Sílvio Bernardes
Eu vejo os menores, hoje, fissurados nos jogos eletrônicos – os videogames que se jogam nos computadores, tablets e smartphones – e fico me lembrando que em criança eu era viciado em jogos de rua, que eram também muito emocionantes e divertidos, a despeito do perigo que escondiam a cada investida. As peladinhas nos campinhos improvisados nas ruas, as invasões nos quintais alheios à cata de frutas maduras, onde se trepava nas grimpas das árvores pra chupar as doçuras das estações… As corridas no meio do mato, nas brincadeiras de polícia-e-bandido, as disputas de quem atravessava mais rápido tal rio, a nado – eu, nada –, as baratinhas e as patinetes… Os jogos de finquete, bilboquê, diabolô, bente-altas, rouba-bandeira, cabra-cega. Era tudo uma beleza e, nas mais das vezes, repletas de adrenalina.
Mas, a meninada do meu tempo também se encantou com os jogos eletrônicos da primeira loja de fliperama que se instalou em Itaúna, nos primeiros anos de 1970. Eu trabalhei lá, todos os dias depois das aulas no Grupo Escolar José Gonçalves de Melo. A loja do Nelsinho da Zizi, situava-se na Praça do Capeta, num espaço de uma porta só, espremida entre a Casa de Ferragens do Zé Mendes Nogueira e o consultório do Dr. Walter Mendes Nogueira, onde hoje funciona o prédio 5ª Avenida. A loja compunha-se de umas poucas máquinas, além de um jogo de Totó, se não me falha a memória. Meninos de calças curtas e rapazes de várias idades frequentavam o Fliperama do Nelsinho e o tempo todo era aquele doce furdunço das máquinas de jogos, cheios de luzes e sons. Para jogar, usavam-se umas fichinhas de metal, vendidas por uns poucos trocados. Tinha gente que gastava uma boa grana com aquelas rodelinhas e a emoção que as máquinas proporcionavam.
Mas, mais do que os jogos, eu gostava de trabalhar ali, onde me encontravam com alguns amigos – novos e recentes – e de onde, numa posição privilegiada do ponto de vista da paisagem, ficava vendo as moças passarem. As mocinhas das lojas, as meninas e os meninos de uniforme do grupo de cima e do grupo de baixo, da Escola Normal e do Ginásio Santana e, também, as mulheres da Coreia, que raramente saiam de seus ambientes – enfumaçados e de pouca iluminação na zona do ‘baixo meretrício’ – passeavam por ali o tempo todo.
O “Seu” Nelson da Zizi era um homenzinho muito gente boa, que me tratava com respeito e simpatia. O Fliperama do Nelsinho foi um dos bons momentos da minha meninice e me mostrou, desde então, que eu não vejo muita graça em videogames. Aliás, em jogo algum no qual os jogadores ficam parados, em pé ou com a bunda nas cadeiras. Não gosto de jogo de baralho, nem de porrinha, nem de queda de braço, nem de pôquer e, nas roletas dos cassinos, se joguei, não me lembro, não foi nessa encarnação. Mas, posso ter sido um crupiê ou, melhor, um crooner de orquestra no Cassino da Urca. Hoje, ainda me permito umas partidas de adedanha, um jogo de pisca (em que se mata pra caramba os incautos de toda hora) e de mímica de filmes, com a gente lá de casa e os amigos de sempre.