Autoridades e comerciantes opinam sobre as dificuldades do setor e as perspectivas sobre a saúde financeira do município
As pessoas não cansam de ouvir – pessoalmente e pela mídia – que as coisas estão paradas. Que 2020 foi um ano atípico, de grandes incertezas no contexto socioeconômico e que 2021 segue pelo mesmo caminho. A pandemia da Covid-19 surge em um momento de profunda crise econômica mundial e esta tende a se agravar ainda mais no decorrer de mais de doze meses de proliferação do coronavírus em todo o planeta. O enfrentamento da crise econômica pelo grande capital internacional se manifesta através de soluções políticas de extrema direita com caraterísticas fascistas em várias partes do mundo, especialmente no Brasil.
Os impactos da pandemia foram sentidos pelas sociedades já nos primeiros meses de alterações da vida social e econômica. Perda de recursos do capital e do trabalho, especialmente com desemprego e diminuição da receita dos profissionais liberais, fechamento de comércio, incertezas de investimentos ao meio de uma imensa crise sanitária há muito não vivenciada. Pessoas adoecendo e um número gigantesco de mortes pelo coronavírus são o grande desafio para a vida social e para a economia dos países. O Brasil é um dos mais atingidos pela pandemia da Covid-19 e pela ausência de políticas públicas capazes de orientar os setores para que o as sociedades enfrentem os graves problemas dessa situação que se instalou desde o início de 2020.
Itaúna está vivenciando a pandemia da Covid-19 como tantos outros municípios, com muitas dificuldades e pequenas conquistas no enfrentamento do vírus mortal. Alguns setores e pessoas têm sentido o impacto do coronavírus de forma mais intensa. A geração de emprego e renda dá lugar a outras prioridades, como a aquisição de vacinas para a população e a busca por investimentos para ampliar leitos no Hospital Manoel Gonçalves. Houve queda na arrecadação de tributos, muitas pessoas estão com dificuldade até para comprar alimentos e se veem num turbilhão de inadimplência em taxas públicas básicas, como água e esgoto. O secretário municipal de Finanças, Valter Gonçalves do Amaral disse ao Jornal S’PASSO que os impactos são imensos, e envolvem diversas áreas de competência municipal. Em sua análise financeira, ele vai mais longe e afirma que os danos em virtude da Covid-19 estão gerando sobrecarga no SUS, o que vai alterar em demasia o custeio da saúde púbica daqui para frente, nos três níveis de governo. Amaral aponta ainda que após a pandemia haverá “sequelas físicas e psicológicas de difícil mensuração”.
Cidadão tem que optar por comida e remédio ou pagar impostos
Para a equipe da Secretaria de Finanças de Itaúna, que elaborou as respostas para essa reportagem, a redução na atividade econômica é, sem dúvida, outro grave impacto da pandemia, apesar de muitas vezes inevitável, como forma de conter o avanço da contaminação. “O resultado será, com toda certeza, a queda na arrecadação tributária”.
Walter destaca que as paralisações de atividades em Itaúna nunca foram gerais e desarrazoadas, tiveram sempre o diálogo junto à sociedade organizada, buscando equilibrar a necessária atividade econômica e a preservação da saúde. Segundo ele, a Prefeitura sempre atuou com ampla divulgação e fiscalização para o cumprimento das medidas sanitárias, visando com isto, a mínima interferência nas atividades econômicas. Mas Amaral reclama que muitas pessoas não compreenderam o verdadeiro propósito de medidas do distanciamento social, como “a verdadeira arma contra a doença, neste primeiro momento”. No seu entendimento a indisciplina levou o país a estes recordes tristes, e por consequências, novas medidas restritivas.
E quando é chamado para apostar no futuro das finanças de Itaúna, ele ressalta que a receita municipal está prejudicada e o resultado será o enfraquecimento econômico. “Na medida em que o desemprego chega à residência do cidadão, ele precisa optar por comprar comida e remédios ou recolher suas obrigações tributárias. Infelizmente tal fenômeno também afeta as pequenas e médias empresas, pois estas, muitas vezes, detêm menos recursos para fluxo de caixa e contingências desta natureza, obrigando o empresário a fazer priorizações”, explicou o secretário.
Até o momento em que fechávamos essa matéria o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Diógenes Nogueira, não havia respondido à nossa mensagem sobre o tema. Solicitamos um balanço oficial acerca da geração de emprego e renda em Itaúna nos últimos meses em que a pandemia da Covid-19 se intensificou.
Prejuízos gerais para todo o mercado
O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e do Material Elétrico de Itaúna – Sindimei, Cristiano de Faria Soares afirmou à reportagem que no caso específico de Itaúna não é possível mensurar os impactos na economia do setor. Acerca de informações sobre a geração de emprego e renda, Soares indica apenas os dados gerais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) como fonte atualizada. Quanto aos investimentos no setor industrial – e na consequente geração de emprego – afirma que houve diminuição por causa das incertezas e insegurança do mercado.
O presidente do sindicato salienta que a indústria não é diretamente afetada com as restrições das ondas do programa Minas Consciente e tampouco pelo fechamento do comércio. Porém, diz que entende que o setor industrial é impactado pelo contexto geral. “É claro que o perfeito andamento das indústrias também depende do comércio girando normalmente para vender os seus produtos. Isso quer dizer que de maneira indireta o setor também sempre é afetado”, considerou.
Tradicional loja da cidade sofre com a instabilidade econômica muito antes da Covid
O gerente de uma das mais tradicionais lojas de eletrodomésticos de Itaúna, Marcos Nolasco Mendes, conta que o seu negócio tem sido duramente atingido nos últimos tempos, até mesmo antes da pandemia da Covid-19. “Antes a queda de vendas era em torno de 40%, 50%, hoje é próximo de 70%, 80%. O povo sumiu, o dinheiro sumiu”, lamentou.
A loja de Marcos funciona no centro da cidade desde 1952 e é a continuidade do comércio criado pelo avô em 1936. O avô ampliou os negócios, o pai deu sequência e agora, o filho Marcos Mendes administra. Mas, o empresário se diz assustado com a situação. Entende que fechado ou aberto, estabelecimentos comerciais como o seu, não são ambientes de aglomerações porque os clientes não estão indo às lojas comprar. “Para enfrentar este período, nos últimos tempos temos possibilitado as vendas on-line, mas a alternativa não trouxe grandes resultados”, ressalta.
Vendas on-line não tem sido a salvação do comércio lojista
Renata Pádua é proprietária de duas grandes lojas, uma de roupas e calçados e outra de confecções em geral. Para ela, a pandemia tem provocado um impacto muito grande na economia, com mudanças não somente no faturamento, mas também o valor gasto, ou seja, na capacidade de compra de cada cliente que, segundo ela, diminuiu muito.
Na avaliação da comerciante, mesmo com lojas abertas, as pessoas tiveram a renda comprometida e foram obrigadas a cortar gastos. Some-se a isso a falta de eventos, ocasiões em que as pessoas tinham oportunidade de usar uma roupa nova e se arrumar. A situação fez com que vários itens de consumo perdessem prioridade. “Agora, com o lockdown, o impacto é muito maior e pior. É impossível manter um faturamento mínimo com as portas fechadas. Mesmo num momento em que as vendas on-line crescem, elas não chegam a 30% do que registramos em um mês normal, com as portas abertas”, pontuou.
Situação se agrava mais cada dia
A diminuição das vendas são muito impactantes para os empresários, e segundo o jovem João Alberto Teixeira, proprietário de um comércio de moda masculina, seu negócio teve queda de mais de 65%,. Ele acredita que os percentuais de declínio são grandes em quase todos os setores lojistas e que para os pequenos comerciantes a situação é ainda mais difícil e muitos não têm mais como se manter. “Não é fácil enfrentar este período com otimismo, pois a gente vê que cada dia a situação vai se agravando mais”, queixou.