A memória das artes cênicas em Itaúna está sendo pesquisada desde 2018 por um grupo de artistas locais sob a liderança do produtor cultural, teatrólogo e médico Marco Antônio Machado Lara. As primeiras manifestações do Teatro na cidade remontam ao século XIX, mais precisamente ao ano de 1877, com José João Rodrigues Gomide, mestre-escola, precursor da família Gomide nas artes. Dentre as histórias, o reconhecimento a talentos itaunenses que fomentaram a cultura através do teatro, como Péricles Rodrigues Gomide, o Lique, pai do jornalista Sebastião Nogueira Gomide (o Piu da “Folha do Oeste”) e do escritor Péricles Gomide Júnior, o cronista Pancrácio Fidélis”.
Com a impossibilidade de ensaios e apresentações, as artes cênicas estão longe dos palcos da cidade, o que não significa que estejam inativas. Marco Antônio Lara, ‘o Cotonho’, que dirige a Associação Cultural Vânia Campos, diz que as artes estão vivendo um período de recolhimento e reflexão. “Esta é exatamente a ferramenta que a arte precisa para que ela possa se comunicar verdadeiramente e ser útil para a humanidade. Passado todo este transtorno, para além das vidas perdidas e da economia destruída, a arte poderá se valer deste tempo acumulado de reflexão para ressurgir mais forte e poder contribuir para as mudanças que as pessoas precisam para construir um mundo melhor”, afirma.
Segundo Marco Antônio, a “Instável Cia. de Teatro”, que ele dirige e que tem em seu currículo uma série de grandes espetáculos teatrais, como “Equus”, de Peter Shaffer, “O rei está morrendo”, de Eugène Ionesco, “As cigarras do sertão”, de Mário Matos, “Macbett”, de Eugène Ionesco, entre outras, coordena o trabalho de pesquisa, com um enorme grupo formado por artistas de teatro, historiadores, jornalistas, fotógrafos e professores. O grupo havia programado o lançamento de um livro, “140 anos de Teatro em Itaúna” e uma exposição sobre o tema, com textos da época, figurinos, cartazes de espetáculos e fotografias dos personagens dessa história. Os eventos deveriam acontecer no mês de maio no Museu Municipal Francisco Manoel Franco, mas foram adiados em razão da pandemia da Covid-19.
Grupo remonta peça “Esperteza do Rato”, encenada em 1877
Além do livro e da exposição, a Instável estava ensaiando a montagem da comédia, “Esperteza do Rato”, de autoria do português Rangel de Lima, estreada em Lisboa, no Theatro Gymnasio, em 1867, encenada por artistas locais, em Itaúna, no ano de 1877. A montagem original na cidade contou com a participação de José João Rodrigues Gomide, Antônio do Bá e Flávio de Faria Santos. A peça tem seis personagens, três masculinos e três femininos, mas somente os nomes dos homens foram encontrados nos registros. É possível que os personagens femininos tenham sido representados por homens também, o que era comum. Na encenação da Instável Cia. de Teatro, sob a direção de Marco Antônio, o elenco contará com Léo Tryndade, Gustavo Sol, Carol Morais, Regina Glória, Jerry Magalhães e Flávia Matos. O projeto de resgate dos 140 anos da história do teatro em Itaúna está captando recursos através do Fundo Estadual de Cultura e tem apoio da Prefeitura. “Nosso grupo estava em fase adiantada desse projeto de resgate da história do teatro em Itaúna. De repente, tudo se viu paralisado. Como não havia outra solução, este tempo parado não foi sentido como tempo perdido. Está sendo utilizado para elevar o trabalho a níveis mais elaborados e tudo será transferido para o próximo ano”, revela.