Que história é essa?

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Tem, mas acabou!

Sílvio Bernardes

Quem me indica um ferrador de cavalo? E um seleiro dos bão? Eu sou um caboco muito bão de sela, mas não sou arrastador de mala. Juro por deus que não sou. Quero encontrar minha mãe morta se tô mentindo.

Quem me indica um sapateiro que coloque meia sola nesse meu pisante?

Alguém viu passar por aqui o amolador de facas? E o moço do realejo, viram? Ah, quero ver minha sorte.

Gente do céu, cês viram como passou ligeiro o acendedor de lampiões? Acho que tava com dor de barriga, nem acendeu os postes da rua de cima.

Ontem esteve ali na pracinha o palhaço da perna-de-pau, um gigante, com um megafone esgoelando as coisas bacanas do circo “luxuosamente armado” no campo da várzea. 

– Hoje tem marmelada?

– Tem sim, sinhô!

– Hoje tem goiabada?

– Tem sim, sinhô!

– Hoje tem espetáculo?

– Tem sim, sinhô!

– E o palhaço, o que é?

– É ladrão de muié!

Lá em casa a mãe disse que tamos precisando de um carapina… o que é carapina, mãe? Ela não respondeu de pronto. Começou foi a cantar: “Eu sou ferreiro, marceneiro e carapina. Quero que você me ensina a lavar roupa sem molhar”. A mãe é engraçada demais.  Ela canta ainda, e muito, quando tá lavando roupa. Ela esfrega a roupa com cipó de são-caetano ou com pedra de anil, bate na pedra e coloca no quarador. “Eu canto mesmo. Tristeza não paga dívidas”, responde a mãe numa pausa de sua cantoria.

– Ah, eu quero tirar uma foto no parque. Daquelas fotos do lambe-lambe.

– Ah, sô, tira daquelas montado no cavalinho. Acho tão bonito!

– Bonito? Então, tira ocê! Um burro montado no outro!

Ixi, lá evém boiada. Bota sal no fogo e vamo ver os bichos estourá.

E por falar em fogo, vamo acender o fogão e colocar batata doce e mio verde pra assar.

– Não come muita batata doce, Silvinho. Senão vai ser uma peidação danada. Ninguém vai aguentá ficar perto docê! Desculpa de peidorreiro é barriga inchada.

– Amigo, me empresta a binga!

– Aqui a binga aqui, ó!

– Idiota. Quero é pitá, sô!

– Adão foi feito de barro, amigo me dá um cigarro?

– De barro foi feito Adão, amigo não tenho não!

Gente, vamo no mato catar guabiroba? Oba, vamos! Guabiroba, cagaiteira, mamacadela, pauzinho doce…

– Aproveita e traz uns gravetos pra mode de cozinhar o feijão… ah, e vê se a égua do cumpade Bastião tá perdida naquela mata.

– Égua perdida na mata? Com essa molecada solta por aí. Ixi!