Que história é essa? Noites de lua e as brincadeiras na rua

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Um vaga-lume ou, se quiserem, um pirilampo e sua lanterninha mágica

“A minha rua/ não era iluminada/ simplesmente ornamentada/ Por um simples lampião./ Porque morava/ sobre o nosso telhado/ Um luar tão prateado/ como aquele do sertão.” (JOÃO PACÍFICO in “Minha rua”)

Outro dia – ou como fala minha tia “esturdia” – creio que vi um vaga-lume voando pelaí. Foi ali pelos lados do bairro Vitória, onde a iluminação elétrica – tão fraquinha – ainda não consegue ofuscar as noites de luar. O bichinho, a quem muitos chamam de pirilampo, riscava a escuridão do lugar com um balé graciosamente iluminado e me transportou para um tempo pretérito. A minha rua, como na antiga canção de João Pacífico, era escura sem as lâmpadas da Cemig (ainda chamada de Centrais Elétricas de Minas Gerais). Se havia lua, a noite era clara e divertida com um colosso de brincadeiras e uma porção de meninos (e meninas) em algazarra na rua.

– Caí no poço…Oba!

– Apareceu a Margarida!

– Catirina, catirá, a “véia” invém lá!

– Você quer brincar de pique? É de pique, picolé…

– Um, dois, três… todo mundo salvo!

E, no meio dessa folia, os vaga-lumes passeavam no alto, a nos observar com sua luzinha esverdeada. Pareciam brincar com a gente, também com imensa euforia.

 Nesse tempo, havia uns moleques que capturavam os vagalumes para roubarem sua luz e sua magia.

Vaga-lume tum-tum, seu pai tá aqui, sua mãe tá aqui

Lorota. Mentira pura. Mas os bichinhos caíam na armadilha. Um tição em brasa, sacudido no ar naquelas noites altas, confundia os pequenos lanterninhas, que caíam tontos. Acho que depois de tanta provocação, ameaça e mentira, os vaga-lumes sumiram das noites nas cidades. Depois disso, a gente não viu mais os vaga-lumes, nem as noites de lua e tampouco a alegria daquela meninada.

Outro dia, eu acho, vi um vaga-lume na noite silenciosa desses tempos de agora. Se foi mesmo um vaga-lume, devia ser um trânsfuga daqueles tempos, das brincadeiras de moleques da rua, que ficaram lá atrás.  Por conta disso fiquei pensando em quando foi que nós brincamos na rua pela última vez. Em que ponto e lugar da nossa memória se esconderam aqueles moleques da rua?

– Todo mundo escondido? Tô innnnnnnnnnnnnndo!