Pressão popular e críticas fazem Saúde recuar sobre novo sistema de consultas nas UBSs 

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A recente mudança no sistema de marcação de consultas médicas nas Unidades Básicas de Saúde gerou uma onda de descontentamento generalizado entre os moradores da cidade. A insatisfação também chegou ao plenário da Câmara, onde vereadores de diferentes partidos criticaram duramente a nova forma de agendamento, que já foi alvo de uma indicação coletiva enviada ao prefeito Gustavo Mitre (Republicanos) e ao secretário municipal de Saúde, Alan Rodrigo. O documento solicitava a revisão urgente do modelo ou o retorno ao sistema anterior. 

Antes da mudança, o agendamento era feito diariamente, com cerca de dez consultas por dia em cada unidade, por ordem de chegada. Embora houvesse desconforto com as filas e esperas, segundo os vereadores, a maioria da população preferia esse formato, pois permitia atendimento mais imediato. 

A pressão aumentou após usuários revelarem a situação crítica nas UBSs, com pacientes esperando até 40 dias por uma consulta. A denúncia foi reforçada pela líder comunitária Daniela Maria, que, durante participação popular na Câmara, relatou que muitos pacientes desistem do atendimento, seja por já terem se recuperado, seja por recorrerem à rede privada, arcando com os custos da consulta. 

Diante das críticas, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou, no início da semana, uma nota com novas medidas para tentar amenizar os problemas. As ações incluem dois horários de triagem por dia nas UBSs, acolhimento em ambos os turnos, reforço no número de médicos, ampliação dos dias da “Saúde do Trabalhador” e reforço no atendimento pediátrico. 

Logo após as novas definições, o secretário encaminhou um ofício à Câmara informando sobre as alterações. No entanto, alguns vereadores voltaram a criticar a permanência do novo sistema. 

As reações mais contundentes vieram do vereador Israel Lúcio (União Brasil), que, em tom inflamado, condenou a continuidade do modelo, ainda em fase de testes: “O povo já está sofrendo, e ainda vamos fazer teste? Eu queria fazer um apelo ao senhor prefeito, pois recebi agora há pouco de um paciente o seguinte depoimento: ‘Fiz a marcação no dia 20 para consultar em 27 de julho, ou seja, 37 dias depois. Se Deus quiser, a doença vai paralisar em nome de Jesus. Você não vai passar mal, não, porque a consulta vai sair em 37 dias’”, ironizou o parlamentar. 

“O secretário fazer uma experiência com quem está aguardando atendimento é, no mínimo, falta de humanidade. O povo bate na nossa porta todo dia para dizer que os vereadores não estão fazendo nada. Mas quem tem o poder da caneta é o prefeito e o secretário, não somos nós.” 

Israel também alertou para os riscos no acompanhamento de doenças crônicas. “Uma pessoa do Alto da Lage, com problema cardíaco, me disse que precisa consultar só para pegar receita. Vai esperar quase 30 dias! Espero que o coração desse camarada aguente esse tempo, porque senão vamos ver a ficha dele na Jadapax e dispensar o médico, porque não vai precisar mais. Isso não pode ser experimento. Tem que voltar ao processo antigo e buscar uma forma mais eficaz.” 

A vereadora Márcia Cristina (PP) adotou um tom mais conciliador, mas também defendeu o retorno ao modelo anterior caso as mudanças não surtam efeito: 

“Algumas dessas medidas podem diminuir um pouco as filas, mas não devem resolver o problema como um todo. Se essa nova forma não der certo, vamos reclamar de novo. Estou aqui para fazer o que o povo quer. Se a maioria prefere ir para a fila de madrugada para ser atendida no mesmo dia, assim deve ser feito.” 

“Quando a gente entende que as coisas não funcionam, temos que ter humildade para voltar atrás e fazer da forma que a população quer e precisa”, concluiu. 

O presidente em exercício da Câmara, vereador Gustavo Barbosa (Republicanos), também demonstrou ceticismo em relação às medidas anunciadas: “acredito que não teremos um resultado positivo com essas alterações. Está havendo vaidade. Como todo mundo já disse, o melhor seria voltar ao modelo antigo e fazer ajustes pontuais. Essa insistência respinga no prefeito, que está muito dedicado a resolver os problemas da cidade.” 

Gustavo Barbosa também criticou a centralização do atendimento pediátrico no Centro de Especialidades Médicas Dr. Ovídio. “Tínhamos atendimento no Centro Social Urbano com o Dr. Euler, que se aposentou; no Posto Central com o Dr. Roberto Maia; e no Jadir Marinho com o Dr. Luiz Maurício, que também se aposentou. Acho fundamental retomar a pediatria no Posto Central. Centralizar no Dr. Ovídio prejudica mais do que ajuda.” 

Prefeito entra na questão e sistema de marcação antigo retorna dia 1º de julho 

Após intensa pressão da população e dos vereadores, o prefeito Gustavo Mitre convocou uma reunião em seu gabinete na manhã desta quinta-feira, 22, para ouvir as demandas trazidas pelo Legislativo. Após negociações com o secretário de Saúde, Alan Rodrigo, foi acordado que, a partir de 1º de julho, o sistema de agendamento nas UBSs voltará a funcionar conforme o modelo anterior. 

Participaram da reunião os vereadores Léo Alves, Márcia Cristina, Carol Faria, Guilherme Rocha, Tidinho, Israel Lúcio, Gustavo Barbosa, Beto do Bandinho, Giordane Alberto e Wenderson da Usina. 

A mudança não afetará os pacientes com consultas já agendadas entre 22 de maio e 1º de julho, cujos atendimentos estão mantidos. Nesse período, as demandas agudas continuarão a ser atendidas por triagem médica nos seguintes horários: das 7h às 8h, das 13h às 14h, e — nas unidades com o programa Saúde na Hora — das 19h às 20h. 

Assim, a partir de 1º de julho, os atendimentos voltarão a ser feitos por meio da retirada de fichas presenciais, por ordem de chegada, permitindo o atendimento no mesmo dia. Devido à mudança, não está havendo novos agendamentos de consultas.