Foi uma loucura quando surgiu na rua, num sábado de carnaval, aquele caminhão enorme com uma tonelada de som sacudindo, literalmente, o chão da praça com músicas de Dodô e Osmar, Moraes Moreira, Caetano Veloso, Alceu Valença, Gilberto Gil… Foi no final da década de 1970. O Carnaval de Itaúna saía da Praça Luís Ribeiro, conhecida como “Praça do Casa Velha” ou, ainda, “Praça do Guimarães”, e subia a Rua Silva Jardim no meio de uma multidão de pessoas que ficavam assistindo e pulando atrás de uma corda. Foi aqui que surgiu em 1978 o Bloco Trio Elétrico Allfaces, depois de experiências de um grupo de amigos em outras atividades como um time de pelada e equipe de gincana. Esses eram o Ricado Rabelo, o Cesinho Beluco, o Carlos Roberto (Becão), o Flavinho do Posto, o Adalardo, o Vinícius Regal, entre outros. O trio elétrico do Allfaces começou timidamente com um caminhão da Prefeitura, enfeitado com tecidos da Cia. Industrial Itaunense e uma sonorização pequena. O bloco cresceu e chegou a 1.200 pessoas, vestindo ou não a camisa com o símbolo do Allfaces, o personagem Horácio, da Turma da Mônica, de Maurício de Souza. Depois, esse mascote foi substituído por um papagaio azul, criado pelo artista plástico Vinícius Regal.
Jovens tardes de carnaval na Praça da Estação
Em 1982 o Trio Elétrico foi para a Praça da Estação e ali animou matinês de carnaval durante vários anos, sempre com as músicas do Axé da Bahia, do Frevo pernambucano e das marchinhas cariocas. Eram músicas gravadas em fitas cassetes que rodavam na Praça à tarde toda e nos desfiles pela Silva Jardim e depois avenida Jove Soares. “Em Minas Gerais esse tipo de carnaval, com som mecânico em caminhão, chamado de trio elétrico e já muito famoso na Bahia, era uma grande novidade. Creio que o Allfaces é um dos primeiros de Minas Gerais”, quem conta é o presidente da agremiação, Ricardo Magalhães, que veio integrar o grupo no início dos anos de 1980.
Como assim, sem competição e com esse povão?
O Trio Elétrico Allfaces veio para ficar… e incomodar. Num tempo em que Itaúna tinha um dos melhores carnavais do interior, onde havia competição e prêmios para blocos e escolas de samba, como Zulus, Castores, Pães, Unidos da Ponte, Cuecões, Pomba Rolla, Xavaca, Demorô, Araruta, Bangalô, Os Terríveis, Dona Saudade etc., a presença de um caminhão sonorizado que arrastava centenas de pessoas pela avenida era motivo de muita conversa e polêmica. Ele não competia e tinha muito mais gente. Além do mais, blocos e escolas de samba se esmeravam em fantasias luxuosas, em carros alegóricos e estandartes espetaculares, enquanto que o Allfaces se mostrava em fantasias de baixo custo, o que hoje chamam de abadá, e com quase nenhuma restrição para quem queria brincar.
Mais inovação: bandas ao vivo
Houve um tempo em Itaúna que o Carnaval ficou morno, quase morto. Neste hiato, que não foi breve, o Allfaces reunia seus mais fiéis seguidores atrás de outros sons pela cidade. “Ao retornarmos, a pedido do prefeito, pensamos que iríamos reunir umas 200 pessoas atrás do nosso trio. Levamos à avenida mais de 800 foliões e inauguramos com bandas ao vivo, do Ralfe e da Dayse, dois grandes músicos itaunenses. Continuamos fazendo o carnaval ao som de Moraes Moreira, Armandinho, Dodô e Osmar, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Claudinha Leite, Chiclete com Banana… O Allfaces nunca acompanhou modismos, sempre fez o som do carnaval da Bahia e do frevo pernambucano”, pontua Magalhães.
Quase tudo pronto para o “sambódromo” do Boulevard
Sobre o carnaval 2023, o Allfaces já está com projeto de desfile quase pronto. Os abadás estão sendo vendidos na loja “Bicho Papão”, aos preços de R$ 45,00, antecipado, e R$ 55,00, às vésperas do evento. “Não há exigência de fantasia para desfilar atrás do trio elétrico. As camisas são uma forma das pessoas se identificarem com o Allfaces e, também, de ajudar a contar a história do carnaval. Estaremos fazendo a festa no Boulevard Lago Sul no sábado e na segunda-feira. É um local fechado, mas apenas como medida de segurança. Todos podem entrar e se divertir. Será uma estrutura muito boa, feita pela Prefeitura para conforto, segurança e bem-estar de todos”, opinou Ricardo Magalhães.
PODCAST SPASSO
O Jornal S’PASSO dando sequência à série de reportagens sobre a memória do Carnaval de Rua de Itaúna, entrevista o empresário Ricardo Magalhães, diretor do Bloco Trio Elétrico Allfaces. click no link abaixo e ouça.
https://jornalspasso.com.br/podcast-memorias-de-outros-carnavais-allfaces/