@toniramosgoncalves*
No universo da escrita, cada autor trilha um caminho único, a partir de suas experiências, sonhos e revelações. As palavras, para eles, são mais do que meros instrumentos de comunicação; são extensões de suas almas, pontes para mundos desconhecidos, e espelhos refletindo as faces mais profundas de suas existências. Estes depoimentos de escritores itaunenses é uma jornada íntima pelo coração da criação literária. Cada voz revela um universo particular, uma razão distinta para a entrega à arte da escrita.
Ninfa Parreiras navega por mistérios, tecendo memórias e sonhos em um entrelaçado de palavras. Maria Lúcia Mendes encontra na escrita um refúgio da realidade, uma alegria plena. Maria Rita Londe, por sua vez, busca expandir a efemeridade da existência através de suas linhas. Vera Macedo vê a escrita como uma transubstanciação da alma, enquanto Wandick Robson Pincer liberta o poeta cativo dentro de si. Natália Alves se agarra às palavras como um ato de resistência, e Sílvio Bernardes busca expandir os horizontes da vida através da escrita. Toni Ramos Gonçalves encontra na literatura uma vingança contra injustiças sofridas, e Pedro Nilo se percebe escolhido pela escrita, mais do que a escolher.
Cada um desses autores, com suas perspectivas e estilos distintos, compõe o mosaico da criação literária. Suas vozes, embora variadas em tom e tema, ecoam a universalidade do impulso criativo: a necessidade inata de expressar, explorar e existir através das palavras. Este conjunto de depoimentos não é apenas um testemunho de por que esses indivíduos escrevem, mas também uma celebração da própria arte da escrita, em todas as suas formas gloriosas e transformadoras.
Ninfa Parreiras (Donana e Titonho – 2018)
“Pra viver entre mistérios. Quando escrevo, um silêncio ou uma voz são plantados em palavras. É uma fantasia tecida entre memórias e sonhos. Linhas sonhadas, emboladas, planas, lisas, de muitas formas. Brinco com esse novelo que muda toda hora. Não tenho controle sobre o que escrever. Sou levada, capturada pela escrita. E quando empaco no texto, não consigo explicar o que acontece. São mistérios que me levam a transitar pelos desconhecidos, pelos afetos. Puro encantamento de viver.”
Maria Lúcia Mendes (Os Girassóis de João – 2023)
“Escrevo quando sinto uma forte necessidade de fazê-lo. As ideias surgem e me perseguem até que as transponha para a folha de papel. Na adolescência, fui muito incentivada por um professor de saudosa memória que lia minhas redações para os colegas, mas me vi escrevendo mesmo, aos 40 anos. Não escrevo sempre. Tenho períodos de aridez literária que respeito. Quando escrevo, sinto que me alheio da realidade, e isso me alegra e completa.”
Maria Rita Londe (Tempestades de Amor – 2018)
“Escrevo porque a nossa existência é curta e o instante não volta. Através da escrita deixo registrado o meu pensamento. E mesmo que as minhas ideias mudem, aquele pensamento teve o seu momento, o seu conceito. A vida é muito pouco para o que realmente somos. Escrever expande a minha existência.”
Vera Macedo (A Reinvenção da Coragem – 2020)
“Escrever é ter a alma transubstanciada em sentimentos vazados nas letras em sangue e mel! Performam e condensam vidas como nos sonhos! É morrer e desmorrer na página pálida à espera da trilha das teclas onde a poemia arrebata o adoecimento poético e se inscreve nela! É parir cristais e as palavras recém-nascidas são aleluias! Múltiplos, o escrever e o escrevente promovem arrepios, olhos molhados na solidão do autor e do leitor! Escrever é hosanar!!! E eu escrevo porque a minha lucidez está na loucura da minha prosa e dos meus versos!”
Wandick Robson Pincer (Sempre Poesias – 1998)
“Às vezes me pergunto por que escrevo. Escrevo pra libertar o poeta cativo dentro de minha alma, que, no desejo de se ver no próprio espelho de mim, sente necessidade de expressar sentimentos adormecidos, personagens e lugares mágicos, versos líricos e românticos, sonetos e elegias cinzas e azuis, cheios de sinestesia e realidade. A poesia me beijou a boca quando eu tinha quatorze anos! Aí, eu me encantei por ela e nunca mais a abandonei! Essa é a razão por que escrevo!”
Natália Alves (Tica da Vó – 2021)
“Escrevo porque escrever é um ato de resistência. A escrita resiste ao tempo, resiste aos homens e suas conjecturas. A escrita resiste até ao próprio escritor que muda com passar das estações. Escrevo para resistir ao passado, resistir às intempéries do ego, às catástrofes das minhas próprias decisões. Escrevo porque existe em mim uma vontade imensa de, através das palavras, ver um reflexo de mim mesma para meu autoconhecimento.”
Sílvio Bernardes (Essências – 2014)
“Escrevo porque a vida é pouca e as nossas expectativas são muitas. Escrevo para ampliar meus horizontes de vida, já que as palavras têm esse poder de dizer muito além do que a fala que sai da nossa boca. Quem escreve alcança mais o outro, no tempo e no espaço, como Moisés sobre as montanhas, orientado por Deus; ou como Paulo de Tarso e suas epístolas, sob a égide do Cristo.”
Toni Ramos Gonçalves (As Faces do Crime – 2021)
Eu escrevo para me vingar: vingar de todas as injustiças e preconceitos que sofri ao longo de minha vida. A literatura foi meu refúgio e minha fortaleza, ajudando-me a superar as inúmeras mazelas de minha infância. Além de me salvar, tornou-se essencial para mim; eu não seria ninguém se não escrevesse.
Pedro Nilo (Inertes – 2023)
“Escrevo por necessidade. Não é exatamente uma escolha ou uma opção. É algo meu, intrínseco a mim desde a infância. Vim de uma família onde não havia escritores, nem leitores assíduos como eu. Sempre fui muito estimulado a ler, talvez isso, juntamente com um pouco de curiosidade e ousadia, tenha feito florescer a escrita em mim. Mas isso é só suposição. O que sinto mesmo que não escolhi a escrita, mas que ela me escolheu.”
* Toni Ramos Gonçalves
Professor de História, Escritor, Editor, ex-presidente e um dos fundadores da Academia Itaunense de Letras – AILE. Graduando em Jornalismo.