Sílvio Bernardes
“Ruas de minha terra,
Verbo nenhum as descreve
mas a saudade dilacera:
Ruas e becos, eu os conjugo,
nas cercas de bambu, divisa séria
postes de pau fincados longe,
melhor palco não tinha
para pique-de-ronda e paga-tapa
Era a Rua da Piteira
Rua da Ponte
Rua Direita (tão longa, tão torta)
Rua das Viúvas
Rua do Buracão
Rua do Canto (o casarão do velho Chico Marques)
Largo da Matriz, Largo dos Passos
Rua da Várzea (que o São João brabo quase engoliu na enchente de 1948)
Beco do Jota
Beco da Caridade
Beco do Zeca Bambu (mal-assombrado, diziam).
Rua do Cascalho (rogai por nós, Aninha da Capela).
Ruas de Minha terra…
Hoje tão diferentes, conjugadas,
No pretérito imperfeito da memória”. (MARIA LÚCIA MENDES – Geógrafo, in “Itaúna Pedra de Cetim” (2001)
Não sei quem foi a Júlia. Se era moça, se era idosa, se era gorda, se era magra, não sei. Confesso que nunca soube. Mas eu me lembro muito bem do Morro da Júlia, ali próximo do Cascalho, da Laje. E sei também que uma vez um sujeito desceu despenguelado, montado numa lambreta – ou era Vespa? – o Morro da Júlia e se esborrachou lá em baixo, com lambreta e tudo. A moçada de hoje não vai saber que a rua Aurélio Campos já foi chamada por muito tempo de Rua do Buracão. E que lá no alto da rua havia um buracão enorme e que a gente tinha medo de cair nele, como aconteceu com o Silva Jardim (que também é nome de rua aqui na terrinha) no vulcão Vesúvio. Duvido que os mais jovens saibam que a Rua Direita de ontem é a tortíssima avenida Getúlio Vargas de hoje.
De primeiro o povo tinha mania de chamar os logradouros públicos pelo nome de um morador ilustre – ou por seu apelido – ou por causa de algum ponto importante do lugar. Os exemplos mais marcantes são da Praça da Matriz, da Praça da Estação e da Rua da Zona ou Rua da Coréia, Praça do Capeta e a Praça da Lagoinha. Não são do nosso tempo o Beco da Caridade (?) e a Rua das Viúvas, mas nós somos contemporâneos da Praça dos Aposentados. Eu sei também que a bonita e pequena rua Melo Viana era por muita gente chamada de Rua do Padre (José) e a empinada rua Coronel Laurindo apelidada de Rua do Venero.
Quem sabe onde se situava a Rua do Ginásio? Podia ser a Dr. José Gonçalves, do Ginásio Santana ou a Magalhães Pinto, do Ginásio de Santanense. E a Rua da Funerária, alguém aí pode me contar se é mesmo a Godofredo Gonçalves, antiga Rua São José? Haverá algum leitor atento que poderá me dizer que esta é Rua da Rádia (da Rádio Clube de Itaúna). E a tal Rua da Várzea, por onde passava? Será que é a mesma da Varlaria?
– Moço, onde fica a Rua do Correio?
– ?!!
– E a Rua do Cemitério?
– Ah, essa é moleza, é a rua que vai pro cemitério, pra cima da Rua da Cadeia?
– Mas esta que ocê falou não é a Rua da Ponte?
– Que ponte, sô, essa é Rua do Matadouro. Ou é Rua do Beira Rio? Sei lá, agora ocê me apertou sem me abraçar. Assim cê me quebra, mano!