Médicos reafirmam que não existe tratamento precoce contra o coronavírus

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Cientistas voltam a alertar para o perigo do uso de cloroquina e outros medicamentos do chamado ‘kit covid’ e questionam quem irá se responsabilizar pelas mortes e efeitos decorrentes do uso dessas drogas

Parece que ainda vai render material para as discussões em redes sociais em torno do tratamento precoce contra a Covid-19 trazido à tona em Itaúna por um grupo que se denomina Movimento Conservadores Cristãos – MCC. A turma acirrou os contrários ao uso desses medicamentos, como a hidroxicloroquina e ivermectina, que são amplamente defendidos desde o ano passado, no auge da pandemia, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus aliados. A campanha do MCC provocou uma série de postagens de militantes da esquerda local com a sugestão de que “não há tratamento precoce e sim vacina, que deve ser para todos já”. Mas, o debate tomou proporções mais interessantes com a manifestação de médicos e outras pessoas ligadas à comunidade científica, provocada especialmente pela reportagem do Jornal S’PASSO. Vozes zangadas investiram contra os médicos que deram sua opinião desfavorável ao tratamento precoce, sobretudo o infectologista e professor universitário Unaí Tupinambás. Tentaram desqualificar suas opiniões com xingamentos, próprios desse tipo de embate: “comunista de merda!”, “petista sem vergonha”, “vai pra Cuba!” etc. No final da semana passada uma live da Associação Médica de Itaúna colocou mais lenha na fogueira com a opinião do médico Olber Moreira de Faria, que é clínico geral e pneumologista, além de membro da própria AMI e do Comitê de Enfrentamento da Covid. Ele disse nessa apresentação virtual que os medicamentos para tratamento precoce tiveram na fase inicial da pandemia alguns estudos de observação (in vitro) e que a partir de então verificou que sua eficácia “é duvidosa, sem respaldo científico”. Então, o chamado kit anti covid foi rejeitado por todas as sociedades médicas brasileiras.

Mais que inócuos, são perigosos

Desde o início dessa semana várias reportagens de grandes jornais do país têm se dedicado ao tema. O jornalista Lucas Borges Teixeira, de São Paulo, escreveu no UOL, desta terça-feira (23) (www.noticiasuol.com.br): “5 evidências de que o tratamento precoce com cloroquina não funciona”. A primeira, eficácia da droga nunca foi comprovada; a segunda, OMS desaconselhou o uso; terceira, pode causar efeitos adversos; quarta, não evitou mortes; quinta, foi dispensada por quem já aceitou.

Ao final, o jornalista concluiu: “Mais do que isso, na verdade, Organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o FDA, agência reguladora para alimentos e medicamentos norte-americana, desestimulam o uso da droga contra covid, mesmo na forma de “tratamento precoce” — algo que tem ganhado notoriedade no Brasil nos últimos meses, mas também não funciona”.

No mesmo site de notícias UOL de quarta-feira a informação de que “Chefes de UTIs ligam ‘kit Covid’ a maior risco de morte no Brasil” e o Estadão também publicou na sua edição de terça: Após o uso do kit covid, pacientes vão para fila de transplante de fígado; pelo menos 3 morrem. E complementa: “medicamentos sem eficácia contra o vírus, como ivermectina e hidroxicloroquina, trazem riscos de efeitos colaterais; médicos relatam hepatite causada por remédios. Venda dessas drogas subiu até 557%”.

MCC insiste na campanha e Prefeitura reprova kit covid

Ainda no início da semana várias decisões acerca do assunto ocuparam as notícias dos jornais e as redes sociais do país – sempre acompanhadas de opiniões calorosas de prós e contras –, especialmente da Associação Médica Brasileira onde 81 entidades a elas ligadas defendem o banimento do kit covid. Outra informação dá conta de que o Conselho Nacional de Saúde recomenda a retirada de propagandas oficiais sobre o tratamento precoce.

O MCC em Itaúna insiste na sua campanha e propõe novas discussões acerca do tratamento precoce como direito dos cidadãos. Agora o grupo está convidando os interessados para uma live exclusiva para Itaúna com o médico neurologista e neurocirurgião Paulo Porto de Melo, o mesmo que esteve na comissão do Senado, no dia 16 de março, que tratou do assunto. Será na próxima segunda-feira (29), às 19h30 pelo Instagram (do MCC) e o organizadores querem contar com a participação do prefeito, secretários, vereadores, empresários e entidades de classe.

A Prefeitura de Itaúna inicialmente seguiu por um caminho de confronto ao tratamento precoce contra a Covid e chegou a divulgar mensagens claras com relação a isso, como essa, em sua página no Instagram: “Tratamento precoce é a vacina. Os remédios apresentados no tratamento precoce brasileiro não apresentam eficácia para covid-19. O que existe é tratamento de suporte para casos hospitalares, o que inclui ventilação, analgésicos e corticoides. Itaúna preza pela ciência e está alinhada com a Organização Mundial de Saúde e as principais agências reguladoras do mundo”. Entretanto, posteriormente, o município divulgou um vídeo em que apresenta os serviços da farmácia básica com oferta de remédios, como a hidroxicloroquina e ivermectina, que podem ser prescritos por médicos sob a sua responsabilidade. Na mesma página do Instagram, a Prefeitura conclui: “Em paralelo, respeitamos a autonomia da conduta médica e o que o profissional julgar necessário para o tratamento de seu paciente. Obviamente, o médico também é responsável sobre os efeitos colaterais do tratamento que prescrever”.

Quem paga a conta se o problema se agravar?

Vários cientistas e também algumas opiniões de cidadãos ante essas situações em que diversos profissionais e órgãos de saúde reprovam o kit covid e alertam para os riscos do tratamento precoce vêm questionar se as pessoas que defendem isso irão se responsabilizar pelos efeitos colaterais e as mortes decorrentes do uso desses medicamentos? Essas campanhas veementes, encabeçadas pelo Movimento Conservadores Cristãos e por algumas autoridades do município, irão assumir a culpa pela ocorrência de problemas mais sérios à saúde dos cidadãos? O Jornal S’PASSO printou várias postagens acerca do debate de prós e contras sobre o tratamento precoce. Diversos cidadãos anônimos estão nessa peleja ao lado de vereadores, candidatos derrotados à prefeitura, servidores públicos, também médicos, enfermeiros e muitos curiosos cheios de opinião. Registramos dezenas de declarações de internautas. Grande parte apaixonada e repleta de ideologia de política. O agravamento da doença está aí com inúmeros óbitos, colapso no sistema hospitalar (e até funerário) e as contaminações que não diminuem, só aumentam. E o tratamento precoce ou kit covid não têm modificado essa situação. Há quem afirme que eles são responsáveis pela piora da pandemia.

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