meus camaradas!! Estejam em casa!! Aqui é que nem coração de urna…sempre cabe mais um!” Além dos dois e de um dos vices, alguns assessores vieram juntos e foram se acomodando… ainda mais que a maioria já se conhecia de outras campanhas. “Querem tomar um café forte? Ou até uma pinguinha para espantar a gripe?! Ninguém pode ficar doente, tem muita peleja pela frente!” Não sei quem falou isso, mas era gente da recepção. Os chegantes foram se acomodando e aos poucos ficando mais à vontade. Os diálogos se faziam de frases soltas, tendo sempre como pano de fundo os estragos da chuva pela cidade, a dificuldade das campanhas, os desafios para o próximo prefeito… desaguando vez outra na inundação que os trouxera até ali. Tudo ia bem, até que uma fala debochada de um correligionário do TERCEIRO deu uma azedada no rumo da conversa: “Tá bão…não dão conta nem de cuidar de um comitê, abandonando o barco na primeira chuvinha… vão querer cuidar da prefeitura?!” “Cala a boca aí, ô babaca!!!”

Foi uma resposta de alguém do outro lado, tomando as dores de seus majoritários. Não demorou, os três concorrentes trataram de colocar panos quentes naquele bate-boca: “Calma gente, aqui é tudo amigo”, “Pôxa! Não é hora de briga! Acautelem-se!”, “Camaradas, camaradas…unidos venceremos…quer dizer…não molharemos!!” Mas os ânimos estavam acirrados, com um chegando o dedo na cara do outro, cuspidas pra lá e pra cá, fora xingamentos e impropérios mil: ”Ô caralho!!”, “Pistôlo!” , “Tatu de gravata!” e outros mais impublicáveis. A confusão e a salvação, no entanto, viriam juntas, num blackout de energia que deixou tudo no escuro. Primeiro aumentou a gritaria e dava até para ouvir barulho de pescoções, berros de “aiaiai, ô porra!” e uma nova coleção de termos chulos, no ritmo de passos atropelados, conduzindo quase todos para a escuridão do lado de fora, onde o aguaceiro ainda imperava. O último barulho, depois daquela algazarra, foi o de uma porta de aço se fechando, segurando os briguentos fora dali, reservando uma certa calma ao breu do lado de dentro. Não demorou muito, a luz voltou, mas só estavam lá, em volta de uma mesinha, apenas os três candidatos. Com os olhos um tanto quanto ofuscados pelo apagar e acender das luzes, espiaram em volta, sem mais ninguém ali além deles… observaram a porta fechada até embaixo, chegando até seus ouvidos um blá blá blá abafado dos briguentos, vindo do exterior, enfim… até que se encararam. Um deles se levantou para erguer a porta, mas não conseguiu abri-la, vindo outro para ajudá-lo e o último também, mas estava trancada. “Que brincadeira é essa, ô petralha?!” A pergunta foi do SEGUNDO candidato, dirigindo-se ao TERCEIRO, como se fosse uma armação do anfitrião para assustá-los. “Tá querendo ficar sozinho na disputa? Manda abrir esta joça, caramba!” “Que armação, o quê, ô camarada?! Pra ganhar doceis dois, não preciso sequestrar ninguém! O povo não é bobo, sabe que tenho a melhor proposta!” “Melhor proposta…? Cê acha que esse papo de tarifa zero dá voto? Quem anda de ônibus hoje é só velho e não paga nada… e a maioria nem vai votar no dia! A juventude quer é empreender, ter uma moto…vai querer andar de ônibus?! Dá um jeito de soltar a gente, que é o melhor que você faz!?” “Meu camarada… só falta você falar pro eleitor que vai emprestar carro de graça depois que ganhar! O povo não é booobo! E não tem ninguém da minha família na lista dos chatos, viu?! Você acha eu ia trancar porta, pra ficar enjaulado com dois enganadores?! Tenho um nome a zelar! Ela deve ter travado e só abre por fora…” O PRIMEIRO candidato ouvia o bate-boca, mas não falava nada. Parece que queria mesmo era que eles se engalfinhassem, quem sabe até saíssem do páreo nocauteados e “ele ganharia por WO… que é muito mais gostoso e não daria trabalho nenhum!” Mas, não demorou e foi instado a se pronunciar pelo SEGUNDO: “ E ocê não fala nada? Fica aí com esse sorriso plastificado de quem parece que tá peidando?!” “Falar o quê? Vocês não vão votar em mim mesmo. Tenho mais o que pensar e fazer, ah…poupe-me!” “Mais o que fazer?? Não me faça rir…trabalhar não é seu forte…e se você ganhasse, o que não vai acontecer de jeito nenhum…teriam, como andam dizendo, que pôr o pau-da-preguiça na prefeitura!!!” “Que inveja de derrotado, meu Deus! O povo está comigo!” “O povo? Eu acho que não…o povo já percebeu o “Grupão 2” ao seu redor…com tanta boquinha sendo prometida, vai ter que comprar a antiga prefeitura de volta pra caber tanta gente!” O PRIMEIRO não gostou da provocação e ameaçou reagir, levantando-se da cadeira, mas o TERCEIRO interveio: ” Meus camaradas… deixem de criancice! Se começarem um arranca-rabo aqui dentro e se matarem, vão colocar a culpa em mim…aí não tem nem mais eleição pra ninguém!” “Pra você canhota, não fará muita diferença, pois, suas chances são mínimas, tá só pra fazer número!” A fala do SEGUNDO disputante fez o TERCEIRO dar um risinho maroto… cheio de lembranças: “Cuidado com os números, meu camarada…já se esqueceram do que aconteceu, quando um trabalhador venceu um doutor? Pois é, cuidado… a prepotência precede a ruína!” “Ah, deixa de filosofia barata, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!”. “ Um raio não cai duas vezes?… Isso sim é que é filosofia fajuta, pois se ele foi até reeleito!!”

Um novo apagão deixou novamente os três no escuro, com a chuva descendo solta do lado de fora. Depois de mais algumas trocas de farpas, acabaram se acomodando em torno da mesa…esticaram as pernas…debruçaram com os rostos sobre os braços…e dormiram o resto da noite… até que um barulho de porta se abrindo os acordou, deixando a claridade do dia invadir o local. No lento erguimento da porta, via-se algumas pernas emparelhadas: dois pares que usavam fardas marrons e um outro de alguém que parecia trajando terno. De fato, eram dois policiais militares e um homem distinto, engravatado e segurando uma pasta com alguma documentação. Ele logo foi reconhecido pelos três, sendo o Juiz Eleitoral, ao qual se juntou em seguida o chefe do Cartório. E o meritíssimo já foi logo falando, com sua voz de tenor: “Hã, hã…então a denúncia era verdadeira…os nossos TRÊS CANDIDATOS se confabulando para facilitar a vitória de um de vocês, com repartição do bolo de cargos depois?! Hã, hã…que vergonha! Estejam presos e fora da disputa, seus espertinhos!” Não deu nem tempo de reação, com os policiais já algemando o trio e os colocando na rádio patrulha, para delírio de uma multidão que estava do lado de fora de um cordão de isolamento. Alguns até balançavam o carro de polícia, achacando os detidos. Mas, de repente, os gritos do PRIMEIRO candidato, dentro da viatura, fizeram com que a portinhola fosse aberta às pressas… com ele saindo de lá aos berros: “Não, não, não…eu não posso ser preso…eu já ganhei, já ganhei, já ganhei…e, correndo de modo desengonçado, mergulhou por cima do povo… como um golfinho acrobata. Mas aí…foi quando ele caiu da mesa… dentro do comitê… momento em que emergia de um pesadelo… acordando e batendo com a cabeça na porta, fazendo um barulhaço, que despertou também os outros dois, sem que entendessem o que estava ocorrendo. Do lado de fora, uma voz respondeu: “Calma, calma aí pessoal… já vamos abrir… o chaveiro está chegando.

*PSO é um antigo colaborador da imprensa local, desde os tempos da “Folha do Oeste”. Se diz poeta e contador de causos. E ledô do Jornal S’PASSO