Que história é essa? Essa pedra preta, essa canção…

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Sílvio Bernardes

De vez em quando, no aproximar do aniversário de Itaúna (16 de setembro) me toma conta uma vontade doida de ler/reler e escrever sobre a cidade onde nasci, criei laços, sonhei, sofri, chorei ou sorri  – com ou sem pieguice e lugar-comum. Penso no povo que ainda vive e que muito contribui para que eu ame de verdade essa cidade. E penso, muito, no povo que me antecedeu na caminhada – gente importante, de acordo com a visão dos historiadores oficiais e gente anônima, sem pai nem mãe, nem pedigree (como escreveu a Rita Lee), muito importante na minha trajetória. Até no cemitério central eu fui à procura das referências dessa boa gente que um dia aportou nessas terras. E passeei por aqueles túmulos antigos, revendo as lápides e as inscrições que dão conta das pessoas que ali encerraram sua compleição terrena depois de fazerem muito – um pouquinho, ou quase nada por Itaúna. Muitos daqueles nomes ocupam as placas de rua de minha terra e eu confesso que os conheci primeiramente pela denominação dos logradouros públicos. Depois, sim, os reencontrei nas narrativas (escritas ou orais) do João Dornas Filho, do Mário Matos, do Pancrácio Fidélis, da Aureslisna de Faria, do Miguel Augusto Gonçalves de Souza, do Guaracy de Castro Nogueira, do Piu da “Folha do Oeste”, do Luiz Gonzaga da Fonseca, da Maria Lúcia Mendes, do Osório Martins Fagundes, do Oscar Dias Correa, do Áureo Nogueira, do professor Luiz Mascarenhas, do Charles Aquino, do José Silvério Vasconcelos Miranda, do Sérgio Tarefa, entre outros.

Nesses dias, de embevecimento pelo aniversário de minha cidade, eu quis levar para a sala de aula, onde sou dublê de professor de História nos sextos anos do Ensino Fundamental II (na Escola Professora Celuta das Neves), um pouco do que sei sobre essa efeméride tão pujante. Em vez de repisar o Hino de Itaúna – bonito demais da conta, eu sei. E pedir que a meninada – viciada em Free Fire, PUBG Mobile, Tik Tok e outras viagens – decorasse a letra (e também a música) que fala das belezas e possibilidades de elevação nos ambientes dos nossos avoengos (uau!) ou de reproduzir os símbolos do município, como o brasão (argh!) e a bandeira (tão simples e terna), preferi   que eles admirassem o poema da minha amiga, essa poeta maior chamada Maria Lúcia Mendes (“Canção para Itaúna”). E fossem um pouco além, compondo com ele,   em forma de um desenho, com o título “Meu presente para Itaúna”, o seu amor pela cidade.  O resultado foi surpreendente. Alguns alunos mergulharam fundo nessa atmosfera de poesia e encantamento e trouxeram excelentes produções de texto a partir da imagem das paisagens mostradas pela poeta na sua ‘Canção’.

Eis aí a CANÇAO PARA ITAÚNA, da grande mestra da literatura itaunense Maria Lúcia Mendes:

“Eu te amo, terra dos quintais maduros,

no Rosário da Laje, onde pastam sonhos.

Crepúsculo no Bonfim –  como não vê-los?

A seiva minando do chão bruto

é ferro que engendras, são teares.

riso e suor no tempo emoldurados.

a tempo de viçar toda uma história.

Terra que soprou-me ventos vários,

fome e razão –  raiz num veio d’água

amo tuas virtudes, teus pecados;

Sou tua filha, a Pedra Preta eu beijo!”.