Sílvio Bernardes
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Meninos maus
Escrevendo sobre aquele negócio das velas, lembrei-me de alguns episódios do tempo de eu menino. Meu Deus do céu, como a molecada era maldosa. De primeiro era assim, havia uma corriola de gente que se alegrava em aprontar algumas travessuras e ver o outro se estrepar. Havia pequenas traquinagens e grandes artimanhas de botar Saci Pererê no chinelo. Quando eu penso em menino andando no mato, armado com um bodoque – ou estilingue – para matar passarinhos ou acertar as ancas das éguas que pastavam despreocupadas, me dá pena e revolta. E as armadilhas feitas nos atalhos por onde passavam as mulheres que carregavam água ou que levavam enormes feixes de lenha? E os apelidos que se colocavam no menino feio, no orelhudo, no vesgo ou no manco – muitos desses apodos eram analogia a animais, sem o mínimo respeito para com os colegas e com os nossos irmãozinhos chamados irracionais.
Menino mau tirava a calça do coleguinha em plena rua. E ainda gritava, o “arteiro desinfeliz”: olha o passarinho, olha o passarinho! Menino mau desligava o “relógio da Cemig” da casa do vizinho e passava cocô no interruptor. Menino mau apertava a campainha da casa – din-don – e saía correndo, deixando o povo da casa entre curioso e furioso. Menino mau colava chicletes na carteira da coleguinha chata e punha tachinha na cadeira do coleguinha mais fraco. O menino mau levava para a escola amendoim e não dava nenhum baguinho para o colega, mas soltava peido alemão na sala e jogava a culpa no coleguinha franzino. Menino mau amarrava o cadarço do sapato do velhinho que cochilava na igreja e ria sem mais poder quando o senhor se esparramava no chão. Menino mau mexia com o homem doido, ria pra valer dos palavrões e das ameaças, mas corria da chuva de pedradas daquele pobre louco.
– Olha a cobra, a cobra, gente! Era uma cobra enorme, feita de uma tira de tecido ou de uma planta chamada espada-de-são-jorge, amarrada em uma linha invisível e puxada pelo menino mau. A pessoa desavisada se assustava e saía correndo aos gritos, enquanto o menino mau comemorava mais uma travessura. Era um pestinha o menino mau. Um coisa-ruim em forma de guri. Cruz-credo, Deus me livre! Eu, graças a Deus, não carrego o pecado do menino mau dos tempos de amarrar cachorro com linguiça. Porém, confesso que me divertia de algumas traquinagens dos meninos maus da minha infância.
Carinha de anjo esse pestinha: um estilingue na mão e mil ideias na cabeça