Que história é essa? Perguntar ofende?

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Sílvio Bernardes

A mulher gorda fica possessa – e com razão – quando alguma atrevida lhe pergunta: “menina, cê tá grávida?” ou, pior, “é pra quando, querida?”. Para quando essa língua couber dentro da sua boca, intrometida! Mas não são somente as mulheres que enfrentam perguntas desconfortantes e invasivas no dia a dia. Os homens também. Experimente sair durante o dia nos chamados dias uteis. “Cê tá de férias?” “Já aposentou, véio?”. E com as perguntas chatas vêm os comentários importunos: “Tá aí de boa”, “forgança, hein?”, “eh vidão!”, “gordo que nem um coronel”, “passeando na avenida enquanto seu lobo evém”.

Quando a gente era criança havia uma quantidade de perguntas idiotas que o povo ouvia e fazia, que eu vou te contar. Diante de uma novidade qualquer, um brinquedo, uma roupa nova, um pisante diferente, vinham os questionamentos: “comprou ou ganhou?”. “É novo? Posso batizar?”. Havia umas perguntas mais malucas ainda: “onde cê comprou desse tinha pra homem?”. E os mais espertos devolviam: “por que? vai comprar pro seu macho?”.

No armazém do Dico do Osório, era muito comum a gente ir comprar determinado produto atendendo a um mandado da mãe, com a carinha mais inocente do mundo: “o senhor tem toicinho de banha de porco?”. E ouvir como resposta, do simpático vendedor, que carregava num canto da boca sua indefectível piteira: “tem, mas acabou!”. Na mesma vendinha os meninos da escola, do Grupo Escolar José Gonçalves de Melo, que se situava quase em frente,  chegavam de mansinho com uma moedinha de pouco valor: “o que o senhor tem de 10 centavos?”.

Olhe o nível das conversas mais prosas dos moleques mais prosas que frequentavam a mesma infância da minha meninice: “sabia que na padaria do Zé Bolacha o padeiro amassa o pão é com a bunda?”. Mentira sua, vê lá! “sim, bobão, ele não tira a bunda pra amassar o pão”. “Sabia que se a gente cavar um buraco graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaandão a gente saí no Japão?”. “E se ocê atravessar o arco-íris, babau, vira muié?”.  “Mas se ocê conseguir chegar no fim do arco-íris cê encontra uma arca cheia de ouro”. “É verdade que aquela muié esparramada, que mora ali perto da Laje e eu tem uma cara esquisita, vira mula sem cabeça na época da quaresma?”. “Pode ver que ela adora goiaba, num pode ver um pé de goiaba. E maltrata tudo que é criação, num tem dó de nenhum bicho”. “Essa muié é o cão chupando manga”.

É verdade que à noite todos os gatos são pardos? E que a assombração sabe pra quem aparece? Por que o cachorro entrou na igreja? Porque encontrou a porta aberta. E por que o cachorro saiu da igreja? Porque encontrou a porta aberta. Não, porque entrou, bobão. Qual é a cor do cavalo branco do Napoleão? Branco. Não, Napoleão não andava à cavalo, tinha hemorroidas…