Terceiro livro do poeta itaunense Pedro Nilo, a obra Inertes, é um retrato crítico, cínico e irônico do Brasil contemporâneo. Tendo como pano de fundo a tensão política do ano de 2022, a fome, os reflexos da pandemia de COVID-19, a crise econômica e social, crimes de ódio contra minorias e fake news, o poeta volta sua poesia para os problemas e questões sociais de seu país. Seu alvo principal, entretanto, não são os problemas em si, mas a indiferença dos brasileiros. Nesse sentido, o principal alvo poético
da obra é a inércia do ser humano frente às questões importantes de seu tempo.
Associado ao lirismo e existencialismo que já lhe são conhecidos, Pedro Nilo constrói em Inertes uma poesia forte, rude, problematizadora e provocativa, com vocabulário peculiar e manipulação linguística, constituindo assim, uma obra de notável relevância para a atualidade que vivemos.
A palavra do poeta
Peço licença à poesia um momento. Fui buscar na Física o título desta obra: é que o ser humano às vezes é só coisa. Tratado como tal, portando-se como tal. Vou explicar. Inércia é um conceito da mecânica clássica que pode ser entendido como uma propriedade que os corpos tem de manter a sua quantidade de movimento. Vocês conhecem isso pela expressão “um corpo em repouso tende a permanecer em repouso e um corpo em movimento tende a permanecer em movimento”. Pois é, aí que está. Essa mesmice me incomoda. Além de monótona, ela é indiferente. Essa indiferença, ela é responsável pela manutenção das coisas como estão: guerras, fanatismo, alienação, falta de senso crítico, ódio disseminado, desinformação, atrocidades socioeconômicas e humanitárias.
Se o Brasil tá aí pra todo mundo ver, com seus diplomatas, seus mendigos, seus famintos, seus demagogos, seus hipócritas, seus corruptos, eu pergunto: quem é que são os Inertes do nosso tempo? Salvo os cegos, impossibilitados de ver a pobreza; salvo os surdos, privados de se abismar com as fake news; salvo os mudos, incapazes de se pronunciar contra essa realidade distópica, todos temos responsabilidade sobre o nosso espaço e o nosso tempo. Passou da hora de ser mais que meros corpos. A inércia é como a Morte.
O autor
Pedro Nilo Vilaça e Silva, 23, é natural de Itaúna-MG. Atualmente, está cursando o último ano do curso de medicina. Estreou na literatura em 2020 com o livro de poemas “De Versos: Instantes”, que esteve em duas ocasiões entre os 200 livros mais vendidos do gênero poesia na loja Kindle da Amazon. Dois anos depois, lançou seu segundo livro de poemas “Flauvertes Fúgubres Aspirais”. Em 2022, venceu o primeiro lugar no V Concurso Internacional de Poesia Joaquim Távora. É letrista dos singles “Paisagens” (Bê Moreira) e “Que Tempos São Esses?” (VLA + BÊ). Suas principais influências literárias são Machado de Assis, Carlos Drummond, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Augusto dos Anjos, Adélia Prado, Cruz e Sousa e Ferreira Gullar.