Homem que pagou R$ 10 a Djalma para agredi-lo com chicote é identificado e preso

Caso ganhou repercussão após ter sido amplamente divulgado nas redes sociais e, além de tortura, agressor pode responder por racismo

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A partir de imagens que viralizaram nas redes sociais, mostrando a agressão a um personagem icônico de Itaúna, o dependente químico Djalma, que é conhecido por pedir dois reais a frequentadores de bares e restaurantes da cidade, a polícia prendeu esta semana um homem de 44 anos. Ele é acusado de ter desferido chicotadas com um cinto nas costas de Djalma que também tem problemas mentais. Nas imagens, o agressor profere um discurso político-religioso confuso, relacionando programas de benefício do governo federal com as políticas de atendimento a usuários de drogas e ainda faz menções religiosas. No vídeo, ele oferece R$ 10,00 a Djalma, desde que ele concorde em ser agredido.

A Polícia Militar, questionada sobre o fato, informou inicialmente não ter sido acionada, mas estava ciente do ocorrido. Posteriormente, a corporação anunciou a identificação do agressor, um homem residente em Pará de Minas. Um boletim foi confeccionado para ser encaminhado à Polícia Civil.

Investigado não trabalha para empresa de tintas

Durante o fato, o agressor aparece usando uma blusa com a marca de um comércio de tintas, porém, a empresa afirmou que o indivíduo não é seu colaborador e que a blusa é distribuída como brinde para profissionais da área de pintura.  

“A Polícia Civil de Itaúna já esteve na loja e fornecemos todas as informações que temos sobre ele. Nós, do Supermercado das Tintas, não compactuamos com esse tipo de atitude. Fornecemos os dados também para o pessoal do CAPS de Itaúna, que vai fazer uma denúncia contra ele”.

Uma das funcionárias do Supermercado das Tintas disse conhecer o agredido. “Ele tem um coração muito bom, tenho uma amiga que trabalha no Caps que fala super bem dele. Nem ele e nem ninguém merece passar por isso”, lamentou. 

Caso é denunciado ao Ministério Público

Pelas redes sociais, a Deputada Estadual Lohanna França (PV), disse que oficiou as Polícias Civil e Militar, bem como o Ministério Público para que sejam tomadas as providências legais sobre o caso.  

“Entendo que há uma responsabilidade cabível para quem filmou, porque estava no local participando e ciente do que estava acontecendo e de toda maneira continuou. Tanto quem filmou, quanto quem cometeu o crime têm que ser responsabilizados. Racismo é crime e tem que ser tratado desta forma. Criminoso tem que ser com a polícia e com o judiciário”, disse a deputada. 

Citado como patrocinador se defende 

Um dos proprietários do Bar do Sandoval, Sr. Odilon, também utilizou as redes sociais para se manifestar a respeito do vídeo que indignou a população itaunense. Odilon, foi às redes sociais, porque o agressor afirmou que o dinheiro era um “patrocínio do bar do Sandoval”. O proprietário afirmou que o estabelecimento não tem nenhuma participação no ocorrido, não pratica o preconceito e gostaria que o agressor fosse imediatamente preso pelas autoridades. 

Agressor conduzido à delegacia 

Durante as diligências para localizar a vítima, a PM fez contato com vários órgãos no município. Uma equipe do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas informou que Djalma estava sendo encaminhada para acompanhamento da assistência social. Já o agressor, foi localizado e abordado em Nova Serrana e solicitou ser ouvido em Pará de Minas, onde foi apresentado à polícia judiciária. 


“Nunca vi um caso com tamanha crueldade em 23 anos de carreira”, diz Delegado Geral da Polícia Civil 

Em vídeo divulgado pela Assessoria de Comunicação da Polícia Civil, o Delegado de Itaúna, Leonardo Pio, afirmou que o ocorrido pode se caracterizar como prática de racismo e tortura. Um inquérito policial foi instaurado e, através da agência de inteligência, o agressor foi identificado. Com o inquérito em andamento, o autor poderá ser sentenciado a uma pena igual ou superior a 15 anos, mas outros eventos também podem ser apurados. Apesar dos fatos terem acontecido em Itaúna, a coletiva de imprensa sobre o assunto aconteceu 
em Divinópolis, onde o chefe do 7º Departamento de Polícia Civil, Flávio Destro, comentou sobre a prisão do autor de um crime de injúria racial seguido de lesão corporal contra Djalma. 

“Estou chegando a 23 anos de carreira e nunca me deparei com uma situação desta envergadura. Já investiguei casos de homicídios praticados com crueldade e extrema violência, mas de fato esta gravação se revela com uma maldade grande por parte do autor. Houve uma violência física e psíquica gratuita contra uma pessoa em situação de extrema vulnerabilidade”, disse o delegado. 

Destro afirma ainda ser lamentável que a cena seja usada como exemplo pelo autor, como se fosse certa. O Ministério Público já deferiu a prisão do autor e ele se encontra preso à disposição da justiça. 

“É preocupante como parte da nossa população enxerga os problemas sociais e como elas reagem mediante eles. Como fato foi marcante e causou revolta em todos nós, iremos sim buscar a responsabilização do autor, logicamente que de forma justa, mas com o rigor da lei”.

Atuação rápida das polícias 

A advogada Rosiane Cunha, que está atuando no caso como advogada de defesa da vítima, destacou o trabalho da Polícia Militar e Civil até o momento com a qualificação e prisão do autor. “O que eu espero é que tanto quem filmou, quanto o autor que açoitou o Djalma sejam punidos e este fato mostre para a sociedade que esse tipo de conduta não é mais aceita, em nenhuma hipótese. Principalmente utilizando o nome de Deus; eu não creio que Deus chegaria na terra e açoitaria ninguém, independentemente de credo, cor ou classe social”, pontuou advogada.