Que história é essa? Crônica escarlate ou falta de inspiração para escrever coisa melhor

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Sílvio Bernardes

Esturdia eu tava olhando um sujeito na rua e pensando que na minha cidade tem um povo vermelho. Muito vermelho. Muita gente. Não falo de comunista não, mas de gente com a cara vermelha, que nem pimentão – ou camarão. Parece até aqueles americanos de filmes, uns nórdicos de pele branca, cabelos curtos, arrepiados, e rosto vermelho.  O sujeito que eu encontrei era assim. Vermelho firme. Lembrei-me de um político antigo da direita, de família tradicional de empresários, que insistia para um jovem e incrédulo repórter do “Jornal Brexó”, que no seu tempo de moço fora, também, um militante da esquerda. Chegara a envergar uma camisa vermelha e sair por aí. Seus irmãos o chamavam, por conta disso, de “Vermelho”. Hahahahaha, só se era vermelho de vergonha, pensou consigo o jornalista verde. Sempre me intrigaram pessoas com a cara constantemente vermelha. O resto da pele é branca, muito branca, mas a cara é vermelha. E quando se apresentam com os olhos vermelhos também, a gente fica ainda mais intrigado.

Na minha meninice apaixonei-me, delicada e docemente, por uma garota que tinha as bochechas vermelhas, como se usasse carmim o tempo todo. Ah, como ela era linda. Quando sorria, com os olhos e com aquela boca linda cheia de dentes, seu rostinho se iluminava num vermelho apaixonante.

Sempre tive uma queda pela cor vermelha e, embora o amarelo seja a minha preferida, o vermelho tem o seu lugar quando vou escolher uma bruzinha (ou uma calça, uma cueca, uma meia, enfim). Deve ser por isso que quando estudante do ensino primário a minha caderneta escolar era repleta de notas vermelhas. Por causa disso, cheguei em casa, muitas vezes, um tanto quanto ruborizado e minha mãe ficou vermelha de raiva. E sua reação me deixou com manchas avermelhadas pelo corpo. Adolescente, quis ir para a luta ao lado dos camaradas do Partido Comunista e empunhar com eles a bandeira vermelha com a foice e o martelo. E cantar a “Internacional” numa tarde (vermelha) na Praça da Matriz – trepado na fonte luminosa, impassivelmente vermelha e solícita. Tornei-me, depois, um militante do Partido dos Trabalhadores e por diversas vezes segurei a bandeira vermelha com a sua indefectível estrela – aliás, carreguei a estrela no peito por onde quer que ia. Ficava ruborizado – e levemente envaidecido –  quando era chamado de  ‘vermelhinho’, ou ‘fiote do Lula’ e não me incomodava quando diziam que eu era da esquerda festiva ou um esquerdista melancia: verde por fora, vermelho por dentro.  Ainda assim, muitos conhecidos não me chamavam pelo nome, mas pelo apropriado cognome de “PT”.   Era petê pra cá, petê pra lá…

Agora, relendo essas linhas acima, fico pensando numa coisa: por que é que escrevi isso? Uma bestagem tão besta, uma bobage tão boba. Minha cara nem queima.