Que história é essa? – Coisas nossas

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Fonte: www.cronicassãojoaquimdabarra.com.br
Sílvio Bernardes

Minha cidade já foi pequena e provinciana. De vera. Era uma vez assim, uma cidadezinha fincada nas alterosas, que de tão pequena e tranquila, todo mundo se conhecia e se tratava com carinho de família. As casas comerciais eram conhecidas por conta dos seus proprietários, gente amiga e meio que da casa da gente. Os grandes empreendimentos de negócios eram apenas sonhos distantes (da capital) ou coisa de televisão. Aqui para nós, era tudo coisa nossa. A loja do Adolfinho era o máximo em novidades de eletrodomésticos, assim como a do Meroveu e do Aristeu Camargos. De primeiro tinha também a loja do Teco, que vendia artigos para pesca e caça, que era uma beleza. Móveis? Para nós era a mobiliadora do Adotivo. No ramo de material de construção o negócio era do Marcelo e do Luís Guimarães ou do Antônio Marques Filho. Posto de gasolina era do Bossuet, que depois virou posto do Galvão. Mas tinha também o posto do Teir, na Vila Mozart. No quesito panificação, minha cidade dispunha de uma deliciosa variedade, era padaria do Vasco Mendes, padaria do Zé Brotinho, padaria do Zé Caetano, padaria do Waltinho e padaria do Zózimo. Carne boa era do açougue do Waldo do Zé Pereira. Bem pertinho do açougue do Waldo ficava o armazém do Gerardo Criolando e mais adiante, o armazém do Dico do Osório, pertinho da mobiliadora do Gilberto e da loja do Roque. Ah, não podemos nos esquecer do simpático mercadinho da Lica Côca, pequeno e aconchegante, naquelas imediações. O mercadinho da Lica era um lugar onde minha mãe passava quase todos os dias –  para comprar uma mistura pro almoço e para um dedo de prosa com a proprietária do estabelecimento.

Quem vê hoje a impessoalidade que tomou conta do comércio desta terrinha não imagina que aqui até escola tinha a cara (e o nome) do dono. Falo da Escolinha do Carmelo, mas já houve por aqui um certo ‘colégio do padre José’. Um tempo atrás a gente tinha importantes empresas de ônibus. Recordo-me da do Zé Cuei, da do Geraldo Melado, da do João Ruela e da do João Morais. E quem não se lembra da vidraçaria do Disson? Do mercadinho do João Tiófo? Da loja de artigos religiosos da Maria do Cardoso lá no mercado municipal? E da sapataria do Zé da Iara? E o armazém do Osvaldo do Serafim, na rua Silva Jardim?

A memória dá conta de um colosso de pequenas empresas e grandes negócios, de um passado não muito distante. Do bar da Maria do Nego lá no Mirante, que existe até hoje com a Dona Maria e o seu filho Pinóquio no comando. Do Buteco do Zé da Ramira ali na rua direita. Do armazém do Grilo da Lagoinha. Da loja do Boró. Da Funilaria do Afonso Franco. Da barbearia do Zezé do Emídio. Da funerária do Tonico Alegre. E do bar do Tomiro, lá nos Garcias, onde também pontificavam o armazém do Rufino, a venda do Gregório e a mercearia do Aristeu. E o parque do Lôli? E a equipe de rodeio do Zé Capitão?

Isso tudo é coisa nossa. Sem falar do Tóim da Vitamina, do Márcio da Brasiliana, do Arnaldo da Rádia, do Tonico e do Waldemar da Mafita, do Arnóbio da Estação, do Aldo da Farmácia, do Cordomar do Asilo, do Paulino da Loja Santana, do Zezé Lima da Companhia, do Piu da Folha do Oeste, do Celinho do Brexó, do Tóim de Freitas da Tribuna, da Loja do Juquinha Xavier…