Sílvio Bernardes
Nossa memória jamais será apagada enquanto houver uma maquete e uma fotografia na parede
Enquanto olho o retrato do antigo Cine Rex na parede da entrada do edifício Benfica fico pensando na bondade desse povo em deixar para as gerações futuras o legado das coisas do passado. Os empresários e os gestores culturais da terrinha são muitos bons quando falam em produzir maquetes do patrimônio histórico que eles destruíram, ou que ainda vão destruir, e, assim, não deixar que a memória se apague nos labirintos do esquecimento. O “pogresso” é assim mesmo. Que bom que temos as novas tecnologias capazes de reproduzir com uma capacidade de quase perfeição prédios, monumentos e objetos da história de nossa cidade. Para que guardar papel velho se podemos escanear documentos, fotografias originais? Até retocá-las, corrigindo-lhes as falhas de uso. Para quê manter de pé velhos casarões, com suas pinturas e esculturas clássicas, e detalhes arquitetônicos horrorosos de artistas que já morreram há muito tempo, se as maquetes feitas com madeira, plástico, isopor e outros materiais, conseguem copiar todas as formas e guardá-las por séculos? Algumas cópias são ainda mais bonitas do que as originais. Falam em prédios milenares, árvores centenárias e objetos do tempo das cavernas… meu Deus, que bobagem!!! Perda de tempo e de dinheiro. Nada que uma boa fotografia ou, quando muito, um vídeo, não substitua com beleza real o que antes era… um obstáculo ao “pogresso”. “Quem gosta de velharia é museu ou antiquário”, diz com sabedoria um conhecido meu, ledô do filósofo Olavo de Carvalho.
Podem jogar ao chão a velha chaminé da fábrica – assim como fizeram calar um dia o apito da mesma fábrica – já que eles se comprometeram em produzir uma maquete igualzinha ao original. Este povo se preocupa de verdade com história do município, não fica só no blábláblá. Mata a cobra e mostra o pau. São pessoas práticas, objetivas, de grande tirocínio e espírito altruísta. Tão falando agora em retirar da praça da matriz a fonte luminosa e o monumento ao fundador da cidade – o escorregador de concreto. Tem meu apoio. Aquilo lá já deu o que tinha que dar. E, claro, prometeram umas fotografias bonitinhas para que os saudosistas possam se lembrar daquelas coisas e os jovens verem o quanto o povo antigo tinha criatividade. Tudo tem que se renovar. Tudo se transforma, cumprindo a lei do célebre químico francês Antóim Deladier. Daqui a pouco é a vez da capela do rosário, da ponte do Nhô Zé, do casarão do padre Maximiliano, do prédio da estação, do mercado municipal, do hospital velho, do sobrado do Leão José, da casa dos Saldanha, da escola normal, das caesalpinias férrea na praça da matriz, da rural do Dr. Zé Campos, da motocicleta do padre Luís, do presépio do Umberto Salera… Tudo passa… mas, graças à fotografia e à habilidade dos artistas das maquetes, a memória não será apagada.
Não concordamos com o poeta Drummond quando disse que “Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói”. Dói nada, poeta. Vida que segue.