Itaunenses reclamam de proliferação de pernilongos em vários bairros da cidade

Denúncia foi tema de reclamações nas redes sociais de vereadores; parlamentares disseram que “prefeitura alegou que responsável pelo setor de Endemias e Zoonoses estava de férias”

0
254

Itaúna enfrenta uma infestação de pernilongos. De praticamente todos os bairros chegam reclamações de moradores relatando o incômodo provocado pelos mosquitos, que atacam principalmente as crianças, mas que também não poupam os adultos.

Terrenos baldios servem de foco para o mosquito Cúlex, popularmente conhecido como pernilongo. Diferentemente do Aedes aegypti, o pernilongo gosta de água suja, portanto, cursos d’água poluídos e bueiros também são locais onde existem criadouros, além dos ralos dos banheiros que não estão livres da infestação e se não estiverem protegidos se transformam em um potencial lugar para sua reprodução.

Algumas alternativas utilizadas pela população para enfrentar os pernilongos como repelentes, inseticidas e as famosas raquetes, parecem não produzir o resultado desejado para exterminar os insetos, que se aproveitam da estiagem para se proliferar.

“Uso spray, no fim da tarde fecho toda a casa para reduzir a circulação dos mosquitos e uso raquete elétrica”, diz a aposentada, Maria Nazaré Rodrigues, que mora no próximo ao Parque Ecológico Cordovil Fonseca, no Cerqueira Lima. “Estamos presenciando uma coisa impressionante. É uma nuvem de mosquitos que estão mais agressivos e os repelentes não dão conta. Você mata e sempre surge mais. É uma infestação, enfatiza.

Já Geralda Fonseca Lobo, presidente da Associação Comunitária de Santanense afirma que já recebeu diversas reclamações e ela mesmo tem se incomodado com as nuvens de pernilongos. “Como moro a poucos metros do Ribeirão dos Capotos, que é muito poluído, tenho que fechar as janelas à 17h, caso contrário é impossível ficar em casa. Venho tendo esse problema há pelo menos 60 dias.

A reportagem esteve no bairro Santa Edwiges, onde um terreno localizado nos fundos de várias residências é apontado por moradores das imediações como o criadouro de pernilongos. Chegando ao local, no fim da tarde, foi constatada a situação caótica, sendo impossível ficar no local. Moradores do bairro informaram que solicitaram à Secretaria Municipal de Infraestrutura, que intensificasse a limpeza da área, “pois em muitos pontos no loteamento existem resíduos, como garrafas, que represam a água, e esgoto sendo despejado a céu aberto, o que favorece a reprodução dos pernilongos”.

Pela rede social, o vereador Kaio Guimarães (Mobiliza), chamou atenção da Prefeitura após publicar uma enquete perguntando se nas casas tem tanto pernilongo quanto na dele próprio. A resposta foi praticamente instantânea e assustadora. O vereador procurou a Secretaria de Saúde que remeteu a responsabilidade à Secretaria de Regulação Urbana, já que o vetor não é o mosquito da Dengue. “Fomos à Secretaria de Regulação urbana e disseram que o servidor estava de férias e que não teria resposta até o retorno dele. Olha senhor prefeito, vocês estão trabalhando até dia 31 de dezembro, o que não pode é ficar como está e o poder público ficar inerte. Que haja um fumacê, que seja feita uma ação mediante os esgotos nos rios. O povo merece resposta e a resolução definitiva para o problema”, chama atenção.

Vários fatores

Em nota, a prefeitura afirmou que a infestação dos pernilongos pode ser causada por uma série de fatores, dentre eles a escassez de chuvas, que provoca bolsões de água parada nas margens, já que a beirada dos ribeirões foi muito mexida devido ao desassoreamento realizado. “Houve também ruptura dos emissários de esgoto principalmente ao longo do Ribeirão Joanica, próximo da Supermac, que ocasionou bolsões de água parada às margens, o que favorece a proliferação dos pernilongos do gênero Culex”.

Segundo a prefeitura, tanto o SAAE, quanto a infraestrutura estão promovendo ações para mitigar a infestação dos vetores. “O SAAE está fazendo a recuperação dos emissários ao longo dos ribeirões. Caminhões pipa com água bruta também estão percorrendo as beiradas do Ribeirão Joanica, jogando água com pressão para retirar as larvas e ovos dos insetos da água parada. Isso está sendo feito algumas vezes na semana”.

A prefeitura alega ainda que atualmente o “fumacê” só é liberado pelos órgãos de saúde para combate ao Aedes, em situações de epidemia de dengue. O inseticida utilizado é específico para o Aedes. “O conhecido fumacê só pega os pernilongos adultos que estão voando naquele momento da emissão do fumacê. A eficácia é muito baixa. Esse procedimento mata outros tipos de animais voadores como abelhas, vespas e joaninhas. O fumacê seria mais prejudicial para o ecossistema na totalidade”, finaliza nota.

Luz, calor e umidade atraem mosquitos

Não há estudos que comprovem uma maior proliferação de mosquitos este ano, mas que a situação tem se tornado insustentável, é uma realidade. Para entender o que está acontecendo, o S`PASSO conversou com um biólogo Raul Soares Nogueira, que confirmou que os mosquitos se reproduzem próximos a fontes de água e se beneficiam do calor. Por isso, a alta temperatura nessa época pode ter influenciado a infestação.

Ele afirma também que estes insetos são atraídos pela luz, por isso, dentro dos imóveis, eles aparecem mais ao anoitecer, quando as luzes são acesas. “O ano todo tem mosquito, mas o mais comum é no verão. Porém, as estações não são mais definidas como antigamente. É uma coisa atípica e isso tem favorecido a aparição precoce desses mosquitos fora de época”, afirma.

Ainda segundo o biólogo, a infestação acontece em função do comportamento do mosquito de colocar os seus ovos em rios e córregos. “Com a grande quantidade de matéria orgânica nesses locais e com esgoto sendo despejado à céu aberto em diversos pontos da cidade, essa matéria orgânica acaba ficando mais concentrada e o aumento de temperatura contribui para acelerar desenvolvimento desses mosquitos”.