Larissa Alves Santos
Nesse escrito serão apresentados os primeiros tempos do sujeito e para o próximo texto serão apresentados o restante caminho que a criança percorre durante o seu desenvolvimento .
Como busca de satisfação do desejo, as telas têm ocupado um lugar fantasioso para busca insaciável de uma completude inexistente. Na era contemporânea não está sendo possível permitir com que essa falta aconteça. Percebemos crianças que se alimentam com a tela em frente sem sequer saber o que está comendo, e a justificativa apresentada é que sem a tela a criança não come ou não concede a tranquilidade para os pais.
Para o primeiro tempo do sujeito, nomeado por Lacan “ ser ou não ser o falo”, ocorre um lugar de ocupação privilegiada do desejo da mãe. Nesse momento encontramos uma relação imaginária, pois a criança se aliena na linguagem sendo um a-sujeito da mãe. Isso se dá porque nesse período a criança consegue somente responder de forma positiva. A mãe acredita que o bebê está chorando por fome, outra hora por precisar trocar, outra hora por estar com cólica, ou seja ele diz sim a tudo que é ofertado uma vez que ainda ele não consegue negar. Quem faz a função materna antecipa os desejos do bebê e faz com que esse a-sujeito possa ser também um sujeito desejante nomeando para a criança o que ela quer com aquele choro. Nesse período também a criança consegue identificar que ela é desejada, através do olhar, do toque, da voz, do cuidado e em outras possibilidades de atenção. Sendo assim uma possível orientação aos pais (entender pais, mãe e pai a quem faz a função materna e paterna) para além de oferecer a amamentação, é importante para a criança oferecer o contato visual, pois ela também se alimenta dessa atenção propiciando segurança ao bebê demonstrando a existência dele. Na atualidade é percebido cada vez mais a tela do celular presente no adulto durante a função de amamentar, o que se faz pensar na relação da função materna com o cuidado.
Para o segundo tempo, “ o primeiro despertar da sexualidade”, é um momento rápido e imprevisível que acontece em um instante onde é inaugurado o estágio do espelho. A criança agora além de ser olhada ela passa a olhar e a desejar. Portanto nesse período aos pais recomenda-se a não atender de imediato ou não atender ao choro ou vontades do bebê. E até mesmo possibilitar a troca de quem vai atender as demandas para que a criança não fique submetida e não seja um a-sujeito dessa mãe absoluta. Esse momento se torna importante para que a criança possa inaugurar a sua falta e poder se tornar um sujeito, pois diferente do período anterior, que o bebê dizia somente sim a tudo que era ofertado, para se ter sujeito é preciso haver não implicando suas vontades. De maneira breve, a falta na contemporaneidade tem sido um lugar assustador de observação, se é que ela tem acontecido. Percebe-se as telas como um lugar de nova chupeta, uma vez que os pais justificam as frustrações da criança pela falta da tela e que rapidamente é oferecida na tentativa de sanar esse incômodo. Na pandemia pela necessidade das famílias ficarem mais recolhidas, essa falta se tornou um lugar distante pois a mãe e/ou pai estavam presentes o tempo todo com a criança, tornando a função materna extremamente exaustiva.
Nesse texto, foram apresentados os dois primeiros caminhos que o bebê percorre para se tornar um sujeito neurótico, eles serão apresentados de maneira dividida para que possa minimizar a densidade da leitura. Sendo assim no próximo texto serão apresentados os tempos restantes.
Referências
Oliveira, Humberto Moacir de, & Maior, Virgínia Souto. (2015). O intercâmbio impossível da adolescência: análise pscinalítica sobre o despertar da sexualidade por meio do filme “Hoje eu quero voltar sozinho” de Daniel Ribeiro. Estilos da Clinica, 20(1), 120-133. https://dx.doi.org/http://dxdoi.org/10.11606/issn.1981-1624.v20i1p120-133
Larissa Alves Santos.
Graduada em psicologia. Psicanalista. Pós-graduanda em psicanálise com crianças e adolescentes- teoria e clínica.
Atuo em clínica com atendimento on-line e presencial para o público crianças, adolescentes e adultos.
@larissalvesantos
lalvespsi@gmail.com