QUE HISTÓRIA É ESSA? O Pasquim

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Sílvio Bernardes

Um dos grandes aprendizados que tive no jornalismo foi o contato com boas leituras de – vá lá – coleguinhas que sabem escrever. Ali pelos fins dos anos setenta, por causa do pessoal do “Jornal Brexó”, conheci o Pasquim, jornal de humor e denúncia, que muito inspiraria aquele jovem que sonhava em ser um escrevinhador da imprensa. Eu custava esperar a segunda-feira para pegar o meu Pasquim na banca do Geraldo Turruca. E, naquele tabloide semanal por eles chamados de hebdomadário,  lia todo o conteúdo, até mesmo os anúncios. Foi no Pasquim e, depois, em boas conversas na redação do “Brexó” – onde eu sonhava que ali seria uma espécie de sucursal da Rua da Carioca, onde se reuniam os do Pasquim – que eu soube um colosso de coisas sobre a imprensa. Dali, se sabia quem era quem, os da direita, os da esquerda, os de estilo e os sem nenhum, o que estava saindo quentinho no mercado editorial de qualidade… Foi um pouco pelo Pasquim que eu me filiei ao PT e mantive minha ideologia por muito tempo – afinal um dos meus ídolos da terrinha, o médico e boêmio Peri Tupinambás, presidente do partido, era um dos “ledô” do jornal do Jaguar. O nosso Peri escrevia tão bem quanto alguns cobrões que pontuavam no Pasquim – e bebia melhor que outros tantos daquela turma.  

Ah, o pasquim! Vou te contar, véi!  Quanta loucura criativa suas páginas produzia. Aquilo ali era uma usina de ideias, muitas delas geniais – muitas tantas perdidas pelaí. Sem exagero, as suas páginas valeram muito mais (e causaram mais impacto) que alguns “fogueteiros” que se insinuavam contra a ditadura militar nos anos setenta e oitenta. Grandes entrevistas. Boas risadas. Fecho os olhos (e abro a mente) e vejo o time de intelectuais do Pasquim que eu conheci: Jaguar, Millôr Fernandes, Ziraldo, Alberto Dines, Ivan Lessa, Fausto Wolff, Glênio Peres, Fortuna, Mariano, Nássara, Henfil, Albino Pinheiro, Sérgio Cabral (o pai), Claudius, Tarso de Castro, Paulo Francis… O ratinho Sig era quem apresentava essa turma.

Inesquecíveis os textos, as charges, as críticas ferrenhas aos poderosos da vez. Como esquecer os fradinhos do Henfil? O mineiro come-quieto do Ziraldo? Os porres etílicos do Jaguar? As aulas de história da música brasileira com o Sérgio Cabral? O humor cáustico e genial do Millôr? Não foram poucas as vezes que o jornal foi censurado e não raras as incursões de alguns dos jornalistas do Pasquim ao xilindró da ditadura. Um dia o Millôr escreveu: “nós, os humoristas, temos muita importância para ser presos e nenhuma para ser soltos”.

Naqueles tempos de grande repressão, na redação da Rua da Carioca estava escrito na porta: “Entre, sem bater”. Mais direto impossível.

Capa de um antigo número do Pasquim, com alguns dos seus jornalistas e o ratinho Sig, criação do Jaguar