QUE HISTÓRIA É ESSA?

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De volta para o futuro

Sílvio Bernardes

Há pouco tempo na sala de aula do ensino médio o professor observava os alunos – agarrados ao celular –, fundamentalmente embevecidos com os seus aparelhos e alimentava a ilusão de que em pouco tempo eles iriam se cansar do brinquedo novo. E, assim, voltariam para outras formas de entretenimento – os livros, por exemplo. Hoje, depois de alguns anos, o professor tem a convicção de que a atração pela modernidade tecnológica se amplia na mesma medida em que novos modelos são disponibilizados no mercado. A sequência dos números de um I Phone, por exemplo, é maior que a dos filmes de aventura dos norte-americanos ou que a numeração dos ovos de páscoa. Os divertimentos da meninada são cada vez mais modernos em tecnologia e há tempos grande parte dos jovens não sabe o que é um brinquedo feito à mão ou, pior, um livro de papel.

Foi pensando assim “isturdia” que minha imaginação voou – muito além dos aviões de papel que fazíamos nos intervalos das aulas antigamente. Imaginei então essa parafernália digital presente em alguns momentos da História.

Véi, na boa, já pensou a cena de Dom Pedro I às margens do riacho Ipiranga, num calor de setembro, no dia da Independência? Alguém da comitiva oficial e real, muito solícito, buscando o melhor ângulo para uma foto do imperador e seu gesto teatral (que o pintor Pedro Américo iria tornar mais fantasiosa ainda anos depois). E Pedro Primeiro não perderia a chance: “pega tudo, mano, mas não deixa aparecer as banhas”. E tome potássio: kkkkkk! “Essa vai pro Face, chefia!”. Em outra cena, um pouco mais distante, poderíamos ver um self de 1507, de Pedro Álvares Cabral, umas indiazinhas bonitinhas, mais uns indiozinhos de olhos amendoados e curiosos. O pau de self seria de quem? Dele, o repórter oficial do rei, Pero Vaz de Caminha. Aliás, a Carta de Caminha, seria enviada pelo WhatsApp direto para sua Majestade Dom Manuel I, com imagens deslumbrantes de índios nus, araras e pau-brasil. Noutra cena, um pouco adiante, leríamos a mensagem de um conectado índio dos Caetés sob a foto de um assustado bispo Dom Pero Fernandes Sardinha: “Nosso almoço de domingo foi assim: sardinha assada com inhame e frutas exóticas! Hum e tá bão!”. E o índio acrescentaria um vídeo com imagens lindas das terras brasileiras ao som de uma música bacana: “moro num país tropical/ abençoado por Deus/ e bonito por natureza/ que beleza!”.

Fico pensando numa mensagem de voz do WhatsApp do poetinha Vinícius de Moraes para o amigo Tom Jobim numa tarde de sábado de 1960, em Ipanema, chamando-lhe a atenção para um vídeo que ele acabara de gravar de uma garota linda passando por ali: “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa num doce balanço, caminho do mar!”. E o Tom responderia de pronto: “Isso dá música, Vina!”

E lá para os lados das “Oropas”, nos estertores do século XVIII, o médico francês Joseph Guillotin apresenta ao governo revolucionário, através de uma mensagem no Instagram, a guilhotina: “Olhe, Maximilien, apresento-lhe a máquina que irá fazer a cabeça das pessoas”. É por esse tempo  que o grande Maximilien de Robespierre já mudara o seu perfil no Facebook. Sob a reprodução de uma tela de Eugéne Delacroix, intitulada “A Liberdade Guiando o Povo”, ele escreveu “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, em bom francês, é claro. Foi um sucesso. Dizem que Danton e Marat também mudaram o perfil do Face, copiando o do colega Robes.

E já que falamos em Facebook, imagino Hitler, ainda no vigor de sua luta pelo poder, em setembro de 1939, escrevendo em sua página: “Partiu Polônia!”. Somente isso e centenas de curtidas. O primeiro a curtir – e a compartilhar, é claro – foi Joseph Goebbels, já há muito amigo de Face e de outras redes do Führer. Hitler escreveria outras mensagens curtas em seu Face nos dias que se seguiram, sempre com inúmeros curtires e alguns compartilhamentos, tipo: “Ô raça!”, “Partiu Moscou!”, “Só detesto três coisas: negro, judeu e racista!”.

E voltando ao Brasil, na noite do dia 16  de novembro de 1889, já meio adoentado, o velhinho Deodoro da Fonseca, publicaria em seu perfil do Facebook, sobre a sua foto com uniforme de marechal, com a mão sobre a espada embainhada: “Se sentindo confiante!”. O primeiro a curtir a página de Deodoro foi o colega Floriano Peixoto, igualmente marechal. Em seu perfil, com foto bonita de um self de espelho, ele escrevera apenas uma frase que só seria entendida anos depois, já como presidente do Brasil: “À bala!”.

E o Facebook perguntou um dia ao Rodin: “No que você está pensando?”. E ele respondeu com uma imagem, que muitos curtiram e que eu compartilhei. Esta: a do “Pensador”.

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