Que história é essa? Fernando ou Odnanref?  

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Sílvio Bernardes

No próximo dia 12 é aniversário do mineiro Fernando Sabino. Se estivesse, ainda, em nosso plano físico, faria 101 anos. O aclamado escritor do nosso século compunha com outros brasileiros – e mineiros, especialmente – uma plêiade de intelectuais que nos legaram uma grande transformação artística e cultural que até hoje perdura, felizmente, com significativo impacto na vida moderna. Creio que fui muito influenciado pelo Fernando Sabino em meu jeito de contar histórias e se não o faço com a maestria do mestre, é porque há uma grande distância entre a intenção e o realizar desse que lhes fala. Mas, com o Fernando Sabino eu aprendi, ainda mais, a ler com  os cotovelos na mesa – sem perder a oportunidade de, também, ler na cama, que é lugar quente . E, assim, a deliciar-me com as narrativas sobre a boemia carioca de que faziam parte, além dele, o Vinícius de Moraes, o Rubem Braga, o Paulinho Mendes Campos, o Otto Lara Resende, o Di Cavalcanti, a Clarice Lispector, o Aníbal Machado, o Tarso de Castro, o Jaguar, o Roniquito, o Albino Pinheiro, o Tom Jobim… Do Fernando Sabino tive notícias do Hélio Pellegrino, do Carlos Drummond de Andrade, do Mário de Andrade, do Jorge Amado, do Murilo Rubião, do Jayme Ovalle, do Manuel Bandeira, do João Cabral de Melo, até mesmo do ilustre desconhecido itaunense Marco Aurélio de Moura Matos, filho do ilustrado causídico, político e literato Mário Matos.

O Fernando Sabino e sua corriola de gente da literatura, da imprensa, do teatro, do cinema, das artes plásticas, da música, enfim, nos colocaram numa situação bastante envolvente. Eram os tempos em que as pessoas liam e comentavam o que liam. E liam livros, e liam jornais e revistas, e liam placas de rua, e reclames coloridos espalhados pelos quatro cantos do mundo. Nos bondes, nos ônibus, nos aviões, nos aeroportos, nas rodoviárias, nas filas de bancos, nos botecos, nas vendinhas de secos e molhados, o povo lia. Hoje o povo não gosta de ler. É preguiçoso e nas mais das vezes, analfabeto. Não sabe ler  – quem diz o contrário está mentindo, se enganando.  É claro que muitos desses modernos se dizem espertos, inteligentes, sabem de computadores, são mestres em celulares, habilidosos em mensagens – curtíssimas – do WhatsApp e do Instagram. Sabem consultar o Google, fazer vídeos e conseguem efeitos espetaculares em suas telas, compartilhadas com milhares de seguidores. São formadores de opinião, influencers e os cambau.

Outro dia fui falar com uns jovens recém-saídos do ensino médio sobre a literatura do Fernando Sabino, a poesia do Drummond, do Manuel Bandeira e do Vínícius e a música do Tom Jobim e do Chico Buarque. A maioria nem deu trela para a minha fala. Nem tchum, como dizia minha mãe. Outros me olharam com um misto de espanto e curiosidade. “De quem cê tá falando, véio?”.

O povo não lê mais. Antigamente, quando comecei a trabalhar em jornal, em fins dos anos de 1970, as pessoas, em geral, liam e comentavam (debatiam mesmo) aquilo que liam nos jornais, nas revistas e nos livros de literatura. Hoje, são avis raras os que o fazem. Até mesmos os nossos mais chegados companheiros – muitos metidos a intelectuais – não dão o menor indício de que leram esse ou aquele autor, aquela ou outra reportagem do jornal. Sabem de tudo e não sabem nada.

Tenho quase certeza que esse meu texto, obra bisonha, como diria o Rangel Coelho (quem?), não alcançará os olhos de uns conhecidos meus, gente culta e fina. Mas tenho plena convicção que eles continuarão postando frases e vídeos da internet a torto e a direito porque são internautas engajados.

Mas, voltando à vaca fria, o Fernando Sabino é nosso! Sempre presente!