O provedor do Hospital Manoel Gonçalves, Antônio Guerra, o administrador Ronaldo Oliveira e o diretor administrativo, Samuel Herculano, estiveram na Câmara Municipal para apresentar a prestação de contas de 2024. Durante a apresentação, foram revelados números que, embora indiquem pequeno superávit financeiro, também destacam as dificuldades enfrentadas pela Casa de Caridade para manter o hospital em funcionamento.
Antônio Guerra destacou que o hospital obteve um superávit de R$ 265 mil em 2024, em meio a uma movimentação de R$ 94 milhões de receitas e despesas, o que demonstra “fragilidade” financeira. Segundo ele, os resultados positivos só vieram após o grupo J. Mendes doar o novo complexo, anexo ao hospital, no valor de R$ 10 milhões, e com a aquisição de novos equipamentos por meio de emendas parlamentares, o que impactou positivamente o balanço patrimonial da instituição.
O provedor também alertou sobre um dos maiores desafios financeiros enfrentados pelo hospital: o atendimento a pacientes do SUS, superior ao que o sistema paga. Como instituição filantrópica que recebe recursos do Governo Federal, o hospital acolhe 84% de pacientes via SUS, o que representa 24% acima do que a legislação exige.
“No último ano hospital teve um gasto de R$ 2,6 milhões a mais do que aquele que SUS paga. E esse valor gasto a mais, não será ressarcido. Ou seja: o hospital está produzindo a mais, gastando a mais e não tem chance de receber esta diferença. Pelo menos nas regras atuais”, ressaltou o provedor.
UPA X Hospital
Na visão de Guerra, em vez da construção de uma UPA, a cidade deveria pensar em melhorar o atendimento e a capacidade de acolhimento do hospital. O provedor apontou a necessidade de atualizar os valores do contrato com a Prefeitura para a gestão do Pronto Socorro, que está defasado e também ressaltou a necessidade de um repasse maior, para cobrir o volume de atendimentos via SUS.
Adesão ao Programa Governamental
Para melhorar a gestão financeira e a eficiência operacional, o Hospital aderiu ao programa estadual DRG (Grupo de Diagnósticos Relacionados), através do qual, o governo monitora e avalia as operações e a eficiência de unidades de saúde em Minas. Em 2024, a instituição alcançou um índice de ineficiência de 17% no programa, contra uma média de 40% de outros hospitais que utilizam o DRG.
Para melhorar a eficiência, seria necessário reduzir o número de leitos do CTI e de internações, o que também diminuiria a quantidade de atendimentos. “Isto é inviável.
O pronto socorro
Uma das questões mais críticas do Hospital diz respeito ao atendimento do Pronto Socorro. A escassez de leitos e a lotação em determinadas épocas é um problema que temos que enfrentar diariamente. “Durante o feriado de carnaval, o hospital registrou 35 pacientes esperando para serem internados. A falta de vagas é um problema grave, que faz com que pacientes, como aqueles que necessitam de exames de cateterismo, fiquem esperando por transferências para outras unidades de saúde.
O provedor também fez um apelo aos vereadores e à Prefeitura. “Itaúna é uma cidade com boas condições financeiras e precisa pensar em melhorar a capacidade de acolhimento do hospital. A Organização Mundial de Saúde recomenda um leito para cada mil habitantes. Em Itaúna, com cerca de 100 mil habitantes, seriam necessários 300 leitos, mas temos apenas 152. Precisamos de mais apoio para atender à demanda crescente”, completou.
Obras do novo Pronto Socorro começam após pagamento das emendas
Após a apresentação da prestação de contas, os vereadores questionaram os gestores da Casa de Caridade sobre o andamento de alguns projetos anunciados no início do ano. O vereador Gustavo Barbosa ressaltou a importância das obras de ampliação do Pronto-Socorro, para melhorar a capacidade de atendimento aos pacientes da cidade e da região, com a criação de novas salas, leitos e áreas especializadas para diferentes tipos de cuidado.
Segundo o parlamentar, as obras do novo Pronto-Socorro deverão dobrar a capacidade de atendimento da unidade e contemplam a construção de dois pavimentos adicionais acima do primeiro andar. No segundo, estão previstos mais 10 leitos de CTI, e no terceiro, a ampliação do número de salas cirúrgicas.
“A Câmara destinou um total de R$ 1.272.432,80 em emendas impositivas para as obras do novo Pronto-Socorro. Desse montante, a emenda do vereador Alexandre Campos, no valor de R$ 235 mil, será direcionada para as obras no prédio do antigo hospital. Com base nessas emendas, pergunto: quando as obras do Pronto-Socorro terão início e de que forma a Câmara pode contribuir ainda mais com o hospital?”, questionou.
Em resposta, Antônio Guerra afirmou que o projeto já está concluído e aprovado pela Secretaria de Saúde, com todos os cálculos estruturais prontos, aguardando apenas o repasse dos recursos.
“Assim que as emendas impositivas forem liberadas, damos o pontapé inicial nas obras. Mesmo que o pagamento seja fracionado – por exemplo, se a primeira parcela for de R$ 100 mil – já iniciaremos a base e colocaremos as ferragens. Com a segunda parcela, batemos a laje. Estamos apenas aguardando receber os recursos para começar”, explicou Guerra.
Cidades do entorno não contribuem diretamente
O vereador Rosse Andrade (PL) destacou outro ponto relevante da prestação de contas apresentada pela provedoria do hospital. Um total de 3.936 pacientes que foram atendidos em 2024 pelo Hospital Manoel Gonçalves, eram de outros municípios como: Itatiaiuçu (1.680), Itaguara (482), Piracema (392) e demais cidades (1.382). O parlamentar questionou qual seria a contrapartida financeira desses municípios para o custeio do hospital.
Em resposta, o provedor informou que essas cidades não realizam repasses diretos à Casa de Caridade. No entanto, os recursos destinados a esses atendimentos chegam por meio do Ministério da Saúde, através dos repasses para a microrregião, da qual Itaúna é polo.
Segundo Rosse, “o ex-prefeito de Itatiaiuçu chegou a mencionar, em seu discurso de posse, a necessidade de maior investimento no hospital para a melhoria do atendimento. Se ele reconheceu isso publicamente, vamos procurar o atual prefeito para discutir essa colaboração, já que Itatiaiuçu também depende dos serviços do Hospital”, afirmou.
Em tom crítico, o parlamentar também direcionou sua fala aos deputados estaduais e federais que receberam expressiva votação em Itaúna, mas, segundo ele, não retribuíram com emendas ou ações concretas voltadas à saúde do município. “Me sinto como um cachorro vira-lata. Enviei ofício a todos que foram votados na cidade e até agora não tivemos retorno. Digo mais: vou bater na porta de cada um que teve votação expressiva aqui”, declarou.
O vereador Dalmo de Assis (PRD) alertou que o problema da demora nos atendimentos, faz com que o hospital perca credibilidade. “O hospital está desacreditado e isso pode nos afetar politicamente também. Precisamos nos unir para reverter essa situação”, pontuou.
Sobre a questão, Guerra destacou que a Fundação Dom Cabral está realizando um trabalho de gestão corporativa no hospital, incluindo a implementação da “jornada do paciente”, que permite monitorar e otimizar o tempo de atendimento.
R$4milhões do IR das empresas itaunenses perdidos em 2024
O provedor revelou que o Hospital Manoel Gonçalves deixou de receber, no último ano, cerca de R$ 4 milhões em recursos provenientes de doações do Imposto de Renda de uma empresa da cidade porque não possuía especificações estatutárias exigidas pela legislação vigente. Segundo ele, um empresário informou que destinou essa quantia a um hospital de Belo Horizonte, justamente em razão da falha no estatuto da instituição.
Antônio Guerra destacou que, após a identificação do problema, as medidas corretivas foram tomadas e, para isso, foi contratada uma empresa de consultoria para realizar o cadastramento completo dos dados do hospital, bem como as devidas alterações no estatuto junto à Receita Federal. O objetivo é permitir que contribuintes — sejam pessoas físicas ou jurídicas — possam destinar parte de seus impostos à Casa de Caridade.
“Apenas uma empresa poderia ter destinado R$ 4 milhões. Imaginem o potencial que temos para outras doações! A partir do próximo ano, veremos uma transformação significativa nesse sentido”, afirmou o provedor.