Um dedinho de prosa com Dário Darson: O Homem do Braço de Ouro
Invariavelmente encontro-me com ele no meu caminho de volta da redação do S’PASSO, à porta de uma casa simples (onde mora com sua família) no alto da Rua São Vicente, entre o bairro Santo Antônio e o Centro da cidade. Invariavelmente a gente troca um dedinho de prosa, sobre o clima, a vida e, especialmente, a sua arte, um pouco escondida na memória de um tempo mais antigo. Este que me fala de coisas banais, e por vezes sem graça, é o Divino Sebastião de Jesus ou, talvez, o Dario Darson, que outrora brilhou nos palcos do Brasil e do mundo – no Japão, por exemplo, fora aplaudido com grande euforia. Era chamado de “O Homem do Braço de Ouro”, porque tocava guitarra, com maestria, usando apenas u’a mão. Divino perdeu o braço direito num acidente de caminhão em Itaúna quando era jovem, em 1958. De família de artistas populares e com grande facilidade para a música, Divino não quis parar de tocar por causa deste “problema”. Continuou insistindo com o violão e, depois, com a guitarra, e por mais de dois anos treinou o instrumento adaptado para suas novas condições físicas. O homem que toca guitarra com apenas um braço foi, no início da carreira, objeto de curiosidade de uma plateia acanhada. Depois, conquistou seus parceiros e públicos em várias partes do país – e também no exterior – e imprimiu um estilo único em sua arte. Tocou em festivais, na televisão, em boates, em circos, em teatros e, até, em feiras e quermesses humildes. Integrou por algum tempo a banda do rei Roberto Carlos, de quem se tornou amigo, e por causa disso conheceu e conviveu com inúmeros artistas da época, como Ronnie Von – que, aliás foi quem o batizou de Dário Darson –, Erasmo Carlos, Jerry Adrianni, Carlos Imperial, Martinha, Wanderléia, Paulo Sérgio, entre outros. Depois de um tempo longe de casa e da família voltou a Itaúna e aos poucos percebia que novamente fincara raízes nessa cidade. Não saiu mais da terrinha. Aqui casou-se, teve filhos e guardou suas lembranças de (talvez) tempos mais bem vividos.
Em Itaúna, sua cidade natal, fez poucos shows, mais no início de sua carreira, apoiado, principalmente, pelo radialista Cosme Silva, nos anos de 1960. Hoje, se ressente de não ter sido chamado para grandes eventos artísticos realizados pelo poder público e instituições particulares e não ter tido a oportunidade de mostrar seu talento às novas gerações, que não sabem quem foi Dário Darson.
Há poucos dias, às vésperas do aniversário de Itaúna (121 anos), Dário Darson completou 80 anos de nascimento. Está bem de saúde – queixa-se de dores nas pernas e, até, certa dificuldade de andar, o que não se nota aparentemente – e diz que poderia ainda fazer muitos shows. Faltam-lhe convites, oportunidades.
Soube do seu 80º aniversário nas nossas conversas de fim de tarde e aqui rendo-lhe as congratulações por sua vida artística, marcante da minha infância, e o seu dia a dia que nos permite um dedinho de prosa pelas ruas de minha cidade.