Itaunenses debatem perigos de nova variante, enquanto parte da população age como se a pandemia tivesse acabado

Opiniões de várias pessoas dão a dimensão do assunto e acende o debate para os cuidados que irão evitar novas contaminações

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Técnicos da Organização Mundial de Saúde avaliam que existe a proliferação de novas variantes da Covid-19, além da mutação Delta que também pode estar entre os brasileiros.

Passado o período crítico da pandemia, a adoção de medidas mais flexíveis por parte das autoridades sanitárias e diante da convicção de que mais pessoas estão sendo vacinadas, muita gente tem agido com displicência. As aglomerações sociais vêm se tornando mais frequentes, na mesma proporção em que são relaxadas as medidas preventivas, como distanciamento, uso de máscaras e aumento de testes.

Isso contribui para que a pandemia esteja longe de terminar. Será que situações mais perigosas da doença estão por vir? É verdade que as pessoas estão baixando a guarda, acreditando que a pandemia acabou?

O Jornal S’PASSO encaminhou essas questões para algumas pessoas, que compareceram com suas contribuições para um debate interessante acerca do tema.

Unaí Tupinambás: Vacinação rápida e medidas não-farmacológicas

Unaí Tupinambás.

O professor e médico infectologista Unaí Tupinambás disse que existe um risco real de surgir novas variantes e elas podem aparecer se tiver muitos casos de Covid. Para um vírus sofrer mutação, é necessário que haja muita transmissão. Daí a importância de se ter os cuidados, o distanciamento social de dois metros, evitar aglomeração e usar máscara. Quanto menos vírus circulando, se multiplicando, menores são as chances de aparecerem variantes.

Ele esclarece que já existem variantes, chamadas ‘variantes de interesse’, que podem vir a ser ‘variantes de preocupação’. Temos quatro que predominam no mundo inteiro, que são as variantes Alfa, Beta, Gama, esta que está circulando no Brasil, e a Delta, que está no Reino Unido. Não se sabe se esta irá conseguir entrar com força no Brasil, como está acontecendo no Reino Unido, por causa da variante Gama, que tem alto poder de transmissão.

“É claro que para se evitar isso, além da vacinação rápida, nós temos que continuar com os cuidados. Não podemos fazer como a Inglaterra, que no dia 19 decretou o abandono de todas as medidas não-farmacológicas. Os cientistas criticaram muito a postura do Boris Johnson, porque não era o momento de ter essa flexibilização, como evitar aglomeração, manter o distanciamento, o uso da máscara e lavar as mãos com frequência, além da busca ativa de casos. Então, diante dessa possibilidade de variantes, com a população pouco vacinada, temos que ampliar a imunização e manter todas as medidas não-farmacológicas. Isso, até que, pelo menos, 75% da população esteja vacinada, para podermos sair dessa crise sanitária humanitária”, considerou.

Danielle Soares: população consciente

Danielle Soares.

A enfermeira Danielle Soares, da Estratégia Saúde da Família do bairro Cidade Nova, afirmou que não tem clareza de que as pessoas estejam baixando a guarda. E nem acredita que as pessoas pensem que a pandemia acabou.

No seu entendimento, a vacinação está aí, num ritmo bom. Não tem ninguém que não conheça alguém ou que tenha um familiar que não tenha recebido a vacina e isso dá uma certa tranquilidade para a população.

“Quando a gente vê mais pessoas sendo vacinadas, a tendência é achar que as coisas estão normalizando. Então, por causa disso, a pessoas tendem a sair mais. E também a flexibilização das ondas, aderidas pela Secretaria de Saúde, faz com que a gente faça coisas que antes não fazia. Estamos nos acostumando, adaptando as nossas vidas ao que nos é permitido. Isso pode parecer que muitos estejam se comportando como se não tivesse mais em pandemia”, observou.

Maurício Nazaré: a pandemia ainda não acabou, mas muita gente está baixando a guarda

Maurício Nazaré.

O empresário Maurício Nazaré, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, pontuou que as variantes são uma preocupação iminente e que o índice de transmissibilidade é alto, mas com letalidade um pouco menor.

“O pessoal tem realmente baixado a guarda, o que nos preocupa, pois ainda estamos em estado de calamidade e a pandemia não acabou. As aglomerações têm aumentado precocemente e o uso de máscaras tem sido desconsiderado por grande parcela da população, o que nos leva a crer que a assepsia das mãos e distanciamento social, certamente estão também sendo desconsiderados.

Sem dúvida as variáveis, somadas ao ritmo lento de vacinação, realmente podem prolongar ainda mais a pandemia e suas desastrosas consequências”, analisou.

Austenir Maciel: descuido das medidas sanitárias permite que o vírus continue circulando

Austenir Maciel.

Na opinião do médico Austenir Maciel Coelho, do CTI do Hospital Manoel Gonçalves, estamos vivendo uma nova fase da pandemia. Conseguimos reduzir a taxa de contágio para menos de 1. Especificamente em 13 de junho atingimos uma taxa de 0,88. Exemplificando, um grupo de 100 pessoas infectadas, consegue transmitir a doença para mais 88 pessoas.

Na medida que essas 100 pessoas se curam, teremos então 88 novos doentes que por sua vez irão infectar por volta de 78 novas pessoas. Na medida que os 88 se curam ficamos com 78 novos casos de COVID. Em sua matemática, mantendo-se essa proporção a pandemia irá contaminar cada vez menos e acabar a curto ou médio prazo.

“Provavelmente estamos observando um efeito de cobertura vacinal. Infelizmente há algumas considerações a serem feitas. O que vai controlar a pandemia é manter sempre a taxa de contágio abaixo de um, ou seja, qualquer aumento da transmissão para um valor acima de um trará um recrudescimento da pandemia. Dessa forma há um risco real de que a desmobilização das medidas sanitárias de enfrentamento à pandemia, possa piorar os indicadores. Uma outra questão são as variantes.

“Os vírus têm uma taxa de mutação alta e essas mutações podem gerar cepas de maior potencial de transmissão, mais virulentas e, em alguns casos, com resistência a determinadas vacinas ou medicamentos. Com o coronavírus isso também pode acontecer e o fato de permitirmos sua livre circulação por mais de um ano entre nós, o coloca em uma situação privilegiada. Seria como se estivéssemos permitindo que ele se procriasse mais vezes e com isso aumentamos a chance de surgimento de novas mutações. Ressalto que as mutações são aleatórias e a maioria delas carece de significado clínico.

Entretanto, vez por outra, uma mutação pode trazer consequências ruins. É o que aprendemos com a experiência de Manaus onde após um surto inicial de COVID comprometendo grande parte da população, tivemos uma mutação no vírus que propiciou uma segunda onda ainda mais devastadora. Ou seja, há um risco real de surgimento de novas cepas e se por algum motivo não estivermos imunizados contra uma nova cepa teremos aumento da taxa de contágio para um valor acima de 1 e uma piora nos indicadores”, esclareceu.

Para o médico há sim risco de recrudescimento da pandemia quando nos descuidamos das medidas sanitárias de enfrentamento e permitimos que o vírus continue circulando e sofrendo seleção natural que pode culminar no surgimento de uma nova variante para a qual os imunizastes sejam ineficazes.

“Estamos cansados do vírus, mas infelizmente ele não está cansado de nós. Frente a isso é compreensível que queiramos recuperar algum senso de normalidade o mais rapidamente possível”, pontua. A melhora dos indicadores é um alento, mas é preciso compreender que a pandemia não acabou. Entende o médico que precisamos continuar a vacinar em ritmo acelerado. Não podemos baixar a guarda. Qualquer descuido pode nos custar caro. Ainda não é o momento de aglomeração, de deixar a máscara em casa. E também ainda não é o momento para abraços. Na sua avaliação, o tempo para isso tudo irá chegar em breve. Só depende de cada um de nós cumprir o seu papel nessa reta final.

Alexandre Maromba: vacinação em massa é o caminho mais eficaz

Alexandre Maromba.

O presidente do SindComércio, Alexandre Maromba, advertiu que estamos vivendo uma enorme incógnita em relação ao avanço e as consequências da Covid-19 para o futuro.  A ciência ainda não tem respostas para todas as dúvidas.

“O que temos de concreto é que a vacinação em massa é o caminho mais eficaz, o que é comprovado nos países que já conseguiram vacinar a maioria da sua população. Infelizmente, a OMS vem alertando para o perigo de novas variantes do vírus, o que demonstra a responsabilidade de toda a sociedade em continuar com todos os cuidados sanitários para evitar a disseminação”, afirmou.

Maromba lembra que a sociedade já sentiu os reflexos negativos desta doença e ainda que neste momento os indicadores estejam melhorando, a pandemia não acabou. É preciso ter consciência de que a luta contra o vírus continua. “Todos nós já perdemos muitas coisas, mas não podemos perder a esperança de ganhar esta guerra, para isto temos que vacinar, usar a máscara adequadamente, respeitar as medidas de higiene e o distanciamento”, salientou.

Matheus Corradi: Manter empregos e cuidar da saúde

Matheus Corradi.

O empresário Matheus Corradi Magalhães, da Maisagito Eventos e Salão Aleluah, é o presidente da APEI (Associação dos Profissionais de Eventos de Itaúna). Em sua fala ao Jornal S’PASSO ele pontuou que para que continuemos com a flexibilização social que estamos experimentando, é necessário continuar atentos às medidas sanitárias.

“As variantes da doença são um perigo iminente, por isto é tão importante continuar com os cuidados básicos como uso de máscara, álcool e distanciamento.  Infelizmente, é natural que as pessoas baixem a guarda após um ano e meio de pandemia”, avaliou. “Importantes setores da economia voltaram a funcionar e este passo não deve ser desfeito. Manter empregos é tão importante quanto preocupar com a saúde. Os dois são necessários para a sobrevivência”, reforçou.

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