Sílvio Bernardes
Fico observando os sobrinhos e seu entusiasmo com o material escolar para o ano letivo de 2025. A lista é enorme e também grande é a alegria dos meninos com os novos cadernos, lápis, canetas, pastas, lancheiras… Cada peça escolhida é mais bonita que a outra. E as cores? E os desenhos, os motivos, as referências? Cadernos de capa dura ou brochurão, todos devidamente plastificados e de cores vivas. Esferográficas, hidrocores, giz de cera, corretivo, marca-textos, borrachas que imitam barra de chocolate, estojos em formato de carrinhos, lancheiras com recipiente térmico e com desenhos incríveis. É tudo muito bacana, mágico. Eu não sou desse lugar, desse tempo…
Fico pensando no meu antigo grupo escolar e no material que levávamos para as aulas do começo ao fim do ano. Eram os nossos objetos escolares e, muitas, vezes, os comprávamos – ou ganhávamos da benevolência do zoto – sem nenhuma obediência à lista da escola. Não havia tempo e nem dinheiro para seguir essa orientação. Aliás, não havia nem muita loja para oferecer coisas diferentes. Cadernos simples, de folhas grampeadas e de capa de um papel um pouco melhor, com duas ou três cores – e, muitas vezes com desenhos horrorosos. Numa ocasião eu tive um caderno que tinha na capa os bichinhos mascotes dos times de futebol: a raposa, o galo, o coelho… e, no meio, uma imagem do Mineirão (“Estádio Governador Magalhães Pinto”). Os lápis eram preto – alguns com um apagador de escrevinhação espetado na cabeça, como uma touca – e as borrachas brancas ou, quando muito, de duas cores. Essas, terríveis: de um lado, apagava o escrito, do outro, rasgava a foia do caderno. As pastas (ou bolsas) eram muito básicas: pretas com fecho-ecler (o popular zíper) ou com botão de metal. Alguns meninos muito pobres carregavam os objetos escolares – também muito pobres e quase sempre doados pela Caixa Escolar – em sacolas de pano ou de plástico (capangas), ou na mão mesmo. Esses meninos usavam caixinhas de retrós (“Drima” ou “Corrente”) à guisa de estojo para os lápis, borrachas e canetas.
Lembro-me de que fiquei metido à beça com a minha primeira pasta escolar: uma bolsa simples, de um amarelo desbotado, com um enorme fecho-ecler. Havia outras muito mais bonitas, em cores preta e branca, com um pequeno bolso na frente onde se lia, ao lado do desenho de uma coruja, a palavra Estudante. Também me senti muito gente com o meu primeiro estojo de madeira, se não me falha a memória, da marca “Xalingo”. Nossos livros eram de segunda mão e os cadernos aproveitados até a última linha da derradeira página. Também compunham os nossos objetos escolares um livreto de tabuada, para as aulas de Aritmética, uma régua de madeira, uma caixinha de lápis de cor – de, no máximo, doze cores -, lâminas de barbear (da “Gilette”) para apontar os lápis. Ah, e, de primeiro, havia lá dentro da pasta – e muito mais dentro da gente – uma vontade de aprender e de crescer e de ganhar o mundo e de ser alguém na vida e de sonhar.