O Jornal S’PASSO abordou o assunto no início desse ano, no auge da pandemia, e agora volta ao tema. As sequelas da Covid-19 podem vir de várias formas, em sintomas físicos e emocionais e estão presentes em grande parte das pessoas que tiveram a doença, ainda que de forma leve. Uma das sequelas é a parosmia, uma enfermidade que afeta as pessoas através do sistema olfativo. Comida com cheiro de lixo, café com odor bem diferente do normal e produtos de limpeza com cheiro ruim, são feitos sentidos por pessoas em tratamento do vírus e no pós-Covid. Essa condição, que é conhecida muito antes da pandemia, pode também ser causada por outras infecções virais, como resfriados e gripes, golpes na cabeça ou no rosto que danificam alguma parte do sistema olfativo e, até mesmo, sem motivo aparente.
Outra situação comum para pacientes que foram infectados pelo coronavírus diz respeito às dificuldades em caminhar e manter-se equilibrados fisicamente. Há falhas nas pernas, bambeza dos músculos e, até, tremores nas mãos. Para esse tratamento a Universidade de Itaúna, através de professores e estagiários do curso de Fisioterapia, tem possibilitado atendimento com exercícios nas Clínicas Integradas de Fisioterapia.
A psicóloga e professora Cristiane Santos Oliveira relatou à reportagem as sequelas da Covid-19. Em um post no Facebook, ela exibe uma fotografia antes da doença e diz que tem saudades da farta cabeleira, depois de perder 50% do cabelo. Além da queda de cabelo, ela relata comprometimento da memória, exaustão mental absurda, dificuldade de concentração, grande instabilidade emocional, insônia e tonteiras constantes. A psicóloga e ex-coordenadora do serviço de Saúde Mental em Itaúna aponta ainda falhas no atendimento de sequelas emocionais e neurológicas do pós Covid.
“Na verdade, como saber se passarão ou permanecerão? Continuamos trocando o pneu com o carro descendo o morro. Me olho no espelho e me pergunto se isso terá volta. Se dará tempo de voltar. Se minha juventude já terá se esvaído. Não se trata somente de vaidade ou futilidade. Faz parte de quem eu sou, da minha identidade, do meu processo de subjetivação. Da minha capacidade laboral e relacional. Da minha forma de pertencimento, de ser e estar no mundo.
Precisamos falar sobre isso, pesquisar sobre isso, intervir sobre isso. Se fosse a perda da fala, dos movimentos de um braço ou perna, assertivamente se buscaria uma reabilitação. Precisamos ofertar reabilitação neuropsicológica e cuidados de saúde mental. Não podemos relegar ao limbo da invisibilidade dimensões que nos tocam e comprometem nossa existência. Sem saúde mental, não há saúde”, pontuou.
A importância da vacinação completa
A jovem Valesca Vitória de Paula, 19, também falou à reportagem sobre o tema. Ela conta que contraiu a Covid após a primeira dose da vacina e ressalta a importância da imunização completa e dos cuidados constantes. Ela sofreu sintomas intensos, com infecção do fígado, tosse, coriza, sangramento no nariz, dores abdominais e na cabeça, mas felizmente não foi necessário internação. Hoje, depois de debelada a doença, ela continua tomando vitaminas para repor os danos causados no fígado. Disse não ter recuperado o peso perdido com a doença e sofre com um cansaço extremo, principalmente ao realizar atividades simples como subir escadas. Também ressaltou sequelas emocionais.
“O sentimento do tempo perdido, o medo predominante, o isolamento das pessoas na minha própria casa, com minha família, e a preocupação extrema em afetar outra área do corpo e ser irreversível. Foi um período onde aprendi que por mais que tomemos todos os cuidados necessários, ainda sim podemos encontrar riscos severos em pequenas brechas. Todas medidas preventivas são necessárias, eficazes e com toda certeza, farão evitar um período atordoante para a saúde física e mental do ser humano. Deixo registrado aqui a eficácia da vacinação: com toda certeza acredito que se não houvesse tomado a primeira dose da vacina, os efeitos teriam sido muito piores e a recuperação mais lenta”, relatou.
Esquecimento, fala desconectada
A mãe de Vitória, Luciana de Paula, 46, sofreu também com os efeitos da Covid-19. No início, os sintomas foram a tosse, acompanhada de febre, depois, dores no corpo, principalmente nas pernas e costas; além de pontadas nos ossos das canelas. E, por fim, a pneumonia, que agravou ainda mais a doença. Do início dos sintomas até a recuperação total da Covid-19 foram em torno de 25 dias em total isolamento. Para Luciana, o pós-Covid tem sido mais traumático pois está vivendo vários episódios neurológicos: esquecimento, fala desconectada, falta de destreza e lentidão.
Somam-se a isso o cansaço físico, erupções na pele e constantes dores no peito. “Ainda permaneço em tratamento e, no aguardo dos 60 dias, para uma nova tomografia. Para o desenvolvimento neurológico, estou trabalhando com jogos voltados para a memória e palavras cruzadas, leitura e musicoterapia. Comecei a tomar banho de pé há poucos dias e meu paladar continua extremamente indefinido”, confidenciou.
Serviço de Saúde Mental de portas abertas
A profissional Naênia Cristina, gerente do Serviço de Saúde Mental da Prefeitura, disse ao Jornal S’PASSO que não existe programa específico para tratamento pós-Covid. As pessoas que chegam ao serviço por algum tipo de transtorno emocional, seja em decorrência do coronavírus ou outro fator, são acolhidas. Ela informou que esses pacientes com algum tipo te transtorno devem procurar a atenção básica para o profissional avaliar a necessidade de acompanhamento.
Os atendimentos são disponibilizados no Centro de Atenção Psicossocial ou no ambulatório de Saúde Mental, localizado no Centro de Especialidades Médicas e Odontológicas Doutor Ovídio Nogueira Machado. “Os CAPS são serviços de porta aberta e acolhem o usuário que chega ao atendimento, independente do motivo. Eles funcionam das 7 às 17 horas e depois do atendimento, o profissional qualificado encaminha o paciente para o ambulatório ou para a atenção básica”, esclareceu.